Já disse aqui que deve ser
terrível, para quem escreve, a falta de assunto. Neste blog isto é minimizado na
medida em que quatro ou cinco autores contribuem com seus posts sempre sob o
mesmo pseudônimo. Eu, como editor, é que controlo as publicações que deveriam
ser diárias, mas nem sempre as produções ficam a altura da proposta.
Vocês não imaginam como isto se
torna, quase sempre, uma árdua tarefa. Esses cinco autores, de quem Narciso
teria distância, sempre acham que devem ser privilegiados na publicação.
O família e amigos sempre considera
que seus assuntos têm prioridade, já que o que tem valor essencial são os
vínculos fraternos. O político, afetado e angustiado, que em Atenas aprendeu
que veio de lá a palavra “idiota”: é todo
aquele sujeito que não se ocupa da política. Tem o cronista que, sob o
enquadre de OLHAR, se mete a opinar sobre fatos e dados do cotidiano e sempre
acha que é isto que os leitores procuram. O crítico de arte é o que mais me dá
trabalho, já que suas abordagens são nada intelectuais, mas viscerais, e ele
também sempre acha que a arte é que transforma e que, portanto, deve ter
prioridade. O corporativo, que tem participado
pouco, acha que seu assunto poderia até ser objeto de atenção dos leitores, mas
ele prefere dar espaço aos seus colegas de redação.
A resultante do conflito de prioridades
me parece que fica explicitado no post mais acessado do blog, aquele em que todos
eles não tinham nada a dizer.
Muito bem. Qual autor deve ocupar o
espaço de hoje?
Isto me fez lembrar de Pirandello, dramaturgo que escreveu: “Seis personagens a procura de um autor”, um texto primoroso.
Ontem o post publicado, de manhã,
recebeu o título de FOGO. Até agora estou sem entender porque, lido o conteúdo.
Ocorre que, no início da tarde, me deparei com uma nuvem densa de fumaça vinda
da mata, acionei a vigilância do condomínio que me retornou dizendo que focos
de incêndio tinham iniciado na segunda-feira e que eles estavam atentos.
No início da noite o fogo
alastrou-se e tomou proporções perigosas. Oito pessoas que prestam serviços ao
condomínio embrenharam-se na mata e, na medida do possível, tentaram controlar
a expansão da queimada.
Fui para próximo e confesso que
fiquei angustiado. Um sentido primitivo tomou conta de mim e eu me pus a olhar
para o céu e pedi repetidas vezes que chovesse, sem muita esperança uma vez que
estrelas insistiam em brilhar.
Por volta das dez horas da noite
ela veio majestosa, lenta, fina, fria e suficiente. No início da madrugada
tornou-se mais densa, forte e intensa, lavando o dia insalubre, a poeira, o
gosto áspero da garganta. E, sobretudo, apagou todos os focos de incêndio.
Hoje cedo, os autores deste blog me
disseram que eu me tranquilizasse: todos de acordo com a idéia para o post de
hoje. Escrever é um incêndio de mata interior e só se debela quando fica
cristalino.
Até breve.
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