quarta-feira, 3 de outubro de 2012

AFINS


Meu escrever é visceral. Não sou artesão da palavra. Não trabalho com idéia estabelecida previamente. Deságuo sobre o texto sem elaboração anterior. Depois que me leio é que fico ali tentando descobrir o que foi escrito.

Por isto acho que me inscrevo.

Ontem, por exemplo, só coloquei o título do post depois de tê-lo terminado. FIM. Não deveria aqui fazê-lo, mas vou. Interpretar um post. Na viagem que fizemos juntos este ano à Espanha eu disse para o Lé (meu filho mais velho) que eu gostaria em algum momento fazer uma coletânea dos posts e elaborar uma interpretação do que foi produzido. Ele me disse:

- Não pai, não faça isto. Deixe que outros façam por você. Escreva, apenas.

Hoje vou contrariá-lo, novamente como fiz em outro post recente.

Qual a função do velho? Pergunto no post. O que está velho é tudo aquilo que está próximo do fim e/ou tem história para avaliar finalidade. Percorro nas linhas do texto essa dupla idéia: a finitude e o sentido.

Ontem liguei no celular para o Julinho:

- E aí, Julinho?

- Beleza!

- Você está no trânsito?

- Estou indo trabalhar... Alguém precisa trabalhar, né... Eu não sou aposentado.

Hoje me deparei com seu comentário (em FIM) onde Julinho coloca que queria se “redimir” da brincadeira de eu enquanto aposentado. Camileta, por sua vez, em outro comentário diz que há “um modo interessante de se tratar a velhice”.

Julinho e Camila são meus sobrinhos e afilhados. De Júlio e Mônica chegou Leozinho e de Camila e Leandro chega em janeiro do ano que vem Matteo.

Essa completude diz respeito e dá sentido àquele que se torna velho. É muito prazeroso sim, Camila, tornar-se velho e capaz de distinguir o que verdadeiramente vale e porque se viveu até aqui.

O fim de ‘’finitude” é óbvio (no futuro todos nós morreremos). O fim de “finalidade” é uma busca. E eu não mereço, especialmente de vocês dois, esse complemento ao meu texto.

Estou, de fato, mudando o meu papel na cena e atuo como aprendiz de um novo enredo. E não serei só triavô como já me chamou o Julinho. Só que não posso mais falar porque não querem sobre isto rodapé de posts. Querem um post inteiro.

E terão.

Dane-se a interpretação!

Muito obrigado, Lé.


Até breve.

2 comentários:

  1. Um outro gênio, neste caso do Jazz, foi questionado sobre o que iria tocar. Miles Davis respondeu "I'll play first and tell you what it is later."

    Lozinho,
    parece que você padece deste mesmo "problema". Para se realizar o artista precisa de plena liberdade, e esta liberdade é conseguida com coragem, com raiva, com energia.

    Isso mesmo...Dane-se a interpretação!

    abraço.

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    1. Julinho, todos nós temos a vocação por ser mais. A questão são as nossas trágicas desistências de ser.Abraço.

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