Recebi recriminações familiares
pelo post. De Pretinha, obsceno e de Lé: “Vão censurar seu blog”.
Estou lendo o Relatório Anual de
2011, da “Médicos sem Fronteiras”,
instituição que presta serviços humanitários pelos quatro cantos do planeta.
Dôo mensalmente uma quantia irrisória ao seu orçamento comparada à magnitude do
trabalho que ela presta. Em 2011 eles contaram com 328,6 milhões de euros, 54%
do total arrecadado foram utilizados somente para ações na República Democrática do Congo,
Haiti, Sudão do Sul, Somália, Etiópia, Niger, Quênia, Zimbábue, Nigéria e
Chade.
O Relatório presta contas das ações
empreendidas nos diferentes países atendidos. Por exemplo: a MSF em ABECHE,
pais do continente africano, realizou duzentas e vinte e duas cirurgias para
reparar fístulas obstétricas – ruptura no canal vaginal que causa incontinência
e, por vezes, exclusão social. Em JIGAWA, na Nigéria, foram trezentas e noventa
destas cirurgias.
Não acho que deva aqui continuar apontando
dados do Relatório porque eles sim são chocantes.
O que me parece relevante é
problematizar a questão que o episódio na ABL suscita. A palestra censurada
estava inclusa no ciclo “O futuro não é
mais como era”. Vamos a passos largos para a Inquisição, então?
Continuaremos encobrindo fecundos
crimes hediondos sobre o véu da moral e dos bons costumes? Ensinaremos as
crianças que é “feio” falar palavrões, especialmente significantes com
significados maléficos como esse objeto de censura?
Encobriremos vestes, especialmente
das mulheres, para que não seja exposta carne, esse depositário do demônio? Não
faremos mais amor e nem sexo e nem cópula e nem foda (me perdoem) com nossas
mulheres nuas em pelo, mas cobertas pelas suas sacrossantas camisolas?
Não construiremos anedotas,
condenaremos nossa infância, e baniremos Joãozinho para a Sibéria Glacial?
Nem
venderemos revistas com celebridades photoshopostadas para que jovens não
corram para banheiros?
Faremos congressos científicos para
pesquisarmos sobre o órgão reprodutor feminino, seus odores, sua configuração e
suas funções reprodutivas, e só?
Revistinhas de sacanagem, quadros
de Picasso e Di Cavalcanti, filmes pornô ou com cenas explícitas e seus nus
abomináveis serão queimados em praça pública diante de expectadores eufóricos?
Chanel, Valentino, Dior, Versace, Vuitton,
Galtier, Saint Laurent, de Givenchy, Lacroix, Armani, Prada, Ferré, Cavalli,
Dolce&Gabbana, Gucci, Rabanne, Galliano, Herrera, Klein, Karan, Lauren, e tantos outros, vivos ou mortos serão
execrados e, como Joãozinho, banidos para a Sibéria Glacial?
Imagens de santos e santas nas
igrejas serão esmigalhadas para que aqueles olhares orgásticos sejam banidos do
humano, terreno, mortal e eterno pecador?
O futuro então nos tornará afinal
puros? A razão fundamental do caos presente na Política, na Moral, na Religião
e nas Leis decorre da deslavada e escandalosa forma e pública com a qual
lidamos com significantes e seus significados abomináveis? É assim, tão
simples?
Imortais da Academia Brasileira de
Letras? Eu não. Prefiro ir para os infernos, com buceta na boca.
Entre Guilhotina e fuzilamento
sumário prefiro garrote vil.
Até breve.
Apoiado!
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