Quem olhe pelas janelas dos
apartamentos vizinhos deve se encantar, embora não consiga ver tudo o que se
passa.
Ontem, por exemplo, foi possível
assistir a uma cena. A jovem sentada na poltrona da sala, de quando em vez se
levantava e, numa coreografia que se assemelha à caça de borboletas, dava
saltos e com as mãos parecia querer capturar insetos.
Eu, que assistia e participava in loco da cena, tentava acalmar a jovem
em sua empreitada.
- Pretinha, mas é só um
pernilongo...
- Fecha a porta da sala, pai.
- Por que, filha?
- Ele pode ir para o quarto da Liz.
Assim tem sido. Vinte e quatro
horas de dedicação exclusiva. Maternidade pura e plena.
- Pai, não brinque com ela quando
ela estiver querendo dormir.
- Ela está querendo brincar, minha
filha... Está olhando prá mim...
- Mas não brinque... Cante mais
baixo, pai, senão você excita a menina e ela não dorme... Não balance muito,
pai, ela acabou de mamar...
- Eu não estou balançando, filha, eu
estou ninando...
- Ande só... Devagarinho. Você não
vai descer as escadas com ela dentro do carrinho não, vai pai? Pai, põe o
carrinho lá embaixo, depois vem buscar a Liz... É perigoso... Não deite ela assim
não... Deixe ela de pé no seu colo... Depois que ela arrotar aí você pode
deitá-la.
Vocês poderão considerar excesso de
proteção por parte de Pretinha. Não é não, é pior. É puro afeto. Muito pouco
tem interessado a ela do que não seja relacionado à filha.
Eu já disse aqui inúmeras vezes de
quanto sou grato à vida, mas nada me dá mais motivos para fazê-lo do que estar
podendo, diariamente, salvo poucas ausências, acompanhar o desenrolar de
Pretinha enquanto mãe.
- Pai, essa noite ela dormiu cinco
horas seguidas... Pai, ela agora já acompanha a gente com o olhar.
- Sei, e eu posso brincar com ela?
- Só quando eu disser.
- Tá bom.
- Ela é uma belezinha, não é vovô?
- Líndica!
Eu imaginava passar por uma experiência
extraordinária com minha neta. Só que, antes de ser com Liz, tem sido com minha
filha Pretinha.
- Pai, com quantos meses eu poderei
engravidar novamente?
- Sua mãe ficou grávida de você
depois de cinco meses do nascimento do Lé.
- É. Foi mesmo.
Tipo do diálogo que me interessa.
Até breve.
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