Na verdade fiquei os últimos dois
dias gastando a vida com assuntos domésticos, embora com o espírito ocupado com
os dois comentários que recebi no ÔCEAÍ.
Ontem fui visitar a obra de
construção da residência de uma amiga e de sua filha.
Essa amiga contrariou tudo o que se
possa imaginar. Ninguém aplicaria a soma de recursos que ela está colocando no
projeto. Ninguém executaria um projeto com tamanha envergadura. Não é um lugar
que caiba, não é uma região compatível, não é um espaço de convivência que se
aplique.
- E eu com isso? Resolvi fazer aqui o lugar que eu vou passar os últimos
e melhores dias da minha vida. Serão intensos.
O terreno tem vinte mil metros
quadrados. Ela só não colocou a mão em quinze por cento dessa área, nos quais
verdejam matinhas nativas. Os demais dezessete mil metros quadrados foram todos
mexidos, revirados, terraplenados, nivelados, plantados e replantados.
A configuração do terreno era
acidentada e o projeto implicou em formação de platôs e bancadas e estruturas
em concreto lançadas no vazio para uma vista fascinante com amplitude, eu
suponho, de duzentos e cinqüenta graus.
A casa é composta por duas
moradias, a outra é para sua filha que divide com ela pau-a-pau o sonho (vinte
e quatro horas por dia). A construção é contígua com as moradias ligadas, em vão
livre, por uma coberta em laje maciça, pesa algo como quarenta toneladas e tem
nove metros de pé direito. A construção da casa está plotada em um dos platôs com
quatro mil metros de superfície plana. Há ainda uma maravilhosa edificação, em três níveis, destinada ao complexo de lazer e dependências de hóspedes.
Ousadia.
Esta visita roubou parte do tempo
que eu dedicaria aos últimos preparativos para a vinda de Liz, pela primeira
vez, à sua casa de Santa Luzia. Prateleiras para a colocação de bonecas e
bonecos, bichinhos e menininhas de pano com seus vestidinhos rodados. Bercinho,
extensões elétricas para abajur e babá eletrônica.
Como eu já havia imaginado, Liz
preenche um imenso espaço e cobra uma exclusividade absoluta. Tudo me circula em
torno dela.
Hoje a bomba hidráulica que puxa
água para a caixa d’água da parte superior da nossa casa deu tilte. Com isso me mobilizei tipo três horas. Felizmente
conseguimos reparar o problema e voltamos à situação normal de abastecimento.
Penso que me bate no sangue um
gosto por isto. Assim, abandonar-me e, às vezes, me deixar levar pela vida.
Cuidar daquilo que me concerne, contribuindo para buscar disponibilizar um espaço
de convivência onde haja, essencialmente, alegria.
À tarde joguei futebol e senti
juntas, costas e a sola do pé.
Agora à noite, quando me debrucei
sobre o computador, concluí que meus comentaristas têm razão.
Até breve.
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