terça-feira, 14 de agosto de 2012

PARALELO




Assisti a uma entrevista do Rubem Alves. Nela ele diz que escreveu o livro "Ostra feliz não faz pérola" para aludir a idéia de que há de existir angústia para vir produção. Não fosse um grão de areia que nela penetra a ostra não se incomodaria a ponto de tornar esse grão de areia em pérola.

É dele também a idéia de que não se deve nutrir esperança "por causa de", mas "à despeito de”.

Para Fernando Pessoa o homem é um cadáver adiado.

Essas citações remeteram-me ao mal estar que dá escrever. Sinto que escrever é evadir-se de algo que procura verbo.

Estive durante a tarde de hoje conversando com um ex-executivo e que atualmente atua como consultor  de estratégia em um setor específico. Brilhante o sujeito. Ao longo de toda a conversa ele varreu inúmeras áreas do conhecimento não só organizacional, mas político, econômico, social, filosófico, artístico entre outras. 
Confesso que fiquei meio zonzo e, ao mesmo tempo, preocupado. Eu não sei nada sobre o que ele falou e isto me deu a sensação objetiva de que passei.

Passei assim: num tenho mesmo mais saco para discurso, especialmente os engajados na militância corporativa e acadêmica.

Depois desses anos todos atuando em organizações de diferentes portes, setores, estrutura de capital, os cambau, eu sou hoje obrigado a reconhecer que 99,987% do discurso é absolutamente vazio, mas seduz e leva até gente de peso à orgasmos múltiplos.

O pouco do que se aproveita é, ainda bem, óbvio. O que permite às pobres organizações utilizarem.

O que isso tem a ver com Rubem Alves, Fernando Pessoa, ostra, pérola, cadáver? Quase nada, mas que são citações legais, refinadas, poludas, ah isso são. E seduzem.

Ainda milito em Conselhos não por causa de, mas à despeito de.

Discursos.

De fundo, só vi sucesso na ralação. Fazendo prática teoria. Areia >>> Pérola.


Até breve.


3 comentários:

  1. Que porrada!!
    Eu vivo no meio da buRRocracia, dos planejamentos sem pé nem cabeça, do jogo político, do jogo de poder...isso tudo e mais um pouco engrossam a estatística dos 99,987%.

    Queremos fazer acontecer, queremos produzir pérolas, mas são tantos entraves, tantos discursos, tanta falta de transparência!
    Desanimo. Respiramos fundo e percebemos que estes entraves na verdade podem ser as pedras que precisamos quebrar.

    Obrigado pela inspiração, pois precisamos cada vez mais de transpiração!

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  2. O não conhecimento sobre tudo é o impulso para dar continuidade, para buscarmos um pouco mais.. os discursos deixam sim, impulsos, para a procura da pérola.. areia é necessária, faz parte. Quanto ao cadáver, vamos sim chegar lá.. mas até lá.. temos muito por aqui.

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  3. http://www.youtube.com/watch?v=BnYvvN_zZM4#!

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