Adriana Varejão e outros artistas
de igual e/ou maior calibre não têm razão. Estou mais com Ney Matogrosso e
Brecht. A arte tem função e negá-la ou não reconhecer pode redundar em grande
equívoco. Eduardo Galeano também está correto quando diz que o território
artístico serve ao ego inflado dos próprios artistas e suas pavonices.
Reside aqui, então, o grave.
O movimento hippie que nasceu para
negar o que estava posto, especialmente a guerra do Vietnam, foi um dos
movimentos de arte mais expressivo do Sec. XX. “Faça o amor, não faça a guerra”, foi um dos versos ou inscrição
panfletária que mais fizeram a cabeça do planeta jovem. A minha, inclusive.
E todos éramos pavões, sim.
Lembro-me com os cabelos aos ombros, barba por fazer, chinelos (de couro) de
dedo com sola de pneu, sacola de pano surrada e, quando ouvíamos algo que tinha
a ver, a gente completava: falou e disse.
Assim como o movimento de arte
hippie outro movimento de arte surge e se expande na mesma época e com
brilhantismo acachapante: o marketing de massa. As grandes indústrias, bancos,
companhias de cigarro e bebidas contrataram inúmeros brilhantes artistas:
redatores, desenhistas, arquitetos, diretores de arte, cineastas, roteiristas,
músicos, sonoplastas, fotógrafos que, com sua extraordinária capacidade de
comunicação satanizaram com o que era puro, quase ingênuo. Nosso inconsciente
coletivo nutria uma puta de uma utopia. É da época, Imagine de John Lennon.
Fuderam com tudo.
A vida passou a ser o carro, a
casa, a conta no banco, a salsicha, a margarina, o corpo, o aparelho de TV, de
som, a geladeira. A vida foi embalada enquanto coisa e com ela a vida.
Fim da Guerra Fria, queda do muro
de Berlim, cirandas de excedentes financeiros, tecnologias desembarcadas da
Guerra nas Estrelas (microondas, celulares, etc.) deixamos o Sec. XX certos de
que XXI seria maravilhoso.
Os artistas no ou do marketing
produziram um olhar para a vida, para a política, para tudo que nos cegou o
espírito. O único fenômeno verdadeiramente global é o consumo.
Não tem aqui nenhuma mágoa ou
ressentimento. Talvez inveja, já que foram muito mais competentes do que
aqueles que, não dando conta ou para não compactuar com a sordidez, abandonaram sua
arte, sua utopia e foram fazer carreira no sistema para criar família e
sobreviver.
Inveja porque há brilhantismo na
arte do engodo, da falácia, da mentira. E há que respeitá-los, mantendo a
dignidade. O duro do princípio da liberdade é que deve haver espaço ao adverso,
ainda que torpe.
Michel Teló, esse artista que conta
hoje com mais de 480 milhões de acesso no You Tube faz a cabeça do planeta
jovem. Penso que não há como não reconhecer que a arte é sim a alavanca para a
transformação da realidade ou mesmo serve a manutenção do status quo.
Ver o alcance de Michel Teló me
corrói o espírito, porque no mesmo veículo de comunicação ( You Tube)
entrevistas de Adriana Varejão, Eduardo Galeano, Manoel de Barros, Chico
Buarque de Holanda, Ferreira Gullar, Ángelles Mastretta, Fernando Trueba, Jorge
Castañeda, Fernando Morais, Walter Carvalho, Leonardo Boff, Aderbal Freire
Filho, Paulo José e uma outra pancada de outros artistas não somam, no
conjunto, 500 mil acessos.
Ainda bem que minha micro-realidade
compensa: lá na casa da Dindinha, ela soube hoje no ultrassom, o neném vem com
peru e vai ser Galo. Falando nisso, Liz ganhou ontem do pai um vestidinho.
Hoje, tomou o seu primeiro banho de sol.
Puro marketing.
Até breve.
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