quinta-feira, 16 de agosto de 2012

APONTAMENTOS



João Cabral de Melo Neto, já muito velho, resolveu não mais escrever. Estava ficando cego. Belo dia surgiu um amigo que lhe perguntou por que ele, João Cabral, não gravava os seus poemas e depois pedia a alguém para transcrevê-los.

- “Não é possível sem eu ver os desenhos das letras.”

A minha dificuldade é semelhante. Não consigo escrever direto no laptop ou, agora, no IPad. No IPhone, sem chance.

Adriana Varejão disse que a arte não tem função. O ofício de artista é como o de outro profissional qualquer. A arte não tem nenhum papel especial e jamais poderá ser entendida como capaz de transformar a realidade.

Para Ney Matogrosso, no entanto, a arte transformou a sua vida. Não fosse a música ele teria ficado louco.

Para Eduardo Galeano o mundo não está feito de átomos, o mundo está feito de histórias, porque são as histórias que a gente conta, que a gente escuta, recria, multiplica são o que permitem transformar o passado em presente e que, também, permitem transformar o distante em próximo, possível, visível.

Para Galeano as pessoas que mais dor sentem ao viver, as pessoas mais sensíveis são as mais vulneráveis. Em contrapartida, existem aquelas que se dedicam a atormentar a humanidade, vivem vidas longuíssimas, não morrem nunca, porque não têm uma glândula que na verdade é bem rara e que se chama consciência. É a que nos atormenta pelas noites.

Lá, na minha infância, eu estava convencido de que tudo o que na terra se perdia, ia parar na lua. No entanto, os astronautas não encontraram na lua sonhos perigosos, nem promessas traídas, nem esperanças estilhaçadas.

Se não estão na lua, onde estão?

Será que na terra não se perderam?

Será que na terra se esconderam?

E estão esperando, esperando por nós?

Liz foi hoje à pediatra. Pesou três quilos e mediu cinqüenta centímetros.


Até breve.

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