quinta-feira, 30 de agosto de 2012

BREVES




Teve o gol de Ronaldinho Gaúcho do Galo no Cruzeiro, domingo. Uma pintura.

Teve o gol de Cristiano Ronaldo do Real ontem no Barça. Outra pintura.

Quem não saca futebol acha fácil. E é mesmo. Basta ter aquele talento.

Ambos de times adversários aos meus.

Adoro futebol.


Teve a sessão de ontem do mensalão. Uma pintura.

Quem não acredita, acha armação. Não é mesmo. O juiz que se aposenta deixa raízes profundas na esperança.

Tem a extraordinária recuperação do jovem filho de um grande amigo. Baleado em assalto na última quinta-feira.

Tem um filme em cartaz. Tudo bem, americano, vá lá. Um divã para dois.
Meryl Streep e Tommy Lee Jones em interpretação impagável.
É possível uma proposta a dois. Duradoura.
Imenso desafio.
Inestimável compensação.

Teve o nascimento do Leozinho do Julinho e da Mônica. Ele tá na maternidade, ainda, pegando energia para vir com tudo.

Tem cinco bulbos plantados em um pequeno vaso em nossa casa de Santa Luzia. Daqui a algumas semanas: Flor de Liz.

Tem Liz.


Até breve.


terça-feira, 28 de agosto de 2012

OBRA



Já tenho ingredientes para sustentar a trama de um romance.

SEXO. A narrativa envolverá desde exposições de nus, tanto femininos quanto masculinos, com todas as variações possíveis de utilização de partes ou do todo destes corpos em diferentes estados de conservação no gozo de práticas libidinosas com nuances de erotismo e assemelhados.

VIOLÊNCIA. Corpos mutilados e dessangrando aos borbotões em toda sorte de martírios ou espetaculares e mirabolantes rajadas ou explosões. Caberão neste lugar ainda, reflexos advindos de desigualdade étnico-religiosa, ou econômica ou de gênero em que, por diferentes razões e circunstâncias, algozes subjugam vítimas indefesas.

CRIMES E CONTRAVENCÕES envolvendo negociações de papeis de diferentes quilates. Papeis-moeda, contratos inclusive de matrimônios, de propriedade particular ou coletiva, cheques, títulos nominativos, quaisquer outros documentos que envolvam direitos e/ou deveres com alcance econômicos e/ou financeiros implicando em fraudes.

PRIVACIDADE. Aviltamento do espaço alheio, especialmente os mais íntimos, aqueles que lençóis encobrem. Não deverão faltar corredores corporativos ou palacianos com seus segredos inconfessáveis.

Nas bordas da trama, para costurá-la, uma engenharia narrativa ligando enredos e personagens que se entrelaçam e se intercomunicam desaguando em epílogo surpreendente em que tudo se explica.

A idiotia do bem não faltará, mas com certo cuidado de abordagem para que não haja identificação de leitores à procura de compensações.

Um pouco de paisagens (extraídas de minhas viagens e outras produto de minha imaginação) com ênfase nas mais exóticas.

Ritmo acelerado da narrativa permitindo que o leitor esgote o texto em uma sentada de final de semana.

Preço: R$39,90

Best Seller com chances a contrato antecipado de estúdios de cinema para adaptação para a telona.

Corta!

Melhor escrever sinopse para teste na escola de dramaturgia da Globo.

Incluirei piriguetes.


Até breve.


domingo, 26 de agosto de 2012

DITADO




“Você é a nossa única esperança, o imperador do mundo.

Desculpem, mas eu não quero ser imperador, esse não é o meu ofício. Eu não quero conquistar e nem governar ninguém. Eu gostaria de ajudar todos sempre que possível: judeus, não judeus, negros e brancos. Todos nós queremos ajudar uns aos outros. O ser humano é assim. Nós queremos viver da felicidade dos outros, não do sofrimento.

Não queremos odiar e desprezar uns aos outros.

Nesse mundo tem lugar para todos. A terra é boa e rica e pode alimentar a todos. O estilo de vida poderia ser livre e lindo, mas nós nos perdemos no caminho. A ganância envenenou a alma do homem, criou uma barreira de ódio, nos guiou no caminho de assassinato e sofrimento.

Nós desenvolvemos a velocidade, mas nos fechamos em nós mesmos. Máquinas que nos dão em abundância, nos deixam em necessidade. Nosso conhecimento nos fez cínicos, nossa inteligência nos fez cruéis e severos. Nós pensamos muito e sentimos pouco.

Mais do que máquinas, nós precisamos de humanidade. Mais do que inteligência, nós precisamos de carinho e bondade. Sem essas qualidades a vida será violenta, e tudo será perdido.

O avião e o rádio nos aproximaram, a natureza dessas invenções grita em desespero pela bondade do homem. Grita pela irmandade universal e a unidade de todos nós. Mesmo agora que minha voz está alcançando milhões pelo mundo, milhões de homens, mulheres e crianças desesperadas, vítimas de um sistema que faz o homem torturar e prender pessoas inocentes.

Para aqueles que conseguem me ouvir, eu digo: não se desesperem. O sofrimento que está entre nós agora é só a passagem da ganância, o amargor do homem que teme o progresso humano. Ó ódio do homem vai passar, e os ditadores morrerão. E o poder que eles tomaram das pessoas, vai retomar para as pessoas.

Enquanto os homens morrerem, a liberdade nunca se acabará. Soldados, não se entreguem a esses homens cruéis. Homens que escravizam e desprezam vocês, que querem reger suas vidas, e te dizer o que pensar, o que falar e o que sentir, que treinam vocês e tratam com desprezo para depois serem sacrificados na guerra. Não se entreguem a esses homens artificiais. Homens-máquina, com mente e coração de máquina.

Vocês não são máquinas, vocês não são desprezíveis. Você é homem. Você tem o amor da humanidade em seu coração. Vocês, as pessoas, têm o poder! O poder de criar máquinas, o poder de criar felicidade. Vocês, as pessoas, têm o poder de fazer essa vida linda e livre, de fazer dessa vida uma aventura maravilhosa.

Então em nome da democracia, vamos usar esse poder, vamos todos nos juntar! Vamos lutar por um mundo novo. Um mundo decente, que vai dar ao homem uma chance de trabalhar, que vai dar o futuro a juventude e a segurança aos idosos.

Prometendo isso, os cruéis vieram ao poder, mas eles mentiram, não cumpriram sua promessa. Ditadores libertam eles mesmos, mas eles escravizam as pessoas. Agora vamos lutar para cumprir essa promessa. Vamos lutar para libertar o mundo, para sumir com as barreiras nacionais. Para sumir com a ganância, o ódio e a intolerância. Vamos lutar por um mundo de razão.

Um mundo em que a ciência e o progresso vão levar à felicidade de todos.”

Charles Chaplin, O grande ditador, 1940

É que ontem eu recebi uma crítica a propósito de meus posts que me calou fundo. Meus textos são muito pueris, sem elaboração, Ivo viu a uva. Casualmente assisti, também ontem à noite, pela enésima vez, à Chaplin.

Pois é.


Até breve.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

BOLETIM



Liz está bem. Muito bem. Sobre ela há pouco a acrescentar, exceto que começa a lançar seus primeiros sinais de identidade.

Ontem ela foi fazer exame de audição. Se pudesse já teria reclamado apenas das cantigas de ninar do vovô, especialmente do volume.

Hoje ela visitou a pediatra. Recebeu recomendação para fazer regime para silueta somente mais tarde, quando estiver moça, com seus dois quilos a mais. A partir de hoje, além das refeições normais deve tomar leitinho em pó NAM. A primeira mamadeira foi de leoa: AAAARRRRMMMM...

Pretinha não gosta muito, diz que é cedo, mas eu fico achando que Liz já me reconhece. Acompanha-me com os olhinhos. Vou passar a andar mais bem cuidado. Vai que ela não goste do que vê.

De minha parte, quando ela abre todos os olhinhos e os fixa nos meus, minhas pernas tremem. Eu acho que é paixão e daquelas bravas.

Pretinha é só cuidados, mas me disse hoje que quando Liz estiver ali pelos nove, dez meses eu vou poder afinal brincar mais com ela. Para quem esperou tanto, mais nove meses não são nada.

Eu achei que quando Liz chegasse eu ia preterir minha Pretinha, dar menos atenção. Mas, não. Eu ando muito ocupado observando como ela materna. Um barato. 

Pretinha e Claudinho são outros. Agora são um de fato: em Liz.

O apartamento deles é outro, tomado em todos os espaços pela presença. De Liz.

Nossa vida é outra.


Até breve.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

REGA



Ainda sobre o texto de ontem.

Vocês podem não concordar, mas de todos os posts GRÃO foi aquele que mais se aproximou do propósito do blog, se é que o dasletra tem algum propósito, claro.

E eu não deveria, mas vou dizer por quê.

Ontem eu havia acabado de concluir a ata de uma reunião da qual participei na segunda-feira e iniciei o procedimento para desligar o meu laptop. Suspendi o processo e retornei à tela.

Todos, praticamente todos os posts foram escritos à mão e depois digitados.

Grão, não.

Escrevi a primeira frase num repente: como escrever algo útil? Alguns breves minutos depois eu estava digitando a última frase do texto: Até breve. Assim de um fôlego, como se o post já estivesse pronto e eu apenas o transcrevi. Sem rascunho ou correções. Nenhum ajuste. De sola.

Precisava de título e veio Grão.

Depois que o havia postado li uma única vez e, como sempre faço, saí do programa do blogger, olhei e.mails, fiz minha contabilidade diária e desliguei a máquina. Só hoje comecei a me dar conta do que eu possa ter escrito.

Grão.

Será que todo mundo que atinge a minha idade passa por isto? Ou será já subproduto da chegada de minha netinha? De que semente eu falo? E com que tamanha pretensão a ponto de fazer parar e pensar o Homem.

Será que esse desejo de marcar passagem é próprio dos que envelhecem, aqueles que se olham no espelho e já não está ali o jovem que sempre teria sido? Será que é a chama, e que chama, que catapulta para novos anos?

Ou será medo do inevitável: o tempo? Implacável.

Quando refletia hoje ao longo de todo o dia sobre GRÃO cobrei-me por anos passados, por ter me abdicado da tarefa que sempre pulsou meu coração, esta pela qual transito agora. Não que me arrependa, não fará sentido.

É que sempre habitou em mim, para além do operário que funcionalizou a vida, um senso de tarefa a realizar que me ultrapassa, me governa e não me deixa desde os meus primeiros anos da adolescência.

Tenho compartilhado com alguém muito próximo de mim que, com muito carinho e cuidado me ouve e faz eco, me ajuda a arquitetar o blog, dá asas a tarefa, acredita. Trocamos breves impressões sobre os textos, temo aprofundar-me e torná-lo cúmplice.

Quem sabe não será ele, grão? Pelo menos, um deles.


Até breve.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

GRÃO




Como escrever algo que seja útil?

Verdadeiramente útil. Mais necessário do que uma bula de remédio ou um enunciado científico que salve vidas. Melhor que um roteiro turístico ou uma norma de procedimento em caso de incêndio, ou mesmo um guia prático sobre como desembrulhar pacotes.

Algo que sirva, mas não funcionalmente, como estes escritos por fabricantes e profissionais de serviço ao consumidor, cliente. Não um manual de usuário, nem uma cartilha de vacinas, nem tampouco jornal ou revista de relatos noticiosos do que se passa ou de cotidianos de celebridades.

Algo que seja imperioso, vital. Não relatórios analíticos, teses de doutorado, mestrado, monografias, pareceres de causídicos, sentenças judiciais de todas as instâncias. Nem petições, certidões negativas ou positivas, nem atas, nem pautas, nem rascunhos de cartas, nem correspondências internas ou externas.

Algo que seja determinante, ímpar. Não bilhetes com recados inclusive os de paixão, ainda que exacerbada. Não. Nem catálogos de qualquer natureza, inclusive o telefônico com os números do Corpo de Bombeiros, Ambulância, Polícia, ou disque denúncia.

Como escrever algo que fique inscrito e de tal sorte que jamais será esquecido ou perdido, roubado, incendiado, censurado, rasgado, apagado, adulterado, vilipendiado, vandalizado?

Não convites, inclusive os de casamentos. Nem diplomas, honra a qualquer mérito, nem certificados de qualquer feito.

Não livros, inclusive os de auto-ajuda ou de marketing pessoal, esses mais úteis e mais lidos. Nem os de liderança, inclusive com sete ou mais hábitos. Nem tampouco os de estratégia, com novos entrantes e suas artimanhas. Não, livros de aeroporto, não.

Também não livros Best Sellers, sagas ou trilogias ou mais dos que três logias. Nem estórias ou histórias, nem novelas. Mesmo as religiosas, inclusive a Bíblia, Alcorão, e outras que tais. Antologias também não. Roteiros de cinema, nem peças de teatro, nem biografias, nem obras póstumas. Sequer obras de ficção.

Poesias também não, mesmo as de Neruda ou de Manoel de Barros, inclusive.

Como escrever algo?

Que faça com que o Homem afinal pare e pense.


Até breve.



domingo, 19 de agosto de 2012

ISPERTOS



Ontem, final da tarde, fomos lanchar na casa de Elde e Elia. Fazemos esse programa há vários anos, pelo menos uma vez a cada mês. Às vezes ocorre de se repetir com maior freqüência, às vezes se espaça. Mas é um programa incorporado à nossa vida.

Elde e Elia são amigos do condomínio em Santa Luzia. Frequentava os lanches, aos sábados, outro casal amigo: Laza e Cid. Laza e Cid mudaram-se há coisa de uns dois anos.

Enquanto estávamos os três casais vivemos momentos inesquecíveis, aos sábados. As mulheres tricotando suas intrigas, maledicências, cortes e costuras e outras feminices. Nós, os três, nunca tivemos uma conversa que pudesse ter enriquecido o espírito ou à inteligência, mas o fígado por força daqueles momentos ganhou sobrevida.

Elde é um sujeito ímpar pela sua ingenuidade e Laza um canalha. Essa composição juntando à minha ironia perversa dava uma combustão extraordinária. Elde era vítima e se servia como tal com maestria. Aprontávamos eu e Laza prá cima de Elde e, como resultante, eram gargalhadas de perder o fôlego.

Qualquer um que não soubesse do patrimônio vivencial do trio, que chegasse inadvertidamente, pensaria que éramos inimigos mortais. Especialmente Laza e Elde, vizinhos de áreas contíguas.

Certa vez esses dois viajaram para o Rio de Janeiro, instalando-se em Copacabana. Passaram o dia inteiro na praia e tomaram todas e beliscaram de um tudo. O garçom trouxe a vultosa conta e apresentou-a a Laza:

- Só isso?!!! Gritou Laza.

O garçom tomou um susto.

- Você sabe quem é aquele sujeito ali? Indagou Laza ao garçom apontando para Elde que, à distância, não participava da conversa.

- Não, respondeu o garçom.

- Tá vendo aquela cobertura... e aquela outra... e aquele prédio mais ali adiante? É tudo do meu amigo ali. Como que você apresenta uma conta tão baixa?

O garçom incrédulo só melhorou quando Laza:

- Amanhã nós vamos voltar aqui e você faça o favor de dobrar o valor da conta pra ele pagar, entendeu? Ele não costa de pagar conta pequena... Tem dinheiro prá ...

Até ontem, Elde não sabe por que no dia seguinte do episódio o garçom só faltou levá-lo a força para que Elde sentasse à mesa do bar em que servia. Laza logo que saiu do bar no dia do episódio teria dito a Elde:

- Esse bar é muito ruim, amanhã vamos a outro.

Noutra viagem, na mesma Copacabana, Laza escolheu aleatoriamente um sujeito e pediu a esse que fosse ao encontro de Elde.

- Ei, o senhor é o Elde?

- Elde? Sou eu, por quê?

- Elde, o grande craque de Divinópolis?

- Eu mesmo.

- Eu não acredito! Estou tão emocionado...

- Como você me reconheceu? Perguntou o idiota do Elde com as mãos nas cadeiras, peito estufado prá frente e com o olhar de celebridade para o sujeito pago pelo Laza para surpreendê-lo.

Noutra viagem ainda, na mesma Copacabana, Laza insistiu para que Elde comprasse um daqueles óculos escuros vendidos por camelôs ao longo da praia. Elde comprou e passou a usá-los. Em certo momento aproximou-se um casal de amigos de Laza, empresários bem sucedidos e famosos no Jet Set carioca. Elde encheu-se de importância quando Laza convidou o casal para sentarem-se junto a eles. Elde fez pose e dirigiu-se ao empresário para fazer uma colocação qualquer, quando as lentes dos óculos Cartian desprenderam-se da armação e acertaram em cheio o rosto do empresário.

Em outra oportunidade, Elde comprou uma garrafa de vinho na padaria próxima ao apartamento em Copacabana onde eles ficavam hospedados. Quando chegou de volta ao apartamento, Elde abriu a garrafa e constatou que o vinho estava estragado. Chamou Laza para ir com ele à padaria para reclamar.

Chegando à padaria, encontraram uma fila imensa e Laza ficou esperando Elde na calçada. Quando Elde chegou à atendente e fazia o maior carnaval por conta da garrafa de vinho estragado ele surpreendeu-se com Laza lá atrás na fila.

- Ô menina! Manda esse cara ir pastar! Quê sujeito mais besta esse... Ô cabeção, libera a fila aí, ô idiota...

Laza é um canalha. Divorciado da primeira mulher havia alguns meses, ele sentiu falta das reclamações da ex-esposa quando ele escapulia para as noitadas. Laza então pediu a uma amiga que ela gravasse em fita cassete os reclames de sua ex-esposa. Assim, quando ele ia sair, já divorciado e morando sozinho, Laza colocava a fita e ouvia a gravação da amiga imitando a ex-esposa:

- Já vai, né seu vagabundo? Vê lá que hora que você vai voltar, viu seu irresponsável?

E quando ele voltava para casa, Laza colocava outra parte gravada:

- Isso são horas de chegar, infeliz?

Só depois Laza ia dormir o sono dos ébrios e livres.

Acabei ocupando-me mais de Laza do que de Elde. De qualquer forma, ontem quando saíamos da casa de Elde depois de nos fartarmos, estávamos já na rua ele saiu com essa?

- Agulhô, você sabe o que me aconteceu hoje?

- Não, o que Elde?

Elde e Elia haviam ido almoçar fora, quando voltaram Elde parou o carro na frente da garage. Acionou o controle remoto e o portão não abriu. Elde desceu do carro e pulou a grade da frente de sua casa já que o acesso só é possível pelo portão da garage. Elia também fez o mesmo e ficou preocupada com o surto psicotérmico do marido que, aos gritos:

- Só faltava essa! Essa merda desse portão não funcionar!

Foram ambos, para se acalmarem, regar o jardim pensando em ter que mandar arrumar o “desgraçado” do portão. Somente na “merda” da segunda-feira quando achassem um “infeliz” de um mecânico para arrumar a “porra” do portão, além do que o “porcaria”do carro teria que dormir na “bosta” do sereno.

Refeitos do desgaste, regadas as flores do imenso e maravilhoso jardim, Elde colocou-se de frente ao portão do lado de dentro da casa e acionou o controle remoto.

- Elia, a merda do portão abriu!!!

Nosso condomínio fica dentro de uma mata. Agosto venta muito. Com freqüência há problemas na rede elétrica por força de galhos que colidem com a rede fazendo com que as chaves de segurança do sistema se desarmem. Ontem aconteceu. Pouco tempo depois, a companhia recuperou o defeito.

A besta esqueceu-se de que o portão é eletrônico.


Até breve.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

FUNÇÃO


Adriana Varejão e outros artistas de igual e/ou maior calibre não têm razão. Estou mais com Ney Matogrosso e Brecht. A arte tem função e negá-la ou não reconhecer pode redundar em grande equívoco. Eduardo Galeano também está correto quando diz que o território artístico serve ao ego inflado dos próprios artistas e suas pavonices.

Reside aqui, então, o grave.

O movimento hippie que nasceu para negar o que estava posto, especialmente a guerra do Vietnam, foi um dos movimentos de arte mais expressivo do Sec. XX. “Faça o amor, não faça a guerra”, foi um dos versos ou inscrição panfletária que mais fizeram a cabeça do planeta jovem. A minha, inclusive.

E todos éramos pavões, sim. Lembro-me com os cabelos aos ombros, barba por fazer, chinelos (de couro) de dedo com sola de pneu, sacola de pano surrada e, quando ouvíamos algo que tinha a ver, a gente completava: falou e disse.

Assim como o movimento de arte hippie outro movimento de arte surge e se expande na mesma época e com brilhantismo acachapante: o marketing de massa. As grandes indústrias, bancos, companhias de cigarro e bebidas contrataram inúmeros brilhantes artistas: redatores, desenhistas, arquitetos, diretores de arte, cineastas, roteiristas, músicos, sonoplastas, fotógrafos que, com sua extraordinária capacidade de comunicação satanizaram com o que era puro, quase ingênuo. Nosso inconsciente coletivo nutria uma puta de uma utopia. É da época, Imagine de John Lennon.

Fuderam com tudo.

A vida passou a ser o carro, a casa, a conta no banco, a salsicha, a margarina, o corpo, o aparelho de TV, de som, a geladeira. A vida foi embalada enquanto coisa e com ela a vida.

Fim da Guerra Fria, queda do muro de Berlim, cirandas de excedentes financeiros, tecnologias desembarcadas da Guerra nas Estrelas (microondas, celulares, etc.) deixamos o Sec. XX certos de que XXI seria maravilhoso.

Os artistas no ou do marketing produziram um olhar para a vida, para a política, para tudo que nos cegou o espírito. O único fenômeno verdadeiramente global é o consumo.

Não tem aqui nenhuma mágoa ou ressentimento. Talvez inveja, já que foram muito mais competentes do que aqueles que, não dando conta ou para não compactuar com a sordidez, abandonaram sua arte, sua utopia e foram fazer carreira no sistema para criar família e sobreviver.

Inveja porque há brilhantismo na arte do engodo, da falácia, da mentira. E há que respeitá-los, mantendo a dignidade. O duro do princípio da liberdade é que deve haver espaço ao adverso, ainda que torpe.

Michel Teló, esse artista que conta hoje com mais de 480 milhões de acesso no You Tube faz a cabeça do planeta jovem. Penso que não há como não reconhecer que a arte é sim a alavanca para a transformação da realidade ou mesmo serve a manutenção do status quo.

Ver o alcance de Michel Teló me corrói o espírito, porque no mesmo veículo de comunicação ( You Tube) entrevistas de Adriana Varejão, Eduardo Galeano, Manoel de Barros, Chico Buarque de Holanda, Ferreira Gullar, Ángelles Mastretta, Fernando Trueba, Jorge Castañeda, Fernando Morais, Walter Carvalho, Leonardo Boff, Aderbal Freire Filho, Paulo José e uma outra pancada de outros artistas não somam, no conjunto, 500 mil acessos.

Ainda bem que minha micro-realidade compensa: lá na casa da Dindinha, ela soube hoje no ultrassom, o neném vem com peru e vai ser Galo. Falando nisso, Liz ganhou ontem do pai um vestidinho. Hoje, tomou o seu primeiro banho de sol.

Puro marketing.








Até breve.



quinta-feira, 16 de agosto de 2012

APONTAMENTOS



João Cabral de Melo Neto, já muito velho, resolveu não mais escrever. Estava ficando cego. Belo dia surgiu um amigo que lhe perguntou por que ele, João Cabral, não gravava os seus poemas e depois pedia a alguém para transcrevê-los.

- “Não é possível sem eu ver os desenhos das letras.”

A minha dificuldade é semelhante. Não consigo escrever direto no laptop ou, agora, no IPad. No IPhone, sem chance.

Adriana Varejão disse que a arte não tem função. O ofício de artista é como o de outro profissional qualquer. A arte não tem nenhum papel especial e jamais poderá ser entendida como capaz de transformar a realidade.

Para Ney Matogrosso, no entanto, a arte transformou a sua vida. Não fosse a música ele teria ficado louco.

Para Eduardo Galeano o mundo não está feito de átomos, o mundo está feito de histórias, porque são as histórias que a gente conta, que a gente escuta, recria, multiplica são o que permitem transformar o passado em presente e que, também, permitem transformar o distante em próximo, possível, visível.

Para Galeano as pessoas que mais dor sentem ao viver, as pessoas mais sensíveis são as mais vulneráveis. Em contrapartida, existem aquelas que se dedicam a atormentar a humanidade, vivem vidas longuíssimas, não morrem nunca, porque não têm uma glândula que na verdade é bem rara e que se chama consciência. É a que nos atormenta pelas noites.

Lá, na minha infância, eu estava convencido de que tudo o que na terra se perdia, ia parar na lua. No entanto, os astronautas não encontraram na lua sonhos perigosos, nem promessas traídas, nem esperanças estilhaçadas.

Se não estão na lua, onde estão?

Será que na terra não se perderam?

Será que na terra se esconderam?

E estão esperando, esperando por nós?

Liz foi hoje à pediatra. Pesou três quilos e mediu cinqüenta centímetros.


Até breve.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

PARALELO




Assisti a uma entrevista do Rubem Alves. Nela ele diz que escreveu o livro "Ostra feliz não faz pérola" para aludir a idéia de que há de existir angústia para vir produção. Não fosse um grão de areia que nela penetra a ostra não se incomodaria a ponto de tornar esse grão de areia em pérola.

É dele também a idéia de que não se deve nutrir esperança "por causa de", mas "à despeito de”.

Para Fernando Pessoa o homem é um cadáver adiado.

Essas citações remeteram-me ao mal estar que dá escrever. Sinto que escrever é evadir-se de algo que procura verbo.

Estive durante a tarde de hoje conversando com um ex-executivo e que atualmente atua como consultor  de estratégia em um setor específico. Brilhante o sujeito. Ao longo de toda a conversa ele varreu inúmeras áreas do conhecimento não só organizacional, mas político, econômico, social, filosófico, artístico entre outras. 
Confesso que fiquei meio zonzo e, ao mesmo tempo, preocupado. Eu não sei nada sobre o que ele falou e isto me deu a sensação objetiva de que passei.

Passei assim: num tenho mesmo mais saco para discurso, especialmente os engajados na militância corporativa e acadêmica.

Depois desses anos todos atuando em organizações de diferentes portes, setores, estrutura de capital, os cambau, eu sou hoje obrigado a reconhecer que 99,987% do discurso é absolutamente vazio, mas seduz e leva até gente de peso à orgasmos múltiplos.

O pouco do que se aproveita é, ainda bem, óbvio. O que permite às pobres organizações utilizarem.

O que isso tem a ver com Rubem Alves, Fernando Pessoa, ostra, pérola, cadáver? Quase nada, mas que são citações legais, refinadas, poludas, ah isso são. E seduzem.

Ainda milito em Conselhos não por causa de, mas à despeito de.

Discursos.

De fundo, só vi sucesso na ralação. Fazendo prática teoria. Areia >>> Pérola.


Até breve.


segunda-feira, 13 de agosto de 2012

TELA




Há dois dias eu não posto.

Sábado e domingo passei em branco.

Acho que foi por causa de Liz.

Ou porque eu completei 250 postagens e ficou como se eu tivesse esgotado a lavra.

Deu um branco.

Ganhei de Pretinha e Lé, pelo dia dos pais, um IPad.

Deve ter sido por isto.

Ele é mesmo que IPhone e menos que meu lap.

Mas é outro.

Agora eu tenho IPhone, IPad e IPod.

É assustador, assim.

Falo, leio, ouço.

Abriu uma janela imensa.

Podia falar de Nós na festa de encerramento das Olimpíadas.

Melhor não.

Mensalão ou Fantástico Cachoeira.

Dizem rolar pela Avenida Brasil dá mais Ibope.

Síria, Egito...

Não.

Crimes hediondos.

Não.

Programas de TV, filmes... Livros quem sabe...

Não.

Vou deixar assim, em Cinemascope:


 
 

  

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

DEZ



Agora, às vinte e duas horas e vinte e oito minutos, Liz completa dez dias entre nós. Ontem, à noite, eu estava com ela no meu colo e percebi que começa a acompanhar a nossa voz. Seus olhinhos ganham mais expressão e ficam atentos aos sons.

Já tomou vacinas, fez o teste do pezinho, furou as orelhinhas e nelas brinquinhos transluzem. Seus cabelos crescem a olhos vistos, embora serão substituídos brevemente por aqueles que lhe darão parte da identidade.

Chora pouco, mas bonito. Nada que estresse o papai e mamãe. Suspira, arrota, espirra. Mama e dorme. Entra em um ritmo muito confortável e tranqüilo para os pais e para si mesma. Vai da meia-noite às cinco da manhã sonhando seus sonhos e é acordada pela mãe, preocupada com o longo período sem amamentá-la.

Claudinho, quando chega à noite do trabalho, nem nos cumprimenta direito. Corre para o banheiro e faz cara de incomodado quando, ao sair do banho, encontra Liz no colo de alguém. Parênteses: nós não estamos morando com eles e nem eles estão estes dias no nosso apartamento.

Pretinha parece mãe de outras viagens tal a tranqüilidade. Observa tudo e a todos, e está sempre próxima da filhinha. Inclusive quando a neném está no bercinho, Pretinha adora ver a imagem de Liz na babá eletrônica. Vai deixando os traços marcados no corpo pela gravidez e volta ainda mais linda da experiência, embora seja comum que toda mulher fique mais linda depois de tornar-se mãe.

Este é o post de número duzentos e cinqüenta do dasletra e é, para mim, motivo de satisfação ainda que secundária.

Nestes quinze meses drenei meus espíritos. Fiz minha catarse, contei minhas histórias, delirei, fui claro e emblemático, direto e metafórico, simbólico e concreto. Trouxe assuntos tortos, escrevi bobagens, relatei viagens, descobertas, estradas e bandeiras. Comentei filmes, acontecimentos. Últimas e Nublinas, coisas que dilaceram a minha esperança.

Escrevi diálogos prováveis e por eles recebi críticas:

- “Você vai ficar muito chateado se aquilo que você aborda nos diálogos com Liz não ocorrer...”

Tenho que o conteúdo das histórias será o que menos importará ao futuro. Naqueles dias eu apenas ansiava pela minha netinha e queria que meu coração já a sentisse presente.

Duzentos e cinqüenta dizeres ao aberto, ao virtual, às nuvens. À pessoas não sabidas de lugares até distantes. Ouvi alguém dizer, outro dia, que a exteriorização faz parte da necessidade do homem construir sua singularidade. E o blog me serve a isso. Tomara que eu continue e que a minha indisciplina não tire de mim o gosto pelo palavrar.

Até porque, todo santo dia, Liz encanta, dia dezessete a Dindinha vai saber se é menina ou menino, em setembro vem o Leozinho do Júlio e da Mônica além do que, de outro casal muito próximo, eu sinta sinais cada vez mais evidentes.

Sim, a vida pode ser melhor, ainda que nublina.

E será postada.


Até breve.

EM TEMPO: Já disse aqui que poucas coisas me incomodam e, entre elas, fazer compras. Pois hoje visitei, SÓZINHO, seis lojas em diferentes lugares até achar uma saboneteira que lembrasse Liz: uma gatinha.