terça-feira, 24 de julho de 2012

VÍSCERA



Quando uma criança faz algo considerado indevido o adulto nomeia como ARTE. Lembro-me, quando menino, minha avó materna sempre recriminava minhas estripulias como arte.

- Pare com isso, Lozinho! Deixe de arte, menino!

Tenho pensado muito sobre isto ultimamente, claro por ser brindado pela chegada nos próximos dias (qualquer momento toca o telefone e pode ser Claudinho), de minha mais esperada artista: Liz, que nasce criança e menina, portanto, espero eu, cheia de arte.

Reside aqui talvez minha tensão dos últimos meses.

Desaprendi ser criança e meus crimes são de adulto. Todos eles. Dos pequenos aos mais hediondos. Não posso ser mais recriminado como arteiro, já que artista embora sonhasse, não alcanço.

Do alto da minha sessentaneidade não gosto mesmo do que fizemos com nossa aculturação. O resultado decisivamente não é bom, assim no todo. Tem partes boas, vejo. Mas no geral, abomino.

Uma sociedade (americana) desevoluída com mais de quatrocentos milhões de armas em posse de civis devidamente legalizadas é descabida. Isso é uma tragédia anunciada. Não é possível, simplesmente, reconhecer naqueles cabelos avermelhados ou na expressão catatônica do jovem neurocientista um louco e decidir por executá-lo. É preciso assumir a essência da alma coletiva. Matar deliberadamente mais um não mitigará o mal. É preciso ir mais à raiz. Nenhum de nós podemos sair como inocentes dessas histórias. Somos os homens morcegos.

Há ainda assassinos de plantão instalados em palácios de governo em vários cantos do planeta.

A fome não é algo para ser expressa em milhões para que nos sensibilizemos. Um único faminto é suficiente para nos envergonharmos.

Nos nossos quintais grassam sanguessugas acobertados. Não há nenhum sinal objetivo de que isso mude.

A urbe sucumbe.

Até água, turva.

O olhar não é pessimista, nem realista, nem alarmante, nem denuncista. Apenas o espelho não mostra a face idealizada. Envergonho-me e profundamente do que entrego como lugar de ser para Liz.

Minha idiotia e meu egoísmo permitem que a alegria da chegada de minha neta se estabeleça. Será imensa por ser a primeira, por ser de Pretinha, por ser uma criança.

No fundo, no entanto, na consciência, dói (e como dói), que não será possível a mim, nem no seio da intimidade familiar e nem na plenitude do mundo, dizer de coração puro a ela:

- Liz, desfrute. 

2 comentários:

  1. Recebi de Lé SMS: "Pesado! Mas quando eu nasci vivíamos uma ditadura. Tudo pode sempre melhorar..."

    E de Claudinho um artigo de Nizan Guanaes publicado no Portal UOL: "De todas as promessas de revolução, a da educação on-line está cada vez mais próxima.
    E não sou eu quem diz isso. Mas o pessoal de Harvard, MIT, Princeton, Stanford. Essas e outras universidades americanas de excelência estão fazendo um movimento histórico de transferir seus cursos para plataformas digitais e oferecê-los para o mundo todo, boa parte deles, gratuitamente.
    Vivemos uma nova era de grandes descobrimentos. O homem só descobriu que a Terra era azul ao sair do planeta. Educar-se é sair de si mesmo em busca de um conhecimento do mundo e das coisas. Essa viagem da educação é a viagem da sua vida.
    Você se descobre outro depois dela.
    Nosso país se descobrirá de novo depois dela.
    A diferença é que desta vez seremos nós a nos descobrir. Será a nossa verdadeira emancipação, a nossa emergência definitiva."
    NIZAN GUANAES, publicitário e presidente do Grupo ABC

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  2. Você quer fazer um curso em uma das melhores universidades dos Estados Unidos de graça? São várias áreas de conhecimento.

    http://blog.ted.com/2012/07/18/completely-free-online-classes-coursera-org-now-offering-courses-from-14-top-colleges/

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