Quinta-feira, no início da noite,
estava tomando uma cerveja com um amigo que havia me pedido para ajudá-lo a
refletir sobre os seus negócios. O bar fica em rua de um bairro residencial de
pouco movimento tanto de pedestres quanto de automóveis.
Meu celular, que guardo dentro de
bolso de minha calça, tocou e eu atendi. Terminada a ligação coloquei o
aparelho sobre a mesa e voltei à conversa com o amigo. Dois ou três minutos
depois se aproximou um rapaz e, sem que eu pudesse oferecer qualquer reação, pegou
o celular e saiu correndo pela rua.
- Vovô.
- Oi, Liz.
- Você tem medo da Cuca?
- Tenho.
- E do Bicho-papão?
- Tenho.
- E da Mula-sem-cabeça?
- Tenho.
- E do Homem do Saco?
- Tenho.
- E do Boi-da-cara-preta?
- Tenho.
- Vovô, você é muito medroso.
- Por que? Você não tem medo deles
não, Liz?
- No princípio eu até tinha...
- E agora não, por quê?
- Porque eles não são de verdade,
né vovô?
- Quem te falou que eles não são de
verdade, Liz?
- Você.
- Eu?! Eu nunca te falei que eles
não são de verdade, Liz.
- Não, vovô, mas é que toda vez que
você fala deles é sempre igual quando você me conta suas histórias.
- Você acha então que eles são de
histórias?
- São.
- E você não tem medo deles?
- Não. Eu tenho medo é de... Ah,
vovô, eu não sei. Quando eu saio com a mamãe eu vejo ela tão preocupada com os
vidros do carro, pede prá eu entrar correndo dentro de casa, para eu não
conversar com ninguém na rua...
- Ela tem razão, Liz.
- Ela tem medo de que, vovô?
- De pessoas...
- De pessoas? Que pessoas, vovô?
- Pessoas que podem nos fazer algum
mal.
- Mal, vovô? A nós? Mas não fazemos
mal a ninguém...
- Pois é, Liz.
- Mas por que é que tem essas pessoas,
vovô?
- Porque...
- Fala, vovô, por quê?
- Liz...
- Por que tem pessoas que podem
querer fazer mal prá nós, vovô?
Até breve.
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