quinta-feira, 19 de julho de 2012

PERDAS



- Vovô.

- Oi, linda...

- Linda eu gosto.

- Hoje nós vamos fazer o quê, Liz?

- Tava pensando em arrumar meus trem...

- Você quer minha ajuda?

- Não, vovô, prefiro que você fique só conversando comigo. Deixa que eu sozinha arrumo melhor.

- Por onde você vai começar?

- Acho que eu vou separar umas coisas que eu não uso mais e uns brinquedos com que não brinco mais...

- E vai fazer o que com eles?

- Mamãe leva prá uma creche...

- Legal, Liz.

- Sabe que eu gosto muito de arrumar minhas coisas, vovô?

- Fica tudo nos seus lugares...

- Não é só por isso não.

- Por que, então?

- Eu fico pensando em cada uma delas...

- É mesmo, Liz? Como assim?

- A maioria eu sei quem me deu. Às vezes, sei até o dia. Eu gosto muito de ganhar coisas... Você gosta, vovô?

- Claro... É bom sim...

- Agora o difícil é a gente separar delas...

- Por que, Liz?

- Eu fico preocupada como que a pessoa que me deu vai ficar pensando...

- Ora, já não te serve mais. A pessoa que te deu vai gostar muito do que você fez...

- Você acha, vovô?

- Claro, Liz.

- Sabe aquele macacãozinho cheio de balõezinhos...

- Aquele que a vovó te deu antes mesmo de você nascer?

- Já não me serve mais, vovô...


Até breve.

Um comentário:

  1. Esta Liz é demais. Já esta formando seu conceito sobre os valores da vida...

    Isso me levou a uma história...
    “Um homem de idade já bem avançada veio à Clínica onde trabalho para fazer um curativo na mão ferida. Estava apressado, dizendo-se atrasado para um compromisso e enquanto o tratava perguntei-lhe sobre qual o motivo da pressa. Ele me disse que precisava ir a um asilo de anciãos para, como sempre, tomar o café da manhã com sua esposa que estava internada lá. Disse-me que ela já estava há algum tempo nesse lugar porque tinha o mal de Alzheimer num estágio bastante avançado.
    Enquanto acabava de fazer o curativo, perguntei-lhe se ela não se alarmaria pelo fato de ele estar chegando mais tarde.
    - Não, ele disse. Ela já não sabe quem eu sou. Faz quase cinco anos que não me reconhece. Estranhando, perguntei:
    - Mas se ela já não sabe quem o senhor é, porque essa necessidade de estar com ela todas as manhãs?
    Ele sorriu e dando-me uma palmadinha na mão, disse :
    - É . Ela não sabe quem eu sou, mas eu sei muito bem quem ela é.”

    http://www.portalcafebrasil.com.br/artigos/mas-so-isso

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