- Vovô.
- Oi, linda...
- Linda eu gosto.
- Hoje nós vamos fazer o quê, Liz?
- Tava pensando em arrumar meus
trem...
- Você quer minha ajuda?
- Não, vovô, prefiro que você fique
só conversando comigo. Deixa que eu sozinha arrumo melhor.
- Por onde você vai começar?
- Acho que eu vou separar umas
coisas que eu não uso mais e uns brinquedos com que não brinco mais...
- E vai fazer o que com eles?
- Mamãe leva prá uma creche...
- Legal, Liz.
- Sabe que eu gosto muito de
arrumar minhas coisas, vovô?
- Fica tudo nos seus lugares...
- Não é só por isso não.
- Por que, então?
- Eu fico pensando em cada uma
delas...
- É mesmo, Liz? Como assim?
- A maioria eu sei quem me deu. Às
vezes, sei até o dia. Eu gosto muito de ganhar coisas... Você gosta, vovô?
- Claro... É bom sim...
- Agora o difícil é a gente separar
delas...
- Por que, Liz?
- Eu fico preocupada como que a
pessoa que me deu vai ficar pensando...
- Ora, já não te serve mais. A
pessoa que te deu vai gostar muito do que você fez...
- Você acha, vovô?
- Claro, Liz.
- Sabe aquele macacãozinho cheio de
balõezinhos...
- Aquele que a vovó te deu antes
mesmo de você nascer?
- Já não me serve mais, vovô...
Até breve.
Esta Liz é demais. Já esta formando seu conceito sobre os valores da vida...
ResponderExcluirIsso me levou a uma história...
“Um homem de idade já bem avançada veio à Clínica onde trabalho para fazer um curativo na mão ferida. Estava apressado, dizendo-se atrasado para um compromisso e enquanto o tratava perguntei-lhe sobre qual o motivo da pressa. Ele me disse que precisava ir a um asilo de anciãos para, como sempre, tomar o café da manhã com sua esposa que estava internada lá. Disse-me que ela já estava há algum tempo nesse lugar porque tinha o mal de Alzheimer num estágio bastante avançado.
Enquanto acabava de fazer o curativo, perguntei-lhe se ela não se alarmaria pelo fato de ele estar chegando mais tarde.
- Não, ele disse. Ela já não sabe quem eu sou. Faz quase cinco anos que não me reconhece. Estranhando, perguntei:
- Mas se ela já não sabe quem o senhor é, porque essa necessidade de estar com ela todas as manhãs?
Ele sorriu e dando-me uma palmadinha na mão, disse :
- É . Ela não sabe quem eu sou, mas eu sei muito bem quem ela é.”
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