- Mamãe.
- O que é, Liz?
- O vovô quando era seu papai
brincava muito com você?
- Igual seu pai brinca com você,
Liz.
- Só de noite e no final de semana?
- Igualzinho.
- Vovô contava histórias absurdas
para você como conta prá mim?
- Algumas...
- Será que ele já contou prá mim
todas as histórias que contou prá você?
- Eu acho que ele deve ter
inventado outras...
- E você acreditava nas histórias
do vovô?
- A gente perguntava prá vovó se
era verdade...
- E o que a vovó respondia?
- Que o vovô era doido.
- Porque que a gente chama de doido
uma pessoa como o vovô?
- Porque ele faz muita bagunça.
- Eu num acho.
- Eu, às vezes, acho.
- Quando, mamãe?
- Seu avô não fala nada sério. Eu
digo prá ele que entre nós não tem diálogo.
- Quê isso, mamãe? Vovô é o mó tagarela.
- Mas só conversa fiada. Só
comédia.
- Eu não acho fiada.
- O que vovô disse prá você que
você acha sério, Liz?
- Que ele gosta de mim.
- Ah, mas isso é óbvio, né Liz?
- Não, mamãe. Não é óbvio não. Ele
gosta mesmo muito de mim.
- E como você sabe que ele gosta
mesmo muito de você?
- Pelos olhos dele.
- Pelos olhos? De onde você tirou
isso, minha filha?
- Vovô falou que a gente deve
sempre de conversar com uma pessoa olhando bem nos olhos dela.
- E aí?
- Se ela não estiver dizendo a
verdade a gente vai saber...
- Como?
- Sabendo.
- Isso é mais uma história absurda
do vovô, Liz?
- Não é não, mamãe, pergunta pra
vovó pra você ver.
- E o que mais de sério que o vovô
te falou?
- Que a gente tem que gostar do que
a gente estiver fazendo.
- Ah, isso é mesmo importante.
- Então? Foi o vovô quem falou.
Isso é conversa fiada?
- Não, isso não.
- Eu digo a nossa conversa agora,
mamãe... É conversa fiada?
- Claro que não, filhinha.
- É diálogo?
- Claro, filhinha.
- Deixa eu ver direito seus olhos,
mamãe... Repete o que você falou.
Até breve.
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