- Vovô...
- Oi, anjo...
- Anjo?!!! Quê isso vovô?
- Você prá mim é um anjo.
- Não, vovô, eu sou a Liz.
- Sim, mas é um jeito carinhoso de
te chamar...
- Prefiro Liz.
- Por quê?
- Anjo vive nas nuvens.
- Qual o problema?
- Mamãe sempre fala assim, quando
eu não estou prestando atenção nela: “Ô, Liz, você está nas nuvens?”
- E não está?
- Às vezes sim.
- Por exemplo...
- Teve um dia que ela falou que eu
tinha que todo dia de arrumar meu armário...
- E ela não tem razão?
- Todo dia, vovô?
- Você não meche no seu armário
todo dia?
- Mecho.
- Então.
- Mas eu não bagunço não. Tiro as
coisas e deixo tudo arrumado...
- Então qual o problema?
- Meu jeito de arrumar não é igual
ao da mamãe...
- É. Cada um tem seu jeito de
arrumar as suas coisas...
- E aí como eu faço, vovô?
- O quê?
- Prá mamãe deixar eu arrumar do
meu jeito?
- Conversar com ela não adianta?
- Eu falo... Ela fica igual um
anjo...
- Não presta atenção no que você
fala?
- Não, vovô. Ela fica quietinha, ouve
tudinho, quando eu acabo de falar ela fala assim: “Entendi, filhinha, mas faz
do jeito que eu to te falando, tá bom?”
- Acho que sei onde ela aprendeu
isso...
- O que vovô?
- Nada, eu só tava pensando alto...
- Vovó fala assim também com você,
vovô?
- Sempre não. Tem hora que varia.
Tem hora que ela diz que não sabe como um homem que já é avô não sabe fazer as
coisas.
- E você não sabe?
- É que eu faço do meu jeito.
- O seu jeito é assim como o meu?
- Seu armário tá arrumadinho...
- Mas não ficaria assim se fosse eu
que arrumasse do meu jeito.
- Como ficaria?
- Do meu jeito.
- Às vezes num tem jeito de ser do
jeito que a gente quer, né Liz?
- E como você faz, vovô?
- Eu viro anjo.
Até breve.
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