O poeta Carlito Azevedo disse, em
entrevista ao programa Sangue Latino do Canal Brasil conduzida por Eric
Nepomuceno, que não é possível aos homens viver apenas a vida não simbolizada. E
é a poesia que vem preencher homens ocos de substância para que se tornem
plenos.
Todos sabemos que a vida em si não
faz mesmo sentido e ainda temos (alguns) a inexorável consciência
existencialista do nada. Sabemos da inutilidade do esforço da procura, mas
temos que ter presente a inevitabilidade da tentativa.
Passados esses anos todos me valeu
a procura em cada dia, nos estreitos espaços de manobra, um ou outro momento de
reflexão aguda. Especialmente nos dez anos enquanto professor de MBAs em que
alunos trouxeram experiência poética extraordinária encontrada no cotidiano.
Porque a poesia a qual me refiro,
aquela que substancia o viver, transcende a de Neruda, Drummond e todos os
outros e outras que atingiram e atingem a um seleto grupo de iniciados, esclarecidos,
raros.
Não. Falo da poesia concreta, fora
do poema, independente da métrica e da rima, aquela encontrada no dia-a-dia,
nas ruas, nas barbearias, casas de comércio, campos de futebol, ou outros
lugares onde o humano se explicita.
Falo da poesia do momento d’Ela na
varanda de nossa casa em Santa Luzia, absorta em achuliar contornos da manta
que agasalhará Liz.
Falo de cada instante em que me
encontro com Pretinha e Claudinho e os percebo grávidos de imensa alegria.
Falo da reunião para o Chá de
Fraldas que ocorrerá hoje em nossa casa. Acho que é por isso que é poesia e não poesio. Nós homens temos que aceitar de pronto que o que nos substancia é
elas.
Quando que algum de nós homens iria
pensar em CHÁ? E quando nós construiríamos um poema concreto como CHÁ DE
FRALDAS? Só se for na perspectiva econômica com direito a reclamar de algumas
amigas que nos deixaram fraldas de marca duvidosa. Um horror!
Espalhei pela mesa de centro de nossa casa folhinhas
com gravuras em branco para colorir com giz de cera. As filhas e os filhos das
amigas de Pretinha vão se esbaldar. Ela vai fazer pipoca, gelatina, sucos,
cocadinha e outras guloseimas.
Isso é poesia pura e na veia.
Eu, de minha parte, não
participarei. Irei com Claudinho para a casa do Gil para assistir algo poético
para nós homens e pronunciar ou fazer coro com as cordas vocais estendidas no
limite:
- Vai tomar
no .., seu juiz!
Numa dessas, Liz dirá:
- Homem é
grosso, né mamãe?
Juro que sinto cada palavra vinda
da vozinha de Liz. E são elas que preenchem esse sessentão oco, oco, oco.
Agulho,
ResponderExcluirMaravilhoso os dois textos. Fico absolutamente encantada com o que a chegada da Liz está fazendo na vida de vocês, poesia pura.
Preciso, urgentemente, ver a barriga da Valesca, antes da chegada da flor.
Rijane