A casa de Santa Luzia não está
pronta ainda. Falta o próprio berço e, é por força dele, que vamos organizar a
distribuição dos móveis no quarto. Estantes ainda serão fixadas nas paredes.
Vamos lixar todo o piso de madeira, calafetar fendas e encerar. Fazer uma
limpeza geral na casa. Perfumar com flores naturais.
Nosso apartamento em BH não recebeu
nenhum adicional, exceto um berço portátil. Daqui a alguns meses vamos colocar
redes protetoras nas janelas.
Ela está ultimando alinhavos,
costuras, apliques e bordados nos pagãozinhos. Tem um de abelhinhas que é uma
lindeza. Há outros apetrechos por finalizar, forro do carrinho, coisinhas e
tais.
Enquanto isso...
- Mamãe...
- Oi, Liz.
- Tá chegando?
- Eu acho que sim, minha filha.
- Você sabe o dia?
- Não filhinha, eu acho que pode
ser a qualquer momento...
- Papai tá muito ansioso?
- Não, estamos todos muito
tranqüilos.
- Vai ser legal aí fora, mamãe?
- Vamos fazer tudo prá que seja,
filhinha.
- Aqui dentro é tão quentinho...
- É filhinha?
- Eu não sei de nada... Não sei o
que é a luz... Não sei o que é você, papai e os outros...
- Logo, logo você vai saber...
- Vai demorar?
- Eu já te disse, filhinha... Pode
ser a qualquer momento.
- Como é que é aí fora, mamãe?
- Grande.
- Maior do que aqui?
- Muito maior.
- Aqui é apertadinho mesmo... Eu fico me esticando toda...
- Eu te sinto, Liz.
- Quando eu sair eu vou poder
voltar prá cá, mamãe?
- Não.
- Nunca mais?
- Nunca mais, filhinha.
- E por que, mamãe?
- Quando você estiver aqui fora
você vai entender...
Este é o último post da sequência
de diálogos com Liz. Liz, essa personagem que comigo percorreu a preparação
para a chegada de nossa netinha, filha de Pretinha e de nosso genro Claudinho.
Estes posts não sofreram nenhum esforço extraordinário de elaboração. Nasceram
de parto normal e sem dor.
No fundo brinquei com a vida. Com a
alegria. Espero que Liz, daqui a vinte anos, quando lê-los, possa rir muito
deles e dar muito beijos em seu avô babão.
Doravante respeitarei os últimos
momentos da espera, porque quem vai chegar à nossa história de fato, não é uma
personagem, mas nossa extensão.
Até breve.