Enquanto isto, nos arredores da vida real...
CENA 1
Recebi como presente de um cliente, um livro de Francisco
Daudt da Veiga: O aprendiz de Liberdade, no qual o autor enuncia:
“Não existe
regime mais antinatural que uma democracia, já que inibe a vigarice e o
levar-vantagem, e para isso institui três poderes autônomos, cuja função é um
desconfiar da vigarice e do levar-vantagem do outro, tendências que, mesmo
naturais, são indesejáveis para uma vida que aposte na ajuda recíproca.”
(pag.21)(*)
Notícias de hoje dão conta de que, por força de festas
juninas, férias e RIO +20, os trabalhos para estancar a mais recente Cachoeira
de lama que assola o país serão adiados sine
die. (Adoro expressões em latim. Dão um ar de erudição ao post).
Por outro lado o juiz que indiciou e mandou prender o chefe
(?) da quadrilha (não a de festas juninas) pediu afastamento do processo. O
magistrado alegou estar sendo ameaçado de morte. Pediu licença prêmio por três
meses e quando retornar não quer mais reassumir em uma vara criminal.
Como as trapaças estão em volumes de milhares de páginas, o
juiz substituto levará um tempo (sine die)
para poder examinar, aquecer seu espírito magistral, afiar seus motores e aí
poder parecer.
CENA 2
Ocorreram, no final de semana, eleições presidenciais no
Egito. O candidato derrotado reclamou que os 52% de votos que deram a vitória
ao adversário na verdade deveriam ser computados para ele.
Lá, por força de decreto, os militares têm que ser consultados antes de qualquer ato administrativo
ou político do governo civil.
O povo reage.
CENA 3
Recebi, em júbilo, na última sexta-feira, um ato magnânimo do
Estado: a minha restituição do Imposto de Renda. Benesse pelo fato de eu ter
atingido o status de idoso. Jovens que esperem mais ou que caiam na malha,
inclusive Ela.
CENA 4
Estive ao longo de todo o final de semana em um evento no
Guarujá-SP onde compareceram perto de 250 executivos do board (em inglês agrega mais valor) de empresas de grosso calibre
no mercado global.
Moderei alguns dos debates com renomados cenaristas e
especialistas em política e economia internacionais. Europa (especialmente
Grécia, Espanha, Portugal e Itália) China e USA foram os principais focos de
análise para perscrutar os efeitos sobre o nosso país.
Sempre que estou vivendo estas oportunidades me deparo com
evidências da minha dupla-personalidade. Já me disseram
que quem escreve as histórias com a Liz não sou eu. Estes mal sabem que quem
não sou eu é aquele que esteve no Guarujá no final da última semana. Ou serei?
Digo tudo isto porque sei que esse comentário ficará somente entre nós.
O último painel do evento contou com a participação de um dos
sobreviventes do acidente aéreo nos Andes ocorrido na década de 70 e de um
herói olímpico do vôlei nacional. Tema: SUPERAÇÃO. Ouvi com atenção a ambos e
depois tive o privilégio de fazer o encerramento do evento, quando trouxe a
história da busca de meu pai a Vicente Pelizzia. (Leia em MARCA)
CENA 5 ( ou será fora
de cena?)
Ontem, à noite, o celular tocou e vi no visor o nome e a
foto de Pretinha. Quem estava do outro lado da linha era Liz.
- Vovô, o que você faz na vida?
Até breve.
(*) O aprendiz de liberdade / Francisco Daust da Veiga. – São
Paulo: Companhia das Letras, 2000.
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