O cineasta italiano Antonioni escreveu, aos oitenta e três
anos de idade, um livrinho: “Acho que
comecei a entender”.
Na verdade conheci sim, na semana passada, um novo sujeito.
Esse de 93 anos de idade: Henrique. Disse-me que somente aos sessenta começou a
viajar pelo mundo e gozar a vida. Antes precisava dar cabo de seus sete filhos.
Hoje ele não faz nada, exceto, acompanhar obras civis dos
filhos proprietários de uma construtora e as variações da Bolsa de Valores.
Considera-se um exímio aplicador. Opera a coisa pelas manhãs e depois perambula
pela cidade fiscalizando as obras. Em cada andar em construção ele coloca uma
pilha de três tijolos, um sobre o outro. Senta-se ali e confabula com os
operários.
Se eu somar as idades de Antonioni, Hamilton o cara que
conheci recentemente em Istambul (vide KARMA), Sabino (vide PRALAVRA) e a de Henrique minhas
referências totalizam 339 anos de histórias de vida. A média é de quase oitenta e cinco anos de idade.
Henrique adora vegetação. Tem uma grande fazenda em Minas
Gerais e um sítio na Pampulha em um terreno de quatro mil metros quadrados.
Disse-me que gostaria muito de conhecer nossa casa em Santa Luzia.
Ele completará, em outubro deste ano, sessenta e um anos de
casamento. Aqui ele não faz nenhuma vantagem em relação a mim. Eu, na idade
dele, estarei completando setenta anos de aliança com Ela. Bodas de diamante,
daqueles exibidos em um dos castelos de Istambul que fizeram brilhar os meus
olhos.
Ando pelas ruas, participo de reuniões de trabalho, observo
meus amigos e entes próximos e todos os demais meus circundantes. A vida
purula. Todos ocupados e cada vez mais com seus a fazeres e eu aqui dando
tratos à bola prá que seres.
Daí toda a minha atenção àqueles que estão anos adiante de
mim. Sartre, um dos maiores pensadores do Século XX, quando morreu estava cego.
Registros biográficos dão conta de que pouco antes de morrer ele teria dito: “Nada do que vi, ao longo de toda a minha
vida, é tão extraordinário quanto o que eu estou vendo agora.”
Tenho para mim que em agosto, quando Pretinha “dar a luz” (essa expressão é
extraordinária), eu começarei a entender.
Até breve.
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