Ontem acompanhei, junto com Pretinha, reformas no quarto que
está sendo preparado para a chegada de Liz. Aproveitei para fazer uma pergunta
que fez minha filha ficar silenciosa por alguns minutos antes de tentar uma
resposta.
- Com que você se ocupa além daquilo que te envolve o
cotidiano?
Eu estou lendo “Trem noturno para Lisboa”, romance de Pascal
Mercier (*), que Claudinho me emprestou essa semana. Há uma proposição
interessante do autor:
“Se é verdade que
apenas podemos viver uma pequena parte daquilo que há dentro de nós, o que
acontece com todo o resto?”
O que é mais improvável: um diálogo com alguém que estará
entre nós (os vivos) somente em meados de agosto ou uma viagem em um balão para
a lua?
Passei sessenta anos de minha vida fazendo. Agora, dou
tratos à bola. Lé, meu filho mais velho, propôs que eu metaforizasse o desfecho
e levasse Liz para o meu “mundo da lua”.
No fundo, o que me encanta agora é a possibilidade de criar o
imponderável. Não me sobram fatos históricos sobre os quais julgue pertinente
debruçar ou mesmo que eu próprio tenha interesse.
O que não quer dizer que meu fazer será meramente ficcional. Eu voei sim recentemente em um
balão na Capadócia e, é claro, não fui até a lua, Liz não foi comigo, muito
menos Zuca, Laka, Claudionor e Matilde.
Ou não?
Para quem não é próximo de mim e acessa essa porta de pronto,
sem ter lido posts anteriores, poderá ter presente que são relatos de fatos.
Liz deve ser uma criança na faixa de dois a quatro anos e o avô está em
palpos de aranha para se safar do imbróglio de ter convidado a neta para um
passeio a lua.
Ou ainda de outra ordem.
Para quem é próximo pode estar avaliando quão importante tem
sido para eu experimentar futuros prováveis diálogos com a minha tão desejada e
esperada netinha.
Enfim, há sim uma outra vida além daquela com a qual se
ocupa, cotidianamente. E é dessa vida que eu quero cuidar. Até porque estou
ocupado SIM e agora com a leitura do livro de Pascal Mercier, que foi SIM
emprestado pelo Claudinho, onde o autor coloca como sendo de um personagem
(fictício) a seguinte reflexão:
“Como seria sermos nós
próprios na eternidade, sem o consolo de podermos, um dia, vir a ser redimidos
da obrigação de sermos nós? Não o sabemos, e o fato de nunca virmos a saber
representa uma benção. Pois de uma coisa podemos estar certos: seria um inferno
esse paraíso da imortalidade.”
Quanto à Pretinha ela ainda não me respondeu. Viajou ontem
mesmo para Nova Iorque e só volta dia 18.
De verdade.
Até breve.
(*) Trem noturno para Lisboa / Pascal Mercier; tradução de
Kristina Michalelles. – 8ª. Ed. – Rio de Janeiro: Record, 2011.
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