Um dia escrevi uma canção e um amigo musicou. Gravei numa
fita cassete interpretada por um amigo. Pedi a outro amigo que encaminhasse
para um de seus amigos que atuavam em uma gravadora. Essa pessoa interessou-se
e acabou conseguindo a inserção da minha música no portfólio de lançamentos de um
álbum de inéditos. Quando a música finalmente começou a tocar nas rádios,
explodiu.
Um dia escrevi um livro e um amigo editou. Coloquei em um
envelope e enviei para um concurso que um amigo me indicou. Fui selecionado por
uma banca inicial de jurados, mas na disputa final o prêmio foi conferido a
outro livro. Mesmo assim um amigo insistiu para que eu tentasse distribuir o
livro. Outro amigo se dispôs a fazer uma divulgação e lançamento. Fiz nove
noites de autógrafos. Virou best-seller.
Um dia escrevi o roteiro para um curta. Drama intenso. Um
amigo ombrou comigo desde o primeiro momento em que lhe mostrei a idéia em um
bar. Depois ele apresentou a um grupo de amigos dele da área e alguém
viabilizou a produção. Uma patota de amigos veio prá cima para atuar como
extra, carregar instrumento, estender fios, enfim, contribuir. O filme participou
de festivais, um inclusive fora do país. Ganhou prêmios em todos.
Duas ou três vezes quebrei. De cartão de crédito, cheque
especial, empréstimo desses de placas carregadas por jovens em avenidas,
financeiras duvidosas a agiotas violentos. Um amigo vendeu de suas coisas,
outro bancou parte e outro ainda me deu um sermão madrugada adentro que jamais
esquecerei. Paguei a todos e hoje administro.
Um dia a máquina deu breque. Monte de isiquizira que me
remeteu à hospital. Fiquei internado por trinta dias, alternando grave,
moderado até a alta. Três amigos revezaram a vigília noturna. Dois outros
levaram frutas e uma penca visitou para contar o que rolava na vida lá fora.
Um dia briguei com minha esposa e saí de casa. Fui prá o
apartamento de um amigo e detei falação. Ele ouviu durante horas minhas
queixas. Uma amiga comum intermediou nossa reconciliação. Vivo com minha esposa
até hoje.
Domingo comemorei sessenta anos. Amigos fizeram discurso
dizendo que me amam.
Um dia comecei a escrever para um blog. Algumas vezes um
amigo pediu que eu lavrasse palavras. Agora deixou um comentário em um dos posts
dizendo que permaneceria Anônimo,
pois desta forma minhas lavras tornam-se plenamente minhas e puras.
Parte do texto é invencionice, mas o veio é a lavra.
Até breve.
PS> Muito obrigado, amigo, pela palavra. O título é porque
já havia lavrado a mesma palavra, ou por outra, a mesma sequência ordenada de
letras.
Muito Bem. Muito bom.
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