quinta-feira, 15 de março de 2012

RECADO


Coloquei-me a pensar por que Claudinho deu-me de presente “A preguiça como método de trabalho” (*) de Mário Quintana e escreveu, nas páginas iniciais do livro, a dedicatória abaixo com caligrafia (abominável) de genro.

“Lozinho,
Várias vezes me perguntei... Como ele consegue? E em certo momento abismei-me no que é óbvio... Você é naturalmente como uma flor! Naturalmente consegue. Nesses anos quanto método e quanto trabalho e também quanta preguiça para evitar a preguiça alheia? Hoje por si só nos colocamos a trabalhar... E trabalhando muito, mas muito, quem sabe consigamos nos tornar flor???

A explicação me ocorreu em alguns trechos do livro presenteado. Na página 154 sob o título CARACTERÍSTICAS, encontrei:

“Produção contínua e absoluta falta de autocrítica, eis aí a característica dos gênios; mas, em compensação, o que sempre caracteriza os cretinos é a absoluta falta de autocrítica e a produção contínua”.

Ou na página 173 sob o título PALCO & PERSONAGENS:

“Deixo em meio uma novela policial e, com essa inocente coqueteria que têm os esquecidos em mostrar que não esquecem as pequeninas coisas, guardo de cabeça o número da página interrompida: 155.
Vinte e quatro horas depois abro o livro no lugar exato e vejo-me de cara com personagens desconhecidas, no centro de um complicado enredo, em que mais enredado sou eu, o que não tem importância alguma, porque descubro que o livro era outro...”

Ou, ainda, na página 321:

“Embora não acredite na observação direta, acontece que tenho tal poder de visualização que às vezes não sei se aquilo que evoco eu vi mesmo ou foi algo que me contaram, ou apenas imaginei. Mas há muito descobri que a mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer.”

Também na página 195, sob o título O ASSUNTO:

“E nunca me perguntes o assunto de um poema. Um poema sempre fala de outras coisas...”

E, por último, na página 238 sob o título OS PRETEXTOS E OS FINS:

“Aliás, tudo é outra coisa.”

Não é invencionice minha, perguntem prá ele ou para Ela. Eu já havia escrito, pela manhã, o post que publiquei no dia 27 de fevereiro e, à noite logo que voltávamos do ultrassom eu pedi ao Claudinho que me desse o título. O texto estava pronto. A palavra título para o post foi lavrada por ele.

            A LIZ já nascerá do pai como FLOR.


Até breve.

(*) Quintana, Mário, 1906-1994. Da preguiça como método de trabalho, São Paulo, Globo, 2007 

2 comentários:

  1. LOZinho, sabe aquele seu colega de éXercito que as vezes eu te faço lembrar dele quando faço Hum- hum... Pois é! Obrigado

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  2. Que delícia de texto! E a Liz fará isso tudo, com certeza! Bj Clara

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