Ampliam-se os sinais da minha entrada no terceiro ato. Sob a
ótica da maturidade observo com atenção ao que se passa. Escuto clientes,
amigos, membros da família.
Tenho para hoje um ponto a refletir.
Não é de todo recente, mas é renovada a queixa ou me é incômoda
a sensação de quão determinante é o lado material da existência. Há algo de
irracionalidade aqui: a maior parte de o tempo ser investida na operação do
obter e, se possível, cada vez mais.
Nós não sabemos o que virá amanhã, então, é necessário que
nos preparemos para a eventualidade da falta, o que justifica todo o nosso
empenho agora.
Ando pela cidade, escuto pessoas e me pergunto: faz sentido?
A opção urbana com sua verticalidade predial alterando o
curso dos ventos e a perspectiva dos olhares e as vias horizontais de rolamento
incapazes de contemplar espaços para a parada ou para o transitar.
Shoppings
excludentes com suas grifes e praças de alimentação, onde o verde é de
plástico. Grana ou vegetal ornamental, de plástico.
Os planos pessoais de clientes e amigos: quitar, em alguns anos, a dívida empresarial e, já perto dos oitenta anos de idade, não ter a
quem legar o objeto pelo qual “lutou” toda a vida. Dar ao neto que acabou de
nascer trinta e dois pares de sapatos e dezenas de mamadeiras. Construir uma
casa de setecentos metros quadrados com anexos externos. Comprar um carro novo.
Um conjunto de sofás, um lustre, um quadro para fixar estático na parede da
sala de visitas vazia.
Viajar na segunda e voltar na sexta durante meses, talvez
anos, com outras viagens nesse intervalo. Dormir em hotéis vários. Sobreviver
ao medo, ao ciúme e/ou à inveja imperativos no mundo corporativo.
Produzir relatórios, estatísticas, pareceres, emails ao longo
de madrugadas inclusive de sábados e domingos. Compor, negociar, tramar, aliar,
contratar, distratar.
Comprar terrenos, apartamentos pequenos para alugar, bois,
deixar um tanto em planos de investimentos, ações das big.
Participar de inúmeros eventos sociais, programas de
desenvolvimento da astúcia e da sagacidade. Abrir-se ao mercado e jogar o jogo
jogado. Ascender.
Ontem, em Santa Luzia, eu fazia minha inspeção domingueira dos jardins e me deparei com um pequeno formigueiro que se formava. Pensei em Liz.
- “Nó, vovô, elas tem
que carregar todas essas pedras para fazer a sua casinha?”
Até breve.
Putz!Ainda bem q a Liz poderá ver o formigueiro...espero...
ResponderExcluirPretinha, veja o site apontado pelo Julinho. Tem tudo a ver:http://migre.me/8m0Sk.
ExcluirBjo.
Nuuuu como relatou bem o que passamos.. É isso aí... ter , ter, ter e como ter. Valores que nos deixam confusoS quando nos deparamos com o sentir, viver.. é preciso mesmo amadurecer a cada dia para ter tamanho discernimento e poder fazer escolhas sem sentimentos de falta.BJOS
ResponderExcluirBrigado, Camileta. Veja o site sugerido pelo Julinho:http://migre.me/8m0Sk. Bjo.
ExcluirLozinho,
ResponderExcluirno sábado passado assisti ao filme "na natureza selvagem" (Into the wild). O filme, que vale a pena assistir, tem uma bela mensagem e crítica sobre estas imposições de nossa sociedade para o consumismo e outros conflitos.
Além das imagens da natureza o filme também se destaca pela trilha sonora e uma das músicas que fala diretamente sobre o tema do post é Society. veja em http://migre.me/8m0Sk
Parabéns pela simplicidade e por nos fazer este alerta!
Julio
Julinho,
ExcluirAssisti por uma quatro vezes logo que foi lançado. A trilha é mesmo sensacional especialmente a letra da música que você apontou. Brigado pelo comentário. Abraço.
Quatro!!! Poxa ! Vou assistir novamente porque realmente é muito bom.
Excluirabraço
Nossa ! o texto é fantástico. E as reflexões necessárias.
ResponderExcluirBrigado pelo Nossa!
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