quarta-feira, 21 de março de 2012

OLHAR II




Alguém pode naturalmente ter se assustado com o que eu trouxe no post anterior. Afinal um avô responsável jamais poderá expor sua neta a um formigueiro, ainda que pequeno e em formação.

Hoje trago algo menos lúgubre.

Por exemplo: pinçar um trecho do livro Religião para ateus (*) que ganhei do Lé (meu filho Vladimir) onde o autor Alain de Botton propõe:

“Deveríamos dar ao caos um lugar de destaque pelo menos uma vez por ano, designando ocasiões em que podemos ficar brevemente isentos das maiores pressões da vida secular: ser racional e fiel. Deveríamos ter permissão para falar bobagens, amarrar pênis de lã em nossos casacos e cair na noite para festejar e copular aleatória e alegremente com estranhos e, então, retornar na manhã seguinte para nossos parceiros, que também teriam saído fazendo coisas semelhantes, ambos cientes de que não era nada pessoal, que foi a Festa dos Loucos que provocou as ações.”(pag.55)

Outro exemplo: considerar Toulouse um fato de rotina onde um insano, ou será cruel, fez vítimas um professor de vinte e nove anos e os seus dois filhos, de três e seis anos. Em seguida, o atirador entrou na escola e matou outra criança, de oito anos, e feriu gravemente um jovem de dezessete.

Outro mais: durante sete anos dois enfermeiros no Uruguai disputavam quem matava mais pacientes em UTIs. O número de vítimas passa de duzentas e as autoridades descartaram a possibilidade de os assassinos estarem vinculados ao tráfico de órgãos já que elas, as vítimas, estavam com idade avançada.

Ninguém merece um post destes.

Então mudo a direção da minha lente subjetiva.

Vou para o tutorial de maquiagem da July, a menininha de quatro anos cujo vídeo já foi assistido por mais de três milhões de pessoas e onde ela propõe que suas coleguinhas façam a maquiagem para que outras morram de inveja. Uma gracinha.

Liz chegará em agosto.

Não me parecerá possível contar histórias mais fantásticas e absurdas do que aquelas que ela cedo se deparará na TV ou na internet, mesmo que nós tentemos poupá-la, o que não será bom.

Imenso desafio esse nosso: cuidadosa e permanentemente convidá-la à infância, à adolescência, à juventude apoiados na religiosidade do mínimo de racionalidade, entendendo a razão como fundamento do bom espírito e a fidelidade aos seus mais caros propósitos.

Uma vez por ano daremos um lugar de destaque à harmonia: a esperança fará aniversário.

Até breve.
(*) De Botton, Alain – Religião para ateus, Rio de Janeiro: Intrínseca, 2011 

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