Alguém pode naturalmente ter se assustado com o que eu trouxe
no post anterior. Afinal um avô responsável jamais poderá expor sua neta a um
formigueiro, ainda que pequeno e em formação.
Hoje trago algo menos lúgubre.
Por exemplo: pinçar um trecho do livro Religião para ateus (*) que ganhei do Lé (meu filho Vladimir) onde
o autor Alain de Botton propõe:
“Deveríamos dar ao caos um lugar de destaque pelo menos uma vez por ano,
designando ocasiões em que podemos ficar brevemente isentos das maiores
pressões da vida secular: ser racional e fiel. Deveríamos ter permissão para
falar bobagens, amarrar pênis de lã em nossos casacos e cair na noite para
festejar e copular aleatória e alegremente com estranhos e, então, retornar na
manhã seguinte para nossos parceiros, que também teriam saído fazendo coisas
semelhantes, ambos cientes de que não era nada pessoal, que foi a Festa dos
Loucos que provocou as ações.”(pag.55)
Outro exemplo: considerar Toulouse um fato de rotina onde um
insano, ou será cruel, fez vítimas um professor de vinte e nove anos e os seus dois
filhos, de três e seis anos. Em seguida, o atirador entrou na escola e matou
outra criança, de oito anos, e feriu gravemente um jovem de dezessete.
Outro mais: durante sete anos dois enfermeiros no Uruguai
disputavam quem matava mais pacientes em UTIs. O número de vítimas passa de
duzentas e as autoridades descartaram a possibilidade de os assassinos estarem
vinculados ao tráfico de órgãos já que elas, as vítimas, estavam com idade
avançada.
Ninguém merece um post destes.
Então mudo a direção da minha lente subjetiva.
Vou para o tutorial de maquiagem da July, a menininha de quatro
anos cujo vídeo já foi assistido por mais de três milhões de pessoas e onde ela
propõe que suas coleguinhas façam a maquiagem para que outras morram de inveja.
Uma gracinha.
Liz chegará em agosto.
Não me parecerá possível contar histórias mais fantásticas e
absurdas do que aquelas que ela cedo se deparará na TV ou na internet, mesmo
que nós tentemos poupá-la, o que não será bom.
Imenso desafio esse nosso: cuidadosa e permanentemente
convidá-la à infância, à adolescência, à juventude apoiados na religiosidade do
mínimo de racionalidade, entendendo a razão como fundamento do bom espírito e a
fidelidade aos seus mais caros propósitos.
Uma vez por ano daremos um lugar de destaque à harmonia: a
esperança fará aniversário.
Até breve.
(*) De Botton, Alain – Religião para ateus, Rio
de Janeiro: Intrínseca, 2011
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