quinta-feira, 8 de março de 2012

MULHER


Ela, palavra que você encontra em alguns textos deste blog, sempre com a inicial maiúscula também fora do início de frases, refere-se à pessoa que me governa.

Há quarenta e dois anos e onze meses.

Domingo agora, quando eu comemorava meus sessenta anos (ninguém mais consegue me ouvir falar disso) Ela declamou os versos da canção imortalizada por Tetê Espíndola: “Escrito nas estrelas”. Ousou também cantar alguns versos.

Três características:

FIEL. Não a mim ou às convenções, mas a si própria. Jamais traiu às suas convicções mesmo que isto pudesse trazer-lhe conseqüências importantes.

EMPÁTICA. Desconheço alguém melhor que se ocupe verdadeiramente com o outro, mesmo que o outro não a compreenda ou a rechace.

DISCIPLINADA. O mínimo de normalidade que se aplica à minha esquizofrenia, Ela que regula. Meu eixo de rotação, sempre empenado, Ela que usina.

Fico pensando quão miseráveis somos. Sem elas. Miséria absurda em tudo. Afinal de quem falaríamos para explicitar a nossa diferença? Até porque toda e qualquer referência é a partir delas. Ou você é, ou você não é, ou você se castra para supostamente ser, ou você sendo deseja outra, ou você não sendo se coloca no lugar.

Pretinha olha prá mim tão funda que me assola. Beija-me tão doce que me humaniza. Cuida de mim. Diz que é Agulhôzinha. Confunde-se comigo na minha suposta loucura e me chama de Estamiro (alusão ao belíssimo documentário Estamira de Marco Prado sobre quem ele declarou: “Ela era quase que uma profetisa dos dias atuais, uma pessoa muito legítima. Jamais montamos suas frases na edição. Todos os discursos incluídos no filme são contínuos. Ela acreditava ter a missão de trazer os princípios éticos básicos para as pessoas que viviam fora do lixo onde ela viveu por 22 anos. Para ela, o verdadeiro lixo são os valores falidos em que vive a sociedade.”).  

Sem elas somos miseráveis. Dependência aguda porque viemos delas desde as entranhas e sorvemos suas tetas para nos alimentarmos nos primórdios, e na fase adulta inclusive de prazer. Miséria aguda porque não saberíamos lidar com o sangramento mensal durante anos e seus horríveis colaterais. E, sobretudo, porque reclamaríamos ao longo de cada segundo dos nove meses que carregássemos uma vida que está por vir.

E agora, Liz.
“...De cartas claras sobre a mesa
É assim
Signo do destino
Que surpresa ele nos preparou...”

Sempre disse que se fosse neto seria como nós. Tratado na esculhambação que somos, míseros coadjuvantes da extraordinária saga feminina. Se eu morrer, ou quando eu morrer, se reencarnar ou quando me reencarnar quero vir homem por toda a eternidade. Apenas para continuar adorando-As.

E compartilhando o melhor da vida.


Até breve.

5 comentários:

  1. Bela Homenagem !
    É isso mesmo :
    Temos a delicadeza das flores
    A força de ser mãe,
    O carinho de ser esposa,
    Reciprocidade de ser amiga,
    A paixão de ser amante,
    E o amor por ser MULHER !
    Bjs

    ResponderExcluir
  2. Aí, tá vendo, e tem como não te admirar?! E, só pode ser do além, do além mesmo...Lindo o texto!

    ResponderExcluir
  3. Para possuir uma mulher
    é preciso mais do que fazê-la sentir-se em êxtase
    numa cama, em uma seda, com toda viril possibilidade… Há de se conseguir
    fazê-la sorrir antes do próximo encontro...
    tinha que ser do Drumond

    liz!!

    ResponderExcluir
  4. Lindo! Mais verdadeiro é impossível! A descrição d'Ela é perfeita! Bjs carinhoso!Cla

    ResponderExcluir
  5. Verdade, principalmente a respeito da compreensão dos outros.

    Parabéns a Ela (com sua licença) e às mulheres que carregam o dom de nos crear (fazer do nada) e criar (amamentar, educar...).

    ResponderExcluir