Ela, palavra que você encontra em alguns textos deste blog,
sempre com a inicial maiúscula também fora do início de frases, refere-se à
pessoa que me governa.
Há quarenta e dois anos e onze meses.
Domingo agora, quando eu comemorava meus sessenta anos
(ninguém mais consegue me ouvir falar disso) Ela declamou os versos da canção
imortalizada por Tetê Espíndola: “Escrito nas estrelas”. Ousou também cantar
alguns versos.
Três características:
FIEL. Não a mim ou às convenções, mas a si própria. Jamais
traiu às suas convicções mesmo que isto pudesse trazer-lhe conseqüências
importantes.
EMPÁTICA. Desconheço alguém melhor que se ocupe
verdadeiramente com o outro, mesmo que o outro não a compreenda ou a rechace.
DISCIPLINADA. O mínimo de normalidade que se aplica à minha
esquizofrenia, Ela que regula. Meu eixo de rotação, sempre empenado, Ela que
usina.
Fico pensando quão miseráveis somos. Sem elas. Miséria
absurda em tudo. Afinal de quem falaríamos para explicitar a nossa diferença?
Até porque toda e qualquer referência é a partir delas. Ou você é, ou você não
é, ou você se castra para supostamente ser, ou você sendo deseja outra, ou você
não sendo se coloca no lugar.
Pretinha olha prá mim tão funda que me assola. Beija-me tão
doce que me humaniza. Cuida de mim. Diz que é Agulhôzinha. Confunde-se comigo
na minha suposta loucura e me chama de Estamiro (alusão ao belíssimo
documentário Estamira de Marco Prado sobre quem ele declarou: “Ela era quase que uma profetisa dos dias
atuais, uma pessoa muito legítima. Jamais montamos suas frases na edição. Todos
os discursos incluídos no filme são contínuos. Ela acreditava ter a missão de
trazer os princípios éticos básicos para as pessoas que viviam fora do lixo
onde ela viveu por 22 anos. Para ela, o verdadeiro lixo são os valores falidos
em que vive a sociedade.”).
Sem elas somos miseráveis. Dependência aguda porque viemos delas
desde as entranhas e sorvemos suas tetas para nos alimentarmos nos primórdios,
e na fase adulta inclusive de prazer. Miséria aguda porque não saberíamos lidar
com o sangramento mensal durante anos e seus horríveis colaterais. E,
sobretudo, porque reclamaríamos ao longo de cada segundo dos nove meses que
carregássemos uma vida que está por vir.
E agora, Liz.
“...De cartas claras sobre a mesa
É assim
Signo do destino
Que surpresa ele nos preparou...”
Sempre disse que se fosse neto seria como nós. Tratado na
esculhambação que somos, míseros coadjuvantes da extraordinária saga feminina.
Se eu morrer, ou quando eu morrer, se reencarnar ou quando me reencarnar quero
vir homem por toda a eternidade. Apenas para continuar adorando-As.
E compartilhando o melhor da vida.
Até breve.
Bela Homenagem !
ResponderExcluirÉ isso mesmo :
Temos a delicadeza das flores
A força de ser mãe,
O carinho de ser esposa,
Reciprocidade de ser amiga,
A paixão de ser amante,
E o amor por ser MULHER !
Bjs
Aí, tá vendo, e tem como não te admirar?! E, só pode ser do além, do além mesmo...Lindo o texto!
ResponderExcluirPara possuir uma mulher
ResponderExcluiré preciso mais do que fazê-la sentir-se em êxtase
numa cama, em uma seda, com toda viril possibilidade… Há de se conseguir
fazê-la sorrir antes do próximo encontro...
tinha que ser do Drumond
liz!!
Lindo! Mais verdadeiro é impossível! A descrição d'Ela é perfeita! Bjs carinhoso!Cla
ResponderExcluirVerdade, principalmente a respeito da compreensão dos outros.
ResponderExcluirParabéns a Ela (com sua licença) e às mulheres que carregam o dom de nos crear (fazer do nada) e criar (amamentar, educar...).