Quatro de abril de mil novecentos e sessenta e nove, sexta-feira, perto das dezoito horas, início da noite. Praça Duque de Caxias, Bairro de Santa Teresa, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Eu e amigos azarávamos minas.
Ela estava junto com três amigas e uma dessas apontava para elas um cara que alguém da turma estava paquerando. Só que quando elas passaram na nossa frente nós achamos que era conosco e caímos prá cima.
Ela tinha doze anos. Eu dezessete.
Ela tinha ido à igreja para confessar seus pecados. Eu buscava cometê-los.
Feita a abordagem nos apresentamos. Disse que me chamava Agulhô e Ela disse que ninguém poderia chamar Agulhô. Tirei a carteira de cinema e, com o dedo polegar, tampei o primeiro e segundo nomes e disse: “Olha aqui, se não é?” Ela me tomou a carteira e saiu correndo gritando: “Você chama é Zé!”
Num rolou de cara por circunstâncias. Idas e vindas, acidentes de percurso, só mesmo em novembro de 1969 é que a coisa engrenou. No sábado agora, Teresa e Eugênio passaram o dia conosco em Santa Luzia. Teresa, que era colega dEla na escola disse que Ela tinha me escolhido em meio a inúmeras possibilidades.
Ninguém será capaz de produzir tanto para fisgar um coração quanto eu fiz. Namorávamos na varanda ou num quartinho dos fundos da casa dEla até no máximo as dez horas da noite. Depois eu ia direto para minha casa dormir, sempre sonhando com ela. Nos dias de semana ia buscá-la na escola, quando podia ou nos encontrávamos na hora do almoço no ponto de ônibus para voltarmos juntos para casa. Tenho a imagem dela, junto com uma de suas irmãs, esperando no primeiro lugar da fila com seus cadernos, de uniforme, sua saia abaixo do joelho. “Todo mundo subia a saia, só ela que não.” Me lembra sempre essa mesma irmã.
Os dois primeiros anos foram o início da transfusão sanguínea. Em setembro de 1971, Ela fez quinze anos e eu lhe dei de presente uma sandália super confortável. Ela usava um vestido estampado inesquecível, calçava a sandália que eu havia lhe dado. Fomos ao cinema assistir ao filme O meu pé de laranja lima. Meu coração sabe que foi naquele dia, exatamente, selado o meu maior desejo na vida: viver com Ela por todos os meus dias.
Desde então, em que pese entreveros e afastamentos, sempre seguimos juntos enquanto namorados. Teve vez que eu pirei, cheguei a dizer que eu iria embora e nunca mais voltaria à casa dela, que se eu voltasse poderiam me chamar mico de circo. A desqualificada da irmã dEla, me joga na cara até hoje, que estava na janela quando me viu descendo a rua da casa delas e virou-se para dentro : “Ô, gente, lá vem o mico de circo...”
Tudo por que Ela cortou o cabelo de um grande amigo meu. O puto tinha olhos azuis.
Já relatei aqui em CARREIRA minhas andanças. Em 1974, quando voltei do Mato Grosso, achei que teria mesmo que tornar a coisa mais séria e definitiva. Em novembro de 1974 convidei meus pais para irmos juntos a casa dEla que eu pediria a sua mão e complementos.
Eu não tinha sequer emprego. Após o pedido solene meus sogros foram levar meus pais até o portão. Dentro de casa vestimos as alianças. Quando minha sogra voltou e nos viu eufóricos com a aliança no dedo: “Casamento aqui em casa é no máximo em um ano!” Meu adorado sogro, disse apaziguando: “Deixa eles casar, a gente faz um puxadinho ali atrás...”
Em dezembro de 1974 comprei a cama por 300 dinheiros.
Casamos-nos em dezembro de 1975.
Fomos abençoados três vezes: em 1978, em 1979 e em 1980.
Num vou contar a história toda, ainda.
Até breve.
Só hoje li o post. É que as vezes passo dias sem ler, mas quando retorno, começo de onde parei. Por isto as vezes posto comentários tardios, como este agora (mas não admito pular, entendeu . . .).
ResponderExcluirPercebo que a "escolha em meio as inúmeras possibilidades", pegou. Minha amiga já estava tão apaixonada pelo Zé, que nem enxergava as tais possibilidades, apesar delas existirem. Só pensava, falava, sonhava com estes mesmos sonhos seus. A espera entre as idas e voltas eram com muito choro de saudade. Tempos bons.E o melhor é ter participado desta história.
Grande abraço.