MOINHO

O MINISTÉRIO DA CULTURA ADVERTE:

Com a proliferação nefasta da internet indivíduos inescrupulosos, inidôneos e inabilitados para emitir crítica a respeito de produções artísticas e culturais têm usado a rede de computadores para divulgar opiniões que não correspondem aos princípios da melhor religião e prática da conduta cívica.

O acesso a material dessa natureza poderá comprometer seriamente o mais profundo tecido d’alma e, por força disto, os produtores e consumidores contumazes e ou eventuais serão punidos Na melhor forma e rigor da Lei.

Assisti a outros dois filmes esta semana: Bruna Surfistinha e A separação. Impactantes, oportunos, necessários. Minha intenção, neste post, é fazer um paralelo entre um e outro.

A prostituição e o divórcio não são contemporâneos. Sempre ocorreram, variadas as formas e conseqüências. O que há de novo então para que eu possa ocupar-me com os temas trazidos pelos dois filmes? Novamente, meu(minha) neto (a), que chega em agosto.

Bruna Surfistinha, estrelado pela extraordinária atriz Débora Secco e o maduro ator Cássio Gabus Mendes, aborda o tema milenar da troca do corpo por dinheiro. O macho que procurar o filme para ver a escultura, vai maravilhar-se sim: Débora é divina.

Cartola, extraída da experiência vivida com uma de suas filhas, nos legou uma de suas composições mais importantes:

Ainda é cedo, amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora de partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar

Preste atenção, querida
Embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és

Ouça-me bem, amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho.
Vai reduzir as ilusões a pó

Preste atenção, querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com os teus pés

Há uma cena em que um cliente, bem intencionado, convida Bruna para jantar em um fino restaurante. Bruna senta-se com as pernas abertas, intencionalmente agressiva. O cliente abre um estojo e oferece um colar e um par de brincos. Bruna rejeita, dizendo que não merece. Na sequência ele diz a ela: “Eu sei que dentro de você há outra pessoa, você não é isto!” Em outra cena, o mesmo cliente declara que o maior desejo dele era saber o nome verdadeiro de Bruna.

Quem sou e quanto valho? Esta questão está cada vez mais crítica. Está mais difícil, SIM, surfar nessa onda.

A separação, filme iraniano que concorre como o melhor estrangeiro ao Oscar 2012, é de outra ordem. Trata das circunstâncias a que estamos expostos. O juiz da causa de divórcio demandado pela protagonista consulta-a, em audiência, várias vezes sobre os motivos que a levaram a pedir a separação.

- “Eu quero sair para fora...”

- “E por que?”, pergunta-lhe o juiz.

- “Por força das circunstâncias”, responde a mulher.

A separação, sem dúvida, já é um filme extraordinário se assistido na dimensão da trama. O drama cotidiano dos personagens, no entanto, alcançou-me em outra reflexão. A mim remeteu a algo simbólico e contundente, marcado pela cena final, que será relatada aqui para desespero daqueles que não assistiram ao filme. Ainda assim, não o percam. Está no Belas Artes.

QUE FILHOS VAMOS LEGAR AO MUNDO? Ou

A QUEM PERTENCERÁ O FUTURO?

Até breve.

NOTA: Lembro ao leitor que a internet no Irã é monitorada pelos aparelhos de Estado.

http://cinema.uol.com.br/ultnot/reuters/2012/01/17/ira-adverte-contra-sucesso-de-filme-a-separacao.jhtm