terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

POSTERIDADE


Ontem ganhei uma flor de presente.
Definitiva. Marcante.

De quem falarei à exaustão, a ponto de você que me procura não mais fazê-lo. Parecerá tão próximo, íntimo, particular, que seus pudores vencerão o seu interesse e você não virá mais ao dasletra. Se o fizer, prepare-se: não será dela, da filha de minha filha, que estarei falando, mas de tudo o que Liz simboliza.

É aquilo que diz respeito ao que é prioritário e vital. Diz respeito à sobrevivência no seu sentido mais transcendente – que não tem a ver com o indivíduo, mas com sua continuidade. Esta identidade possui, portanto, características místicas. Trata-se da imortalidade não da alma, mas a imortalidade da identidade. A permanência não daquilo que inexoravelmente se vai, mas de uma visão de mundo, da obra, de cada um. Nossa obra-prima é um neto!” (*)

No final de 2010, eu e Ela embarcávamos em Confins com destino a Punta Del Leste, Uruguai. Encontramos um casal amigo nosso que, também, viajava para Punta. Quando chegamos a Montevidéu eu os convidei para ir conosco de carro, que eu havia alugado.

Não me recordo de nenhum centímetro da estrada de Montevidéu a Punta. Eu fui dirigindo o carro, mas com a atenção hiper concentrada no papo que travávamos com Damião e Teresa. Adoráveis pessoas, riquíssimas, de humor apuradíssimo e cultura invejável.

No início da viagem Damião comentou que acabara de completar sessenta anos. E que, para comemorarem a data, resolveram gravar um CD em família. Teresa sacou de sua bolsa um exemplar. Maravilhooooso!!! Tudo: a idéia, a seleção das músicas, o clima da gravação. A interpretação surpreendente de todos: a da mãe de Teresa, de Teresa, das filhas e de amigos e, sobretudo, do próprio Damião.

Meu coração transbordou de desejo. Era imperioso copiar a experiência do amigo. Não conseguia pensar noutra coisa. Quando voltei comentei com minha turma. Houve uma euforia inicial, mas com o tempo a idéia perdeu força.

A idéia de também gravar um CD foi modificando, buscando alternativas, mas jamais arrefeceu o meu desejo de memorar-me. No início de maio do ano passado meu filho Vladimir me provocou:
- “Por que você não faz um blog, pai?”

Lancei o meu primeiro post propondo-me linguar. Na sequência, postei escritos já prontos que estavam guardados pelas gavetas de inúmeros armários de inúmeras moradas. Depois fui tomando gosto pela coisa e quando me dei conta estava inexoravelmente vitimado pela idéia de me colocar a nu.

Passei desde lá até hoje verdadeiramente ocupado não com o que escrevo, mas com que inscrevo. Sobretudo em mim mesmo. Movimentei por demais o meu barro, mexi com minhas entranhas, bulinei áreas íntimas. Vivi intensa, desavergonhada e deliberadamente os meus sessenta anos.

Não poderia ocorrer ápice maior do que minha filha comunicar sua gravidez. Especialmente a minha Pretinha. Perdi orientação dos meus textos, da minha temática, do meu propósito que se fazia, ganhei um sentido. Entrei pelo meu passado adentro, busquei minhas raízes, descobri a seiva que me perpassa e nutre, estive com minhas memórias fósseis.

Ontem ganhei também ingresso para Barcelona e Real Madri no dia 22 de abril, no Estádio Camp Nou, Barcelona. De quebra vamos fazer o percurso que meu avô trilhou: Valência, Alicante, Elche e Cartagena.

Hoje meu primo, que já fez esse percurso, me disse que vai ligar à noite para a casa do nosso primo, que mora em Elche e que tem o mesmo nome do meu avô, para tramarem a viagem.

Vou ao encontro de repertório para contar as melhores histórias para Liz.

Essa flor.

Até breve.

(*) Bonder, Nilton – Judaísmo para o século XXI: o rabino e o sociólogo/ Nilton Bonder, Bernardo Sorj, - Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001 (in Sentados à mesa no século XXI, pag. 15)

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

FLOR


Mamãe e papai queriam muito dar de presente pro vovô a notícia de quem eu sou. Eles brincaram com o vovô dizendo que o exame era noutro dia. Aí o vovô fez até enquete pedindo ajuda prosoutro para ele poder assistir eu no filme.Só que mamãe já tinha marcado com o médico para que fosse hoje. 

Ai, hoje, a mamãe juntou com a vovó e a tia Camila e fizeram um café surpresa pro vovô. Mamãe entregou prá ele um convite.

Mamãe é que me passa o que vai acontecendo comigo.
Eu não estou prontinha ainda.
Falta um monte de mim.
Só daqui um montão de tempo que eu vou ver a luz.
Eu gosto muito de onde eu moro agora.
Papai e mamãe, ôôô, eles já sabiam que eu estava aqui. Só que eles não sabiam que eu era eu. Era só um neném.
Hoje eles ficaram sabendo.
Que eu sou a Liz.
Desde muito tempo eu sou sonho do papai e da mamãe. E de um monte de outras pessoas. Isso é muito legal. Vai ser muito bacana quando eu estiver toda prontinha e puder encontrar com todos.
Ah, é mesmo, hoje mamãe trouxe o vovô para saber quem eu sou.
É o dia do parabéns prá ele. Ele vai soprar, puxa, sessenta velinhas...
Mamãe só fala que ele é bobo.
Shuf!

domingo, 26 de fevereiro de 2012

POESIS II


Quatorze horas depois habemos poesia.

A proposta que João fez foi a de me ajudar a responder a uma pergunta que várias pessoas têm me feito.
- Agulhô, o que você quer? Neto ou neta?
Vou obter a resposta a partir da poesia do João, contando com a ajuda de vocês.
É importante ter presente que, para os nerds, PROGRAMA é POESIA. Então é isso aí embaixo. João quis como título: ESCOLHA DA VIDA.



Agora é que vem a participação de vocês. Entrem, por favor, nesse site. Viram? Agora sabem minha resposta. Comentem, por favor.

Lembro, ainda, que a enquete do FOLIA vai até as 22:00 horas de hoje.

Brigado e até breve.

POESIS

João Victor, ou será João Vitor? Isso não muda o azul de seus olhos. Ou serão verdes? João é o nerd da família, casado com Pit. Não por isto, mas porque ele é formado em Ciências da Computação e vive de cabeça baixa, sempre orientada para algum teclado.
Está passando o final de semana conosco em Santa Luzia, junto com Pretinha, Claudinho, Leandro, Camila e Pit. Camila e Pit são irmãs de Carina, as três filhas da desqualificada da minha cunhada, aquela do mico de circo.
João, antes de vir ontem para Santa Luzia, foi de bicicleta (oito quilômetros) encontrar-se com Leandro e Claudinho no nosso apartamento em Belo Horizonte para jogarem squash.
A quadra fica contígua à academia de ginástica e para acessá-la passasse por uma bateria de aparelhos. João entrou com sua bicicleta e cumprimentou as pessoas que faziam ginástica. Foi interpelado por uma senhora:
- “O seu apartamento qual é?”
- “1401...”
- “1401 é o meu apartamento!” Disse a moradora mais vibrante defensora dos direitos e deveres dos condôminos, sempre à luz do que rezam os estatutos devidamente complementados pelos preceitos constitucionais.
- “É o do Lozinho”, arrematou um João já não tão convictor.
- “Lozinho, que Lozinho?!!! Questionou a guardiã.
- “Ô Cláudio... qual é o apartamento do Lozinho?”
Cláudio, que jogava squash com Leandro, gritou: “1404!”
- “1404!” Repetiu um convicto João.
- “Mas 1404 é o apartamento do Agulhô...” disse a autoridade.
- “Ele é sogro do Cláudio com quem vim jogar squash...”
- “Mas...”
- “Se a senhora me permite eu vim aqui para jogar squash e não ping-pong sem bolinha. Me dê licença.”
João é assim. Puro, cristalino e com um sorriso que beira à ingenuidade. Encostou a sua bicicleta em um canto e foi jogar seu squash.
À tarde, já em Santa Luzia, estávamos todos na área de lazer de nossa casa e João pulou na piscina. Simultaneamente Camila gritou pelo nome da irmã: “Pit!!!” Quando João tirou a cabeça da linha d’água, saindo de seu mergulho, ele disse aflito:
- “Eu não fiz nada...”
Eram nove horas da noite, tínhamos acabado de sair da sauna e tomávamos uma cerveja eu, Claudinho, Leandro e João. Eu disse:
- “Segunda-feira eu completo 150 posts.”
- “Quantos você já postou?”, perguntou João.
- “147.”, respondi.
- “Então você tem que postar hoje, amanhã e segunda?”
- “Pois é...”
- “E aí?”
- “Aí que eu estou sem inspiração...”
- “Eu posso fazer um programa...”
- “Hein?!!!”
- “É... um programa para colocar no post.”
- “Como assim?”
- “Pô, pode ser legal Agulhô.” Interessou-se Cláudio.
-“Uma poesia...” Disse João.
São por estas e por outras que sempre acho que eu sou privilegiado. Sem inspiração, um pouco ansioso pela chegada da segunda-feira e me aparece alguém para me ajudar a cruzar a linha de chegada. E com uma poesia.
- “Já passa das nove horas e um programa leva tempo, não João?” Indaguei.
- “Meia hora.” Respondeu João, já teclando seu Ipad.
Fui dormir depois da meia-noite e deixei João debruçado sobre o meu laptop.
Às voltas com a poesia.

Até breve.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

EFÊMERO

Duas notícias de hoje fizeram-me reforçar o meu momento.
A primeira: o Dr. José Rafael Marquina, especialista em Medicina Intensiva e Broncologista residente em Naples (Flórida), que mantém contatos com colegas que cuidam da saúde do Presidente Hugo Chaves da Venezuela: “Eu calculo que entre três a cinco meses ele morrerá.
A segunda: “Morreu no início desta madrugada, aos 56 anos, a empresária Eliana Piva de Albuquerque Tranchesi, dona da Daslu. Ela estava internada no Hospital Albert Einstein, em São Paulo.”
Não serei juiz de nenhuma destas pessoas celebres. A mim não cabe opinar pelas suas escolhas, nem pelas circunstâncias, nem pelas motivações. Enfim, não faço juízo nem ético, nem moral e nem ideológico.
Apenas reflito.
Será que os fins justificam os meios? Em busca de poder e riqueza vale toda e qualquer conduta?
Mais uma vez a morte vem me dar a exata medida e lembrar-me novamente de minha querida avó Eulália: “Prá lá nós vamos.”
Comentei em ÓCIO os meus dias durante o carnaval, que foram especialmente ricos no que tange àquilo que está ocorrendo em minha vida agora. Posso estar jogando sobre as costas da minha filha e de meu genro uma expectativa maior do que seria razoável, mas sei que eles tiram de letra essa minha intensidade. Para mim, e nesse momento, é muito importante ser avô.
E por quê?
Acho que comecei a dizer quando trouxe SEIVA e sua sequência, passei por TORVELINHO, BALANÇO, MOINHO, FRUTO e agora com esta brincadeira FOLIA e sua enquete.
Certa vez eu deixava o auditório onde havia acabado de dar uma palestra e fui interpelado por um dos ouvintes que me parou no corredor e me entregou um pedacinho de papel. (Não era um voto para a enquete, não. Isso tem mais tempo)
- “Sempre que te ouço, lembro desta frase.” Ele me disse, ao entregar o papel.
Tenho o pedacinho de papel colado na moldura do meu laptop, onde está escrito:
“Se você tivesse acreditado na minha brincadeira de dizer verdades, teria ouvido as verdades que eu insisto em dizer brincando. Falei muitas vezes como um palhaço, mas nunca desacreditei na seriedade da platéia que sorria.” (Charles Chaplin)

Até breve.

PS> Rascunhei esse post em intervalos de uma reunião da qual participei hoje. Discutíamos projetos de milhões de dólares.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

( )

OLHA A ENQUETE DO FOLIA BOMBANDO, AÍ GENTE!!!!!!!!!!!!!
Manifestem-se!
O prazo é até o dia 26, domingo, às 22:00 horas já no novo horário (o horário de verão acaba no dia 25).
A votação favorável será massacrante. O Síndico do meu prédio veio reclamar dos pacotes de bilhetinhos que têm chegado à portaria.
Recebi correspondência dos Correios. Buscar encomenda protocolada lá eu não vou não. Só se mudar a tendência dos votos.
Aquele rapaz que invadiu a apuração do desfile de Carnaval das Escolas de Samba e foi preso em São Paulo; ele vai continuar preso num vai?
Nos dois últimos dias todo mundo que eu consultei foi unânime. Todos são favoráveis à minha participação no exame. É impressionante como as pessoas são solidárias nesses momentos.
A comissão organizadora, face ao pedido protocolado nesta data, houve por bem considerar a seguinte tabela para apuração dos votos:
1.     Manifestação com um S de SIM           >   01 (UM) voto a favor
2.     Manifestação com um SI de SIM         >   02 (DOIS) votos a favor
3.     Manifestação com um SIM                    >   03 (TRÊS) votos a favor
4.     Manifestação com SIMMMM              >  Considerar tantos votos quantas foram as letras M
5.     Manifestação com SIM... SIM...       > Considerar 3 (três) votos para cada palavra SIM.
6.     Manifestações ilegíveis, rasuradas, palavrões, em inglês, hebraico, tântrico, sânscrito, pânscrito e similares serão consideradas A FAVOR.
7.     Manifestação com SIM seguidas de comentários a respeito dos motivos e/ou enaltecendo as qualidades do avô se forem postados por ANÔNIMOS serão contadas considerando uma das cinco alternativas anteriores (1 a 5) multiplicados os votos por 100. Caso a manifestação seja assinada o multiplicador será de 1000.
8.     Manifestação com NÃO (independente do número de letras ou de palavras usadas, com ou sem pareceres médico-religiosos-jurídicos-oscambau, considerações extra peleja e congêneres, todas serão desconsideradas e o voto será sumariamente e definitivamente anulado.

Revogam-se as disposições em contrário.

Perdoem-me, estou intervalo. Falta muito pouco prá muito.

Até breve.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

ÓCIO

Enquanto a folia rola, eu pinto e bordo. Duas moradas e um desconforto com o que não está adequado nos dão muito trabalho, distração e investimentos.
Estamos em Santa Luzia e eu estou fazendo jornadas de oito a dez horas por dia substituindo o caseiro que está no seu justo e merecido gozo de férias.
Tinha uma torneira no jardim que pingava água, outra que o pintor quebrou, dois tanques para instalar e arrumar o quarto de bagunça dos trem que a gente vai acumulando.
Vários pontos para refazer a pintura, inclusive vinte e quatro vasos grandes para dar um trato terracota. Limpar filtros do poço de peixes, catar as fezes da Zuca e da Laka, recolher do chão as folhas das mangueiras.
Molhar duas vezes por dia a horta e nos finais de tarde todas as plantas dos jardins e árvores frutíferas. Só a rega leva entre duas a duas horas e meia, todos os dias.
Ficar com uma roupa velha e suja da lida. Com o corpo todo doendo, especialmente a região lombar. As mãos com cheiro de terra, água raz. Retinas repletas de verdes e cores que, nessa época, ficam mais reluzentes.
Um pulo na piscina, revigorar.
Nesses momentos eu agradeço inúmeras vezes à vida. Na minha solidão, quando estou cuidando dessas coisas listadas, sinto uma imensa alegria e dou tratos à bola. Faço planos, revejo decisões, faço “mea culpa”.
No final do dia, tomo uma ou duas taças de vinho. Assisto TV, filmes que possam virar post. Depois, durmo bem.
Esta noite sonhei. Eu estava na ante-sala de uma entrevistadora para uma oportunidade de emprego. Os candidatos deveriam ter mais do que sessenta anos de idade e, umas das características determinantes: especial disposição para construir um projeto que pudesse, efetivamente, contribuir.
Hoje acordei, molhei as plantas das varandas, fiz café, assei pão de queijo, pus a mesa. Coloquei ração para Zuca e Laka. Postei. Vou agora passar resina na base das paredes externas da nossa cozinha principal que fica contígua à área de lazer.
Lé, Fa, Claudinho e Pretinha vêm hoje, na hora do almoço. Bê e Carol não, ainda me cozinham.
Vamos com vários amigos almoçar em um restaurante, que fica próximo aqui de Santa Luzia, super indicado por um dos melhores gourmets de Belo Horizonte.
Quando retornar, devo ir à BH.
Desde quinta-feira as plantas do jardim vertical do nosso apartamento não recebem água

Até breve.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

FOLIA

Pensei em colocar um post que sirva como uma enquete, contando com a maciça participação dos leitores, inclusive internacionais. Acho que os pais não irão gostar. Pretinha dirá:
- Lé pelado, tudo bem. Bê te cozinhando, tudo bem. Mas essa enquete foi demais Estamiro.
O Claudinho irá dizer:
- Lozinho, você foi muito invasivo!
ELA (tremo, só de pensar):
- MOZINHO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Com o resultado da enquete eu estarei prestando um inestimável serviço para que se estabeleça, doravante, uma nova conduta social. Isso poderá resolver diversas questões de foro íntimo, desavenças entre casais e outras pendengas. Servirá até ao Conselho Federal de Medicina para estabelecer um procedimento que regulamente a prática. Dará, com isto, o adequado amparo legal.
Cumprirá, ainda, uma lacuna importantíssima no campo dos afetos dos ancestrais dos futuros sujeitos, principalmente se for estabelecida a prática como compulsória. Não, aqui eu sou obrigado dar razão a Pretinha: eu fui por demais. Imagine: forçar por lei.
Acho melhor a minha questão ficar restrita só à enquete. É importante, no entanto, que todos tenham presente que minha expectativa é que tudo seja feito com a maior discrição. Sugiro inclusive que a participação seja anônima, para evitar represálias.
Fica já estabelecida como regra: se não houver nenhuma manifestação, a favor ou contra, como resposta a pergunta formulada na enquete a decisão será dEla. E, se houver qualquer manifestação, a favor ou contra, a decisão continuará sendo dEla.  
Portanto, apelo aos leitores, ainda que isto possa implicar em riscos imprevisíveis, que sejam solidários à minha causa. Aqueles que não quiserem manifestar seu voto via blog podem fazê-lo via MSN, facebook, telex, telegrama, carta com ou sem AR, enfim, podem até deixar na portaria do meu prédio em um papelzinho escrito o voto.
Ah, podem fazer faixas e dependurá-las nas vias públicas das cidades. Podem fazer outdoors, cartazes, saírem às ruas. Podem parar o trânsito, fazerem passeatas, principalmente a favor. Por favor, com a maior discrição.
Se vocês acharem que convém, eu vou ao Programa do Jô, quem sabe do David Letterman. Do Danilo Gentilli não vou, porque é cópia da cópia.
Bom, acho que todos já entenderam quanto é importante para mim. Correndo riscos, lanço a seguinte enquete:
“O médico da Pretinha deve antecipar em dois dias o próximo ultrassom e permitir que o pai dela assista?”
O prazo para manifestações (de preferência, a favor) se esgotará às vinte e duas horas e um minuto do próximo dia 26.
Manifestem-se. A favor, ou melhor, por favor.

Até breve.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

SEIVA VII

Ele sempre soube que ele é o filho mais novo que eu gosto mais.
Nasceu o mais robusto de todos. O avô materno, que chegou a conhecê-lo pouco antes de falecer, colocava sempre a terminação ão no nome do garoto.
Dizem que ele puxou a família de meu pai, todos homenzarrões.
Dele eu assisti, ao vivo e a cores, o nascimento. Também era o terceiro, então eu já estava com o coração melhor aparelhado. O médico pedia a Ela que fizesse força (parto normal) e Ela franzia a testa. “Não é força com a cara não, sô.” Reclamava o grande Dr. Rossini.
Certa vez eu passeava com ele no colo e encontramos com pessoas que, admiradas com o garoto (filho de finalista em concurso de beleza com jovem de 23 anos, na época, super conservada):
- Que gracinha!
Ele apertava a mãozinha nos meus cabelos atrás da cabeça.
- Como você se chama?
Ele disse o seu nome.
- Onde você mora?
Ele disse o seu nome.
- Cadê a mamãe?
Ele disse o seu nome.
- Você só sabe falar o seu nome?
Ele disse, novamente, o seu nome.
Morávamos em Vitória e recebemos a visita de um casal de amigos. Estávamos todos reunidos e meu amigo começou a brincar com ele. Em certo momento ele, meio de saco cheio do cara, saiu com:
- Não vem não que não tem cueca prá vestir.
Garanto que até hoje nem ele sabe de onde tirou essa.
Perto dos oito ou nove anos ele nadava no Mackenzie e fomos vê-lo competir. A prova era de revezamento, ele foi o terceiro a pular na piscina. Fora, a torcida gritava:
- Vamos!!! Vamos!!! Mais rápido...
Ele fazia o seu nado.
Desde muito cedo a sua escolha e preferência foi o preparo de alimentos. Ele subia em um tamborete e, ao lado da mãe ou de Rosana (nossa ajudante em casa quando os meninos ainda eram crianças) descascava, picava e organizava. Ela comenta que mesmo com faca cega ele picava com esmero.
Meu filho mais novo sempre fez as coisas à sua maneira e dentro de seu tempo. Acho que por isto, talvez, ele tenha tanto gosto e vocação para o cozinhar.
A mim, inclusive, agora.
Ansioso, pelo que me prepara, aguardo.

Até breve.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

SEIVA VI



- Dona Rosa, é isto?!!!
- Não se preocupe. A hora que lavarem melhora...
Eu estava na sala de espera da maternidade conversando com a minha sogra, quando a enfermeira saiu da sala de parto trazendo, no colo, a criança que acabara de nascer.
Parecia um rato. E sujo.
Nossa sorte, marinheiros de primeira viagem, que as dores começaram numa hora que eu estava em casa. Peguei o carro, coloquei Ela dentro e fomos para o Hospital. Faltava gasolina no navio. Parei no posto de abastecimento e disse pro frentista:
- Enche rápido, que meu filho tá nascendo!
- Onde?
- Aí dentro do carro...
O rapaz segurava a mangueira tremendo igual vara verde. Eu não. Tranquilo igual cobrador de disputa de pênaltis em final de Copa do Mundo.
- Mas, Dona Rosa, a senhora viu como é feio e esquisito???
- É assim mesmo, daqui a pouco ele vai pro berçário você vai poder vê-lo e aí...
Quando eu o vi arrumadinho no berço eu coloquei as mãos atrás da cabeça e disse prá eu mesmo aos gritos:
- PUTA QUE O PARIU! EU SOU PAI! GRAÇAS A DEUS! ELE É BONITO PRÁ CARALHO!
Na primeira consulta com o pediatra, inesquecível DOUTOR Salvatore Lucce, quase que eu matei esse médico. O irresponsável pegou meu querido filho como se fosse um coelho e virou o menino de tudo quanto é jeito. Falei prá Ela:
- Eu vou dar um porrada nesse cara, já já...
Foi aí que eu perdi o medo de segurá-lo. Doutor Salvatore foi, talvez, aquele que primeiro me ensinou a ser pai.
Os avôs, na semana anterior do parto, haviam combinado que o neto teria que torcer pelo time que vencesse a partida. O filho da puta do Cruzeiro perdeu. Deu galo. Belo dia chega meu amado sogro com o uniforme completo do time da cachorrada. Esse ingrediente vai junto, porque meu genro também é fanático e sofredor. O sogro da Pretinha também. Ela também. A Pretinha também.
Melhor desconsiderar e seguir lavrando este texto.
Eu estava em São Paulo, a serviço, e resolvi comprar um presente que, para todo o sempre, meu filho lembrasse e jamais tivesse dúvida o quanto ele era querido pelo seu pai. Um aviãozinho movido a pilha. Um espetáculo de duas lâmpadazinhas vermelhas na frente das asas. Cheguei eufórico, desembrulhei o pacote, retirei a aeronave e entreguei ao menino de pouco mais de dois anos que brincava com um pedaço de graveto.
- Olha que o papai comprou!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
- Hãrran, disse o menino com o maior desdém à aeronave e continuou brincando com seu maldito graveto.
Meu filho dava ali a primeira de inúmeras lições que tenho apreendido e aprenderei com ele ainda.
Ser pai é ser coadjuvante.

Até breve.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

É ?

- E aí?
- Aí tudo beleza...
- E o blog?
- Vai indo...
- Acho muito íntimo.
- É?
- Sua família, seu neto, suas mazelas... Você... Você...
- É?
- Não é?
- É?
- Eu acho que você deveria usar esse espaço para trazer algo que possa interessar para além de suas histórias pessoais, você não acha?
- O quê?
- Do tipo: suas andanças nas empresas...
- Quais?
- Sei lá, pombas! Mas deve ser interessante você trazer sua experiência com executivos e acionistas...
- É?
- Deve ter muita gente que te procurará para saber da sua vida enquanto professor de MBAs, consultor, executivo, membro de Conselhos...
- É?
- Claro, um cara com sessenta anos, que passou pelas empresas que você passou, que tem vinte anos de consultoria, é membro de Conselhos, deve ter algo a dizer a respeito.
- Será que devo? Já tem muita gente fazendo isto, você não acha?
- Tem, mas sua contribuição nessa área pode ser mais uma...
- Mais uma? Interessante, eu sempre que relato minhas ruminescências a partir de comentários de filmes que assisto ou de causos familiares, até mesmo sobre o aguardo do (a) neto (a), fico pensando que, o que conta no fundo de uma estratégia, é que a experiência resulte em uma história pessoal que tenha valido à pena.
- Como assim?
- Bicho, estou fazendo sessenta anos. Toda a minha experiência deve ser colocada na capacidade de responder a uma única pergunta: VIVER VALEU?
- Você fala como se fosse morrer amanhã...
- A questão é exatamente esta. É que eu sei que vou morrer amanhã e, portanto, devo viver agora.
- Então?
- Não me parece que viver diga respeito, essencialmente, aos meios, mas aos fins. Minha relação com o fazer profissional esteve e estará, principalmente agora, orientada para extrair o melhor da experiência.
- Então. É disso que eu estou falando. Você contar de sua experiência e nela o que tem valido.
- É?

Até breve.
PS> Redigi este post enquanto, em uma reunião da qual eu participei, um acionista reclamava da competitividade no mercado e encontrava coro nos seus principais executivos. Não conseguia prestar atenção na conversa. Fiquei só pensando nas feiras livres dos domingos lá em Santa Teresa e lembrando, na minha infância, dos gritos dos feirantes para captar seus clientes.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

TORVELINHO

Sem dúvida, esta é a parte mais sensível do filme.
Bulir nas estruturas do emaranhado que constituem o patrimônio histórico do grupo familiar de uma certa cafua e seus posteriores puxadinhos da Rua Salinas. Um casal e seus dez filhos. Não se mexe nessa complexidade sem equívocos. É pedreira. Pra qualquer lado que se quiser analisar será sempre insuficiente e delicado.
De pronto, não concordo com a sogra de M. quando disse que naquela casa ninguém presta! Olhando de conjunto somos todos criminosos, é apenas uma questão de escala, extensão, concretude e explicitação. Ninguém adulto pode-se dizer freira em prostíbulo. A vida, em social, nos contamina.
Até eu mesmo, que posso andar nu. Em pensamento e em palavras cometi meus pequenos e tenebrosos crimes hediondos. Obras não. Nunca. Na cartilha religiosa de batismo, pequei e confesso. Nos parâmetros sei que me encontro dentro dos limites de tolerância. Quanto a isto estou relativamente tranqüilo. Devo ir para o céu.
Dos outros nove, que cada um faça a sua avaliação, mas cuidado com o que diz, sempre será por um viés do humano, portanto falho e impreciso, inclusive no sentido de pertinência e/ou necessidade.
De primeira é preciso trazer aqui o seguinte.
Lurdinha (na certidão, Maria de Lourdes) e Valderez foram as que mais penaram. Grácia também, um pouco menos. Lúcia, também. Jacinta pouco (por circunstâncias) e Jeanine, mais distante, foram as que menos penaram.
Marcos, Mauro, Getúlio e eu muito menos do que deveríamos.
Sobre minha ótica e lembrança, dos tenebrosos tempos, sobrou mesmo foi para Lurdinha e Valderez. Desde os primeiros sinais do Mal, até o dia do enterro, estas duas pessoas viveram, no limite, sua parcela de humanidade pura.
Foram anos a fio. Alternando incontáveis internações e estadias em suas casas, presenciando a decadência mental e física permanente, contínua e avassaladora. O Mal de Alzheimer cumpriu todo o seu processo no corpo de nosso pai.
E Lurdinha e Valderez foram as principais protagonistas da agonia.
No princípio, ainda com poucos danos cerebrais, nosso pai exigiu por demais delas e elas, em minha opinião, deram mais do que eram capazes. Com o passar dos anos, a devastação neurológica e suas conseqüências sobre a estrutura de ossos e músculos, foram construindo um corpo contorcido e inerte nas extremidades.
E, sobretudo dor. Nosso pai, certo período, gemia durante horas, um gemido alto, intenso e ininterrupto. A dor era tanta, que mesmo sedado, ele gemia ainda.
Os inúmeros cuidados para que não houvesse danos à carne, com infinitas trocas de fraldas geriátricas, movimentações sucessivas do corpo, apoiado por cobertores, travesseiros e tantos outros apetrechos.
Banhos, sentado na cadeira de rodas. Higienização. Troca da bala de oxigênio. Papas, injeções subcutâneas diárias. Medicamentos. Inúmeros períodos de internação hospitalar.
E, sobretudo carinho. Com os nervos em frangalhos e o corpo em fadiga, ambas jamais negaram cuidar, cuidar, cuidar e ainda cuidar. Durante anos, um período na casa de cada uma delas. Tiveram alguma ajuda de cuidadores, mas jamais foram capazes de substituí-las.
Lurdinha e Valderez: todo o meu orgulho, respeito e admiração.

Até breve.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

ALIEN

Ontem não postei. Tive um dia atribuladíssimo ou, na verdade, o aditivo teve efeito reverso e estancou a hemorragia. À noite, já em Santa Luzia, pedi a Ela que me socorresse e sugerisse um tema. “Esquenta não, daqui a pouco surge algum assunto... Um filme, quem sabe?”
Aí assistimos na TV Cultura, na sessão das 22:00 horas, A vida secreta das palavras, dirigido pela espanhola (catalã) Isabel Coixet, produzido por Almodóvar, estrelado por Tim Robbins. Surpreendente.
Hannah é convocada pela sua chefia para uma conversa. Ela é operária e trabalha há quatro anos em uma indústria de embalagens. Nunca havia tirado férias, nunca se ausentava do trabalho, nenhum apontamento negativo no seu dossiê disciplinar. Exceto que não se relacionava com ninguém, não conversava com ninguém, mantendo-se permanentemente isolada. A chefia lhe mostra folhetos turísticos de lugares que ela poderia conhecer ao redor do mundo, determinando que ela tire férias por trinta dias.
Josef trabalha em uma plataforma de petróleo em alto mar. Há um vazamento de gás com conseqüente explosão e incêndio em uma das instalações. Um dos operários lança-se às chamas. Josef tenta salvar o amigo do ato suicida. Em vão. Como conseqüência, Josef fica temporariamente cego e com sérios ferimentos por todo o corpo a ponto de não poder ser removido para o continente.
Hannah está em uma lanchonete da cidade para onde havia ido gozar férias compulsórias. Ouve um rapaz falar ao celular que procuraria uma enfermeira que pudesse cuidar de um acidentado numa plataforma instalada próxima algumas horas de helicóptero.
Hannah apresenta-se.
Josef tenta de todas as formas puxar conversa com Hannah nos primeiros dias que ela passa a cuidar dele. Aos poucos Josef começa a relatar fatos de sua vida. Ele havia dado um livro para uma mulher por quem havia se apaixonado. No livro colocou uma dedicatória na qual se declara à mulher. Ocorre que ela era esposa de seu melhor amigo.
Após alguns dias de convivência, Hannah afinal abre-se. Ela sobreviveu a Guerra dos Bálcãs. Ela relata os horrores vividos durante os dez anos do conflito. Os soldados do exército de seu país foram os mais violentos com suas próprias conterrâneas. Hannah, em uma das cenas mais impactantes, diz que um soldado colocou o revólver na vagina de uma criança de cinco anos de idade, que está ao lado da mãe presa por outro militar, e atira. Vira-se para a mulher desesperada e diz: “É eu acho que você não será avó.” Poucos dias depois a mulher faleceu de tanto sofrimento.
O filme é ficção. A guerra ocorreu.
Uma assistente social que acolhe Hannah em Copenhague diz no filme que a maior dor dos refugiados é de serem sobreviventes e que o mundo inteiro sequer comenta os tenebrosos fatos ocorridos ao longo daquela guerra.
Penso que, de quando em vez, devemos nos permitir oportunidades como essa. Filmes como A vida Secreta das palavras cumprem um papel importantíssimo para ampliar nossa visão de mundo e, em que pese nossa privilegiada história pacífica, não podemos ficar alheios ao que se passa.
Amanhã espero estar menos amargo.
Até breve.  

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

A(U)DITIVO

Há alguns meses atrás tive que tirar uma grande colméia e favos entre o forro e o telhado da suíte principal de nossa casa em Santa Luzia. O rapaz que fez o serviço garantiu-me que não há o risco das abelhas voltarem e fazer lá a sua morada e seus favos de mel. Prefiro morcegos, que também estão por lá, porque são predadores de cupins. Nossa casa tem muita madeira.
Coincidiu que de lá para cá passei a sentir um zumbido nos ouvidos. Procurei um otorrino que, antes de me examinar (sequer olhou para os meus ouvidos, quanto mais os meus ouvidos), pediu exames. Interessante como a medicina evoluiu, principalmente após o advento dos planos para amplificação de doenças.
- “O que poderá ser esses zumbidos, doutor?” perguntei ao médico.
- “Há pelos menos três possibilidades: uma otorr (não me lembro da palavra), ou um tumor cerebral ou, ainda, o zumbido continuará, podendo com o tempo aumentar, a ponto de o senhor ter que ser sedado para dormir.”
Achei que deveria mudar de diagnóstico. Procurei outro médico. Vou me divertir muito na minha velhice.
Fiz audiograma e timpanograma. Perguntei para a fonoaudióloga, que fez os exames, se eu deveria usar os mesmos óculos. Ela sorriu amarelo e disse: “O senhor está muito bem de escuta.”
Fui ao consultório de outro médico otorrino. A consulta, pelo plano, tem que ser realizada em quinze minutos. Soube disso pela agenda de horários e pacientes registrada em uma folha de papel sobre a mesa da recepcionista da clínica. Eles devem receber PLR.
Sentei-me a frente do médico.
- “Qual o problema do senhor?”
- “São meus ouvidos, doutor... estão com um zumbido...”
- “O que o senhor acha que possa ser?” Consultou-me o médico.
- “É que apareceu lá em casa um enxame de abelhas... Pedi a um rapaz para remover os favos e ele me garantiu, após a retirada, que elas não vão voltar prá lá e...”
- “E daí?”
- “Daí que eu fiquei pensando se elas não vieram instalar-se na minha cabeça...”
- “KKKKKKKK... Vamos examinar isso, então.
Colméia não é. O médico disse que isto pode acontecer às vezes e costuma sumir em até seis meses. Sugeriu que eu tomasse um remédio que ele receitou para abreviar o desaparecimento do zumbido.
Comprei o remédio e, por curiosidade, li a bula. Há nela uma instrução: QUANDO NÃO SE DEVE USAR ESTE MEDICAMENTO? Entre as situações listadas está incluído: RISCO DE AUMENTO DE HEMORRAGIA.
Resolvi tomar os remédios.
Vocês estão perdidos.

Até breve.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

BALANÇO

Nove meses, cento e trinta e sete textos, 103.525 palavras. Alguém me provocou questionando do porque dessa minha hemorragia verbal. Simples: para memorar a passagem dos meus sessenta anos e, de quebra, saudar a chegada do meu (minha) primeiro (a) neto (a). Não é suficiente?
Então para andar pelas ruas nu.
Há muita coisa ainda do que me desnudar, muitos episódios a relatar, muitas pessoas a reverenciar. Há muito ainda a revelar. No entanto, já me sinto muito bem lavrando minhas palavras. Dando um sentido literal à vida.
Gostei de ter um lugar, diferente de minhas gavetas, inclusive as internas, para desaguar minhas traquinagens, zombarias, inquietações, críticas, recados, artes. Meus sessenta anos foram muito bem vividos, em todas as extensões: tenho êxito profissional - de contínuo a membro de Conselhos de Acionistas; tenho êxito econômico - duas lindas moradas britadas pelo nosso gosto e cuidados; tenho êxito familiar - três filhos maravilhosos encaminhados às suas escolhas.
Tenho um amor profundo pela minha vida. Toda ela. Olho para trás dos anos e me sinto em paz com minha consciência. Jamais cometi um ato do qual pudesse envergonhar-me, jamais fiz mal ou fui mau para com alguém, jamais nutri ódio, mágoa ou ressentimento por qualquer pessoa.
Posso andar nu.
Há ainda alguns anos a sorver o melhor do meu tempo. Quero continuar compartilhando com anônimos e próximos que baterão ainda a minha porta virtual. Quero roubar o tempo de cada um para, a partir de mim, poderem pensarem-se. Tenho esta pretensão. Até porque não lhes custará nenhum peso financeiro e me enriquecerão de esperança. A troca me parece boa.
Talvez pela via dos textos alusivos a chegada do neto (a), ou pelos comentários de filmes, ou de minhas histórias pessoais singelas e comuns, eu possa convidar alguém que me procure a melhorar o seu caminhar, a rir, a emocionar-se, a pensar.
No entanto, há questões objetivas a serem cuidadas. Projetar-se dos sessenta para os oitenta é bem diferente do que dos vinte para os quarenta e dos quarenta para os sessenta. Emocional, física, intelectual e financeiramente.
Emocional: minha paixão por Ela maturará. Virão netos, quantos forem, serão amados muito mais (mesmo que isto implique em ciúmes) que os meus filhos. Eu terei muito mais tempo do que tinha há trinta anos e vou acompanhá-los em cada fase, passo a passo.
Física: sentirei dores e farei exames, envelhecerei a bisnaga de carne como a minha natureza assim o determinar. Não lutarei contra a minha preguiça e minha indisciplina para supostamente adiar o que está definido.
Intelectual: Quero deixar uma palavra, um texto, um livro, uma obra que faça alguém um pouco mais consciente e feliz.
Financeiramente: pagarei minhas contas e pouparei para viagens que me renovem o espírito.
Vou ao encontro de mim.

Até breve.