sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

VINHO

Em meados dos anos noventa desenvolvi o planejamento estratégico dos Diários Associados. Extraí da experiência incontáveis e fundamentais ensinamentos pela convivência com pessoas, algumas delas, especiais.
Ricardo Noblat, na época Diretor de Redação do Correio Braziliense é uma dessas pessoas com as quais tive o privilégio de conviver durante um bom período. Guardo com o maior carinho um exemplar de seu livro (que ele tirou de sua biblioteca) Céu dos Favoritos – O Brasil de Sarney a Collor no qual ele escreveu à caneta: “Ao amigo estimado Agulhô, uma das mudanças no Correio, com a esperança que tudo dê certo, 17/9/96.” escrita na página onde ele faz a dedicatória do livro: A Rebeca, André, Gustavo e Sofia, meus favoritos. Rebeca é sua esposa, André, Gustavo e Sofia são seus três filhos hoje já adultos.
Nas orelhas de apresentação do texto, feita por Virgílio Moretzohn Moreira, há uma preciosidade quando cita Hannah Arendt: “A política é feita, em parte, da fabricação de uma certa ‘imagem’ e, em parte, da arte de levar a acreditar na realidade dessa imagem. Não vejo razão de unir aqui, Arendt a Platão, quando o filósofo, num momento exponencial, sentenciou que a obra prima da injustiça é parecer justa.” A citação é oportuna também para servir aos famigerados projetos SOPA e PIPA do Congresso Americano.
Céu dos favoritos, editado em 1990, é uma coletânea de artigos de Noblat publicados no Jornal do Brasil de 1985 a 1989, analisando os fatos e suas versões da política brasileira.
·         “O espaço político e social do país fica cada vez mais fértil para o surgimento de um falso Messias que prometa virar tudo pelo avesso. 25/01/88”
·         “Collor é um político capaz de fazer qualquer coisa, mas qualquer coisa mesmo para alcançar os objetivos dele. (...) Pode até conseguir se eleger presidente da República, assim. Mas que tipo de presidente será? 15/12/89”
Hoje Noblat mantém um blog visitadíssimo no “O Globo”. Recorri a ele quando fazia uma varredura em manchetes para registrar no post APELAÇÃO. Deparei-me com um dos tópicos do blog: Diários de Avô. Ele escreve crônicas desde dezembro de 2007 véspera da chegada de sua neta Luana, filha de Sofia.
A partir daí travei com Valesca (pretinha), minha filha, a troca de e.mails:
ü  Pretinha,
Entrei no blog do Noblat, com quem convivi alguns anos atrás nos Diários Associados. Veja que pérola o texto dele. 
Beijo.

ü  Pai, entao eu achei ne...vc tem q continuar escrevendo, vc escreve tipo ele...
Já ri até...
Bjos! 

ü  Pai,
E essa parte de um dos posts:

-“ Você não será tão diferente das outras. Mas caso prefira, me dê Luana para criar. Você poderá vê-la sempre se quiser. E até poderá voltar para casa. E se fizer muita questão poderá trazer Vitor também.”
kkkkkkkkk...ja to vendo vc falando assim comigo....kkkkkkkk
to lendo vários aqui...
bjos

Ontem, no início da noite, fui dirigindo o carro para levar Pretinha junto com Ela ao ginecologista. Claudinho, meu genro, está fora a trabalho. Consegui estacionar próximo ao edifício do consultório. Enquanto as esperava terminei de ler Gosto e Poder, livro de Jonathan Nossiter.
Nossiter referindo-se aos enólogos empolados que fazem análises da bebida tipo: “plenamente maduro, revela soberbas aromas de acácia, com nuanças de cassis, fumaças e ervas queimadas, expansivo e redondo, com textura aveludada, autêntica opulência e baixa acidez...” escreve:
Por absurda que seja, essa cientificidade de araque corresponde perfeitamente a uma cultura que reluta em aceitar que o julgamento crítico abalizado possa conviver com a ambigüidade e a complexidade. Essa cultura prefere os absolutos, com o que têm de especioso, uma linguagem infantil e incompreensível que não requer nenhum compromisso e um senso da democracia brandido como falso estandarte, falaciosa garantia de pretensos fatos. O mesmo fenômeno está presente no discurso político dominante desde Regan, nos televisores do mundo inteiro e até nos computadores dos guardiões de nossa cultura.”
Eu trouxe da lojinha do Restaurante Andrés Carne de Res de Bogotá um pendente em forma de coração com asas que decora e indica o número e nome de cada mesa do restaurante. Já o coloquei na cozinha de nossa casa em Santa Luzia. Por força do texto de Nossiter escolhi a palavra que vou escrever na peça: TERROIR, que vem a ser, a fonte de todo gosto, de toda identidade e de todo prazer.
Quando elas saiam do edifício onde fica o consultório do ginecologista olhei ansioso para ver como que a Pretinha e sua mãe estavam. Elas entraram eufóricas no carro:
- Pai, mó cabeçudo...
- Mozinho, cê precisa ver que gracinha, os bracinhos, os pezinhos...
- Pai, mó cabeçudo...
Todo mundo sabe que eu gosto a pampa de filme. Ontem assisti ao meu definitivo. Ela gravou com um Ifone cenas inenarráveis tomadas de um certo útero.
Ontem à noite, já em casa, falava cabeçudo e dava gargalhadas sozinho, até que fui sancionado por ela:
           - "Sua filha é mesmo uma Agulhôzinha!

Eu avisei, se vocês não contribuíssem com O QUE SE PASSA, eu voltaria ao meu cotidiano.

Até breve.

3 comentários:

  1. eeeeeeeeee que bacana, vovô!!!! Parabéns!!! Que venha com muita saude!!! bjao

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  2. Tem muita gente que adora acompanhar seu cotidiano. Eu sou uma delas! O video do bebe ficou um barato!! Muito fofo!!!

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  3. Que bom que está tudo bem com o nenem!!! Muita saúde para vocês todos! Bjs da Cla

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