quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

RENDEÇÃO

Agradeço a contribuição ao dasletra do Julinho e do leitor anônimo que trouxeram ao QUE SE PASSA? questões entendidas por eles como atualidades. A do Julinho sobre a lei que será votada no próximo dia 24 no Congresso Americano sobre a questão da pirataria na internet e suas conseqüências sobre a liberdade de expressão. A do leitor anônimo que me pede para discorrer sobre os pecados capitais, inclusive atualizados recentemente pela igreja católica.
A princípio deveria investir um assunto em cada post, mas não me sinto aparelhado para manifestar-me nem sobre o primeiro e muito menos sobre o segundo. Vou arriscar palpite, aqui nessa conversa aberta, nutrida e possível, paradoxalmente, por algo que pode estar em risco após 24 de janeiro.
Sou avesso a normas, tenho horror a pilates. Nem as minhas próprias, quando as faço, cumpro. Toda disciplina me incomoda, tenho medo só de não pagar contas, especialmente aquelas quando não pagas no vencimento só são recebidas em agências bancárias. Por pura preguiça. Não gosto de fazer juízo conclusivo sobre nada, ainda quando o faça sinto muito pouca firmeza, até para permitir-me alterá-lo em seguida. Sempre acho que a razão é desnecessária, portanto ela pode ou não estar do meu lado. Eu sozinho me basto, por pura soberba.
Detesto fazer compras de qualquer espécie, enfrentar filas, disputar vagas em estacionamentos, atrasos dEla, você por isso e pouco mais me verá possesso em pura ira. Tenho duas casas, uma em lote de dois mil metros quadrados e outra em região nobre da cidade onde vivo. Dois automóveis, um que eu uso e outro que divido com Ela. Poderia viver em um único lugar, ter ou não ter automóveis, mas os tenho por pura avareza.
Não padeço de gula. Jamais relatarei, nem em Juízo Final, meus melhores sonhos de luxúria. Sei andar sozinho aos sessenta anos, o que denota minha pura vaidade.
Portanto, sou puro.
Todo juízo é arbitrário e tem sempre uma referência que o governa. Para reduzir crimes que se institua a pena de morte. Para que se preserve a pureza que se institua o pecado. Para que se saiba o mal que se aponte o bem. Puta sacanagem humana, para não dizer do barro que somos feitos, untados pela crueldade intrínseca.  
Vamos combinar.
Deixe-me livre. Toque a sua vida, tire a dor e a delícia de ser o que é, e fôda-se o mundo. Esse deveria ser um lema para minha modernidade. O outro que escolha matar ou morrer, furtar ou doar, gozar ou sofrer, ser ou não ser.
Permita-me, contudo, a sua experiência. Preciso dela para construir a minha própria pessoalidade, digna ou indigna. Eu sou porque me diverjo, como queria Guimarães Rosa e estarei sempre atento aos seus atos.
Se construir algo que sirva verdadeiramente a alguém e que ele possa deliberadamente fazer uso que faça. Se descobrir, se inventar, se criar, se compor, se tocar, se filmar, se brincar, se apontar, se denunciar, se for lá o que for, que seja absolutamente aberto, para todos, amplo, geral e irrestrito.
Mesmo que sejam mais amargas que já são as nossas verdades.
Mais, até dia 24, você poderá encontrar nos “cantos da internet” e, por favor, tome cuidados de como fará uso.

Até breve.
PS> O título do post é mesmo RENDEÇÃO, para que eu possa brincar com o anônimo que pediu REDENÇÃO. Eu me rendo.
Instrumento de tortura - Museu da Inquisição Cartagena

Um comentário:

  1. Lozinho,
    sacanagem! Descobri que cometemos todos os pecados todos os dias. Mamãe me falou que eu era um santo. Assim não dá!

    E o final, com este, você merece ir pra Hollywood.
    abraço,

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