segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

DOISMILEDOZE



JANEIRO VINHO

Ontem, no início da noite, fui dirigindo o carro para levar Pretinha junto com Ela ao ginecologista. Claudinho, meu genro, está fora a trabalho. Consegui estacionar próximo ao edifício do consultório.
Quando elas saiam do edifício, onde fica o consultório do ginecologista, olhei ansioso para ver como que Pretinha e sua mãe estavam. Elas entraram eufóricas no carro:
- Pai, mó cabeçudo...
- Mozinho, cê precisa ver que gracinha, os bracinhos, os pezinhos...
- Pai, mó cabeçudo...
FEVEREIRO
No fundo estou morrendo de medo do que vem por aí depois dos sessenta, especialmente com alguém que nos chega em agosto. Vou mostrar-lhe patos, peixes, tartaruga, jabuti, Zuca, Laka e passarinhos. Vou contar-lhe histórias absurdas que só eu acredito. Vou construir carrinhos de rolimã ou casinha de bonecas, com instalação hidráulica e coisa e tal.
Vou fazê-lo(a) sorrir.

Papai e mamãe, ôôô, eles já sabiam que eu estava aqui. Só que eles não sabiam que eu era eu. Era só um neném.
Hoje eles ficaram sabendo.
Que eu sou a Liz.
MARÇO PLANOS
Ao cair da tarde a levarei, de mãos dadas, a passear pelas ruas do nosso condomínio. No retorno, cansada Liz pedirá colo. E eu a trarei contando histórias fabulosas ocorridas na mata que nos rodeia.
Quando chegarmos em casa, Liz perguntará ao papai, à mamãe e à vovó se tudo que o vovô contou foi verdade.
Eles nunca saberão exatamente o que eu estive contando para Liz nos passeios nas tardes de domingo.
Esse é o patrimônio que o vovô quer deixar: que Liz sonhe.

ABRIL AGOSTO

Agora energético na veia vem mesmo é daqui a quatro meses. Como demora, meu Deus? Se bem que ansiedade num é bom prá saúde.
Liz só deve estar “passando um batonzinho”.

MAIO PUF

“Teve um dia que o vovô tava viajando de balão aí anoiteceu e ele teve que ficar estacionado na lua, só voltando para casa no dia seguinte. Aí quando ele chegou, a vovó ralhou brava com ele porque ele num tinha avisado onde ia. Aí o vovô falou prá vovó que tinha dormido na lua e a vovó disse que ele era doido, como ele pode ter dormido na lua sem ter levado nenhum agasalho.
- E faz frio na lua, vovô?
- Fazer frio faz, mas o vovô achou um pedacinho de sol e ficou dormindo debaixo dele até demanhãnzinha.”

JUNHO PORQUÊS

- Vovô, puxa... Eu só te perguntei de onde vêm os bebês.
- Eu já te disse, Liz. Da felicidade.
- Então eu vim da felicidade da mamãe e do papai?
- Sim.
- Vovô, o que é transar?
- Hein???!!!
- É que um menino lá da escola falou que os bebês vêm depois que o papai e a mamãe deles transam...
- Viu Liz? Por isso que eu te disse que você deveria perguntar prá sua mãe...

JULHO ESPERA

Meço medidas do quarto de nossa casa em Santa Luzia onde eles ficarão, espero, nos intervalos da lida. Onde colocaremos a poltrona em que Pretinha se sentará para nutrir a flor; as prateleiras para colocar coisinhas, xampus, talcos, trequinhos. O berço ficará voltado para o corredor, imaginar-me na cozinha e Liz ao acordar levantar-se e chamar:
- Vovô!!! Vovó!!!
Estamos a trinta ou trinta e cinco dias da Felizcidade.

AGOSTO PULSAR

Ele se dirige para a antessala separada por uma chapa de vidro e vê, no interior do berçário, sua esposa e seu genro acompanhando a enfermeira que coloca sua netinha numa incubadora. De lá de fora, através de gestos com as mãos, consulta se tudo está bem.
Ele está absolutamente certo de que viveu integralmente o dia 01 de agosto de 2012, desde o seu despertar até o momento em que desabou sobre sua cama para dormir o sono dos coadjuvantes.

SETEMBRO MÊS

Hoje ela ainda procura entender espaços mais claros e mais escuros, sente desconfortos físicos especialmente os de temperatura e “prazeres” mais complexos como quando lhe surge aquele rosto permanente que a fita e do qual emanam sons que se repetem inúmeras vezes ao dia:
- Ó minha filhinha, ó minha princesa...

OUTUBRO SESSENTA

Eu sei bem o que vejo quando a olho. Ouso dizer e se for preciso eu mostro fotos quando tinha menos idade, ali pelos um ou dois anos de vida. Liz está a minha cara. Até Claudinho, o pai, já passou a reconhecer o fato inconteste. Ele mesmo diz que quando ela está séria, ou irritada, lembra muito a minha expressão.
Quando ela ri, Claudinho diz que ela se parece com ele. Vamos acompanhar o desenvolvimento da criança. No fundo o que importa é que Liz está cada vez mais linda, especialmente quando está séria.

NOVEMBRO NOVENTA

A Noninha pesou 4,975 quilos e mediu 58 centímetros.
Aos poucos vai se incorporando à paisagem como alguém com quem se interage. Ela nos acompanha, alguns até busca (eu, por exemplo) com o olhar. Para alguns ela sorri, dá até gargalhada e deixa escapar uns gritinhos.
Não gosta de trocar roupa e também não gosta de ficar no colo deitada com a cabeça prá cima, prefere passear deitada de bruços sobre o braço de quem a carrega. Se você der umas palmadas de leve na bundinha dela, ela apreciará.

DEZEMBRO SÍNTESE




sábado, 29 de dezembro de 2012

UVA



Em um relacionamento de mais de quarenta e três anos tudo pode acontecer, inclusive nada. De quando em vez um dos parceiros, quase sempre o mesmo e mais frágil, supita. Somente passado o frisson é que vai se perceber que as razões e os contornos das encenações decorrentes foram, no episódio, as mesmas.

Ocorre que os anos vão cobrando dos atores uma performance mais elaborada na medida em que pior do que a iminente hecatombe do casal é a exposição do mesmo ao ridículo. Então é importante compreender que aquilo que era travado nos intramuros, intraquarto, intralencóis, passa a desaguar para parentes, amigos, passageiros virtuais desconhecidos e desavisados.

O drama recebe o suporte trágico de pessoas íntimas que contribuem com afinco para que a veracidade da trama ganhe sustentação. Aquele que supita, protagoniza e dá ritmo e densidade aos desdobramentos. Coadjuvantes, escolhidos a dedo intensificam a dramaticidade.

A coisa dura em torno de duas a três semanas, para não ficar chato. Ninguém aguenta tanto tempo fazendo expressões de preocupação, solidariedade explícita, telefonemas longos, emails chorosos e assemelhados.

Os filhos, já passados dos trinta e também com seus relacionamentos indo para o mesmo enredo, não tem muito saco para debaterem o assunto. O fazem para parecer que, inclusive aí, a família deve comparecer junta. “Pai, o nosso também é assim. Tem hora que dá vontade de jogar tudo lá fora”.

Eu faço cara de quem jamais imaginou que fosse.

Os parentes próximos, tipo irmã da parte achacada, são os piores. Alienados do processo burlesco, sofredores contumazes, insistem em caminhar na direção da reparação dos danos. “Já falei para pararem com essa bobagem!”, é parte do script que nem sempre cai bem. Como considerar bobagem um supito?

Amigos íntimos não. Com esses é delicado mexer e eu explico por que. Enquanto a trama se desenrola ocorrem afastamentos do casal ou mesmo de um de seus membros, inclusive em datas imperdoáveis com consequências irreparáveis. Ali, naquela data única e hiperaguardada, quando todo mundo quer rosetar, o infeliz do amigo inventa de afrescurar-se e não comparece.

No fim, eu sei que todos sabem como acaba invariavelmente o imbróglio. Na cama, com sexo selvagem que agora, face às circunstâncias, implica em consequências só reparadas com uma dosagem adequada e controlada de Dorflex.

Ontem, à noite, Pretinha sentenciou:

- “Pai, quero ver como você vai limpar essa merda”...

Recorro mais uma vez aos amigos. Durante a trama encontrei-me com o protagonista de FIO. Ele estava parado em um semáforo, com o carro (que tem teto solar) da esposa. Vendo-me atravessando na faixa de pedestres, levantou os braços para fora do carro, buzinou e gritou:

- Ô Agulhô, tô sabendo que você tá passando uns querecuteco, cara. Esquenta não, amigo, até a uva passa.

Além desta alegria, neste último dramalhão mexicano, o protagonista recebeu ganhos secundários que lhe valeram o desgaste. O mal estar que pairava com um dos membros do clã foi atenuado, para não dizer sanado, e abriu-se uma janela para uma perspectiva promissora. Tiveram uma longa e profícua conversa que culminou com a volta do pródigo.

Há um último aspecto ainda a considerar. ELA não conseguiu postar em TÊNUE um comentário, o que eu faço agora:

“Tênue, como Dora ou os Scherebers freudianos...
Aimée ou Homem dos Miolos Frescos lacanianos...
Dom Quixote e seu Sancho Pança, diria Foucault;
Os bentinhos machadianos, nos diz Schuwarz;
Ah,Ah, Ah!!! Muro sartreano...
Ai que saudade do VIGORlino, cabra macho,
Agora tênue, decapitado, desavisado.
Odisséias, Ilíadas: homens d’cantados...”

Eu tenho ou num tenho razão, posso ou num posso, mereço ou num mereço ter um supitinho de vez em quando? Conclamo a todos que, no próximo, nos superemos.


Até breve.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

TRANCO



Julinho é meu sobrinho e afilhado. Leitor e comentarista assíduo do blog rivaliza com Camila, também sobrinha e afilhada, qual deles é o crítico mais suspeito. Se o leitor tiver paciência, pesquise em alguns posts os comentários publicados por um e por outro. Dá náuseas de tanta puxação deslavada.

Muito bem. Em email, escrito cheio de reservas e cuidados, Julinho sugere que eu procure site de projeção para que, caso eu tenha um post ali publicado, eu consiga ganhar notoriedade, recebendo inúmeros comentários. Chegou até sugerir um site e enviou os critérios do mesmo para que o candidato se inscreva no processo seletivo de textos.

Respondi o email à altura. Pedi a ele que escolhesse entre os 330 textos, publicados aqui no dasletra, cinco que pudessem concorrer na seleção do site e disse que ele mesmo estava autorizado a fazer minha inscrição. Julinho não gostou muito da tarefa não, eu acho. Mas também quem pediu a ele tal tipo de sugestão?

"Quem pariu Mateus que o embale", diria a minha avó Eulália.

Faz parte do meu passatempo atual pesquisar outras produções do cotidiano e, sem nenhuma modéstia, considero os meus textos menos ruins do que boa parte daqueles que são publicados na rede. Claro que os meus guardam temáticas às vezes mais íntimas (até demais, corajosas já me disseram), mas mesmo assim.

Além do email referido acima, Julinho em seu último suspeitíssimo comentário, apoiado em citação original em inglês, sinaliza a mim que escrever é um ato de generosidade. Que eu tenho sido generoso em publicar minhas histórias, com H maiúsculo (num tô falando?). Se ele continuar assim vou colocar aqui, de publico, o que soube hoje: qual foi a artimanha que ele usou para fazer com que Mônica capitulasse e fosse com ele ao altar.

Deixa dizer de uma vez por todas e a todos: só há uma razão para a minha escrita. Confesso que me deu um puta branco agora, mas até o final eu me lembro. De qualquer forma, independente do que me motiva, eu não lembrei ainda (mas eu sei que é muito), seguramente não é por generosidade. Ou pelo menos, não só.

A escrita não é, em si, um ato. Eu penso que escrever é mais um mal estar do que qualquer outra coisa, especialmente quando se tem a pretensão de ficar livre de algo que, supostamente, seja universal. A dor escrita, por mais íntima, jamais é particular. Ninguém lê o que foi escrito pelo autor. O que se lê já estava inscrito naquele que se depara com o texto.

Se há generosidade, então e assim ato, é do leitor que, ao sorver o texto credita ao autor a sua viagem. Não, não é bem assim que ocorre. O texto não ultrapassa a função de ser veículo, quem dá destino, intensidade e sentido é o leitor.

Ato de generosidade é de Julinho, que me estimula a produzir cometas.


Até breve.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

COMUNHÃO



Ok. É Natal.

Fiquei pelejando para recuperar da memória frágil "a" Noite Feliz/Noite de Paz, entre as sessenta.

Deixei de lado a tarefa já que estava diante da mais expressiva, eu acho. Na solidão compartilhada com uma única taça de vinho tinto e um prato fundo que abrigava o capelete, recém preparado e deixado em panela sobre o fogão pelo querido filho pródigo e minha nora, pensei. Embalado pelo som distante de uma bossa nova que ecoava do canal pago, com as luzes todas do apartamento apagadas, iluminado apenas pelo claror da cidade.

Pensei.

Votos recebidos de tantos amigos queridos, de executivos de empresas clientes, de parentes poucos e clementes, de Pretinha e Claudinho, de Lé e Fabiana. E de outros tantos, que não nomeio. Fui surpreendido pelo toque do meu celular as três e meia da madrugada: "Agulhô, você é muito importante prá mim, cara", e desligou. Sei pelo número registrado que é um cliente, movido por um estado etílico avançado e por uma dose de felicidade provavelmente aguda.

Pensei.

Começo a crer que a idéia natalina faz algum sentido. Pretinha pelo FaceTime me disse: "Natal é legal, né pai"? Agulhozinha que é, agnóstica e cética, me estimulou a descobrir por que. Não está toda pronta ainda, mas há sinais de alguma conclusão. Não sei se pelo andar dos anos sobre as compreensões mais sensíveis eu me dou conta de que é sim, míster, parar no acostamento da estrada da vida. E renovar destinos, velocidades, combustíveis e companhias.

Pensei.

O que me valerá ainda viver? Pelos netos, pelos textos, pelas dores físicas, pelo ocaso e decrepitude digna, pela sabedoria anciã e nobre? Pela tarefa indelegável da função paterna e granpaterna? Ouvi ontem mesmo de Lé, que ele não consegue livrar-se deste caráter, o que me alegra fundo. Pelos poucos e adoráveis amigos que, também por força dos anos que se acumulam, consolidam um singelo afeto e cumplicidade? Pelos meus nove irmãos, ainda vivos, que mantenho distantes e ausentes, mas que no fundo, apesar de históricas desilusões, com padeço?

Pensei.

Por aquilo que não deixei e nem deixarei jamais envelhecer, meu sonho juvenil, de mudar o mundo. Isto mesmo, ser protagonista de uma transformação que afinal enderece o Humano a um eixo distinto de rotação deste que está posto? Parece não, é sim desta loucura que embebo o meu inquieto espirito. Lembro agora, da dedicatória à meu pai de um livro que escrevi na juventude, INFECTUM, onde registrei: " Odeio quem quer que seja que não tenha a mão escalavrada no trabalho, aquela mão pesada e frágil, aquela mão que se fez máquina por necessidade. E tenho vergonha das minhas, essas mãos de príncipe. Minha amargura, doravante, será minha ideologia".

Pensei.

E, sobretudo, pensei em propagar a alegria. Assim, desejo a todos aqueles que batem à minha porta, um tempo de reflexão e que esta possa resultar em dias mais ricos e felizes.

FELIZ TEMPO NOVO A TODOS!!!

Até breve.




domingo, 23 de dezembro de 2012

AFTER



Recebi ontem, pelo correio, as edições de maio/junho e julho/agosto do Suplemento Literário de Minas Gerais.

Hoje, pela manhã comecei a ler a edição de maio/junho. Na contracapa há publicado um poema de Derek Walcott, que nasceu em 1930 na Ilha de Santa Lúcia, Índias Ocidentais. Ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1992.

O título é, na versão original, "LOVE AFTER LOVE". A tradução foi de Rodrigo Garcia Lopes, poeta paraibano.


Virá o tempo
Em que você, exaltado,
Vai saudar a si mesmo chegando
à sua própria porta, em seu próprio espelho,
e vão trocar sorrisos de boas vindas,

você vai dizer, sente-se. Coma.
Vai amar o estranho que um dia você foi.
Dê vinho. Dê pão. Devolva seu coração
pra ele mesmo, o estranho que o amou

por toda a sua vida, e a quem você ignorou
por outro alguém, que o conhece de cor.
Pegue da estante as cartas de amor,

as fotografias, as anotações desesperadas,
descasque seu reflexo do espelho.
Sente-se. Sirva-se da vida.


A poesia, invariavelmente, dá conta.


Até breve.


Nota: Acesse o Suplemento online: www.cultura.mg.gov.br

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

OCEANO



Enquanto isto, diante de um mundo que se acaba, Liz ingênua e doce, praia.


Aguardando o avião no aeroporto


Semidesnuda


Charme

Must



Até breve.






quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

CHITA



Ricardo Noblat, ex-diretor do Correio Braziliense, hoje blogueiro do/a Globo, visitadíssimo, me disse certa vez que após o fechamento da edição do jornal ele reunia a turma da redação e:

- “Vamos ao horóscopo”...

Cada um dos jornalistas presentes e exaustos escrevia uma frase ou outra de cada signo. “Era nossa catarse”. Disse-me, Noblat.

Eu lia horóscopo, sempre de manhã, bem cedo. Teve um dia que não li e na hora do almoço quase me envolvo em um acidente dirigindo o meu carro. Quando cheguei em casa, corri para o computador acessei a página e estava lá: “Cuidado, pisciano, possibilidade de ocorrência de acidentes involuntários ao longo do dia.”

Hoje, leio horóscopo no dia anterior da previsão. Sabe-se lá a hora da ameaça ou da oportunidade.

O que os astros me reservam para hoje? Vejamos:

“Os piscianos encontram hoje um motivo grande para ouvirem suas próprias reivindicações e necessidades, respeitar seus limites e sensibilidades. Através deles o mundo entenderá fatos incompreensíveis e importantes”. Barbara Abramo, Jornal Folha de São Paulo.

Eu sempre achei que sou foda, agora eu quero ver aí quem vai ter dúvida. A mulher que escreveu isso aí acima é bárbara e sabe das coisas, ora gente! Eu tô aqui fazendo um esforço descomunal para essa cambada que me lê entender o que se passa e tem uns ou outro aí que dá de ombros? Vê se emendam, néscios!

Posto isto, tenho prá hoje de importante o seguinte:

"A grande urgência que existe é de dar efetividade à decisão do Supremo. Esse esforço magnífico que foi feito pelo Supremo no sentido de prestigiar de forma importantíssima os valores republicanos não pode agora ser relegado aos porões da ineficiência. Não podemos ficar aguardando a sucessão de embargos declaratórios. Haverá certamente a tentativa dos incabíveis embargos infringentes. E o certo é que o tempo irá passando sem que a decisão tenha a necessária efetividade".

Declaração do Procurador Geral da República Roberto Gurgel a respeito da sua decisão em solicitar a prisão imediata da corja do Mensalão. Nesta quarta-feira, foi a última sessão plenária do Supremo. O tribunal voltará a se reunir para julgamentos em fevereiro. Até lá, os pedidos urgentes serão decididos pelo ministro de plantão na Corte. De hoje até meados de janeiro o responsável pelo plantão será Joaquim Barbosa. Depois o plantão ficará com o vice, Ricardo Lewandowski.

Outro astrólogo leu os astros e configurou para hoje no meu signo:

“Apesar das pressões, nada precisa ser feito na hora da ansiedade. Pelo contrário, é nessa hora que você necessita se retirar por alguns instantes para respirar fundo, recuperar o ânimo e colocar a cabeça no lugar”. Oscar Quiroga, do Estadão.

Prá quem é próximo sabe que o bicho tá pegando. A questão é achar por onde anda a minha cabeça para colocá-la no lugar. Alguém sabe por onde ela anda, alguém a viu por aí? E depois, se encontrá-la, alguém sabe onde eu devo colocá-la?

Outra astróloga ainda, enuncia:

“Em seu signo cresce a Lua, sinalizando uma fase de expansão, nativo de Peixes. Período oportuno para crescimento profissional e das metas que quer realizar no novo ano. É propício inovar, mudar a forma como expressa suas habilidades. Isso pode influir na condição financeira”. Isabel Mueller, UOL.

Eu num tenho mais prá onde crescer profissionalmente, se já sou ancião Conselheiro e minhas metas estão muito claras. O que me pegou aí, dona Isabel, foi esse negócio de expressar minhas habilidades com impactos na questão financeira. Acho que vou começar logo melhorando isto.

Ô gente, foi mal, hein? Desculpa aí, viu. Vocês não são uma cambada e ninguém daí é néscio não, viu?

No fim, quem acabou me instruindo foi:

“Com Vênus na Casa 9, você sente uma atração maior por princípios éticos e comportamentais superiores, e faz um compromisso com sua própria alma, no sentido de se tornar uma pessoa melhor”. Personare


Até breve.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

TEMPO



Não, longe disso, acho mais do que natural, importante, necessário, educado, civilizado e tudo que for mais adequado: desejar a todos boas festas e feliz ano novo.

Também não sou assim tão frio ou ignorante a ponto de achar tudo uma chatice. Não, longe de mim uma coisa desta. A questão é que eu não acho, eu tenho mesmo por convicção que já é hora de sermos mais criativos e inventar algo mais interessante para fazer no fim de cada ano.

Tá bom, pode até rolar festas, tudo bem. Pode rolar presentes, claro o comércio varejista divide o ano em três datas: Natal, mães e namorados. O que fazer se a ilusão é que vende?

Pode rolar até feriado e, em minha opinião, pode até ser fixo: Natal sempre na penúltima terça-feira e fim de ano sempre na última, independente do dia do mês. Ninguém tá ligado mesmo.

Pode ter até cenas de confraternização corporativa, familiar, classista, e outras embromidades. Tá valendo, até porque algumas são mesmo emocionantes. Mas todo ano tem que ser a mesma xaropada?

Que tal, na última segunda-feira de cada ano, fazermos um mutirão cívico, tendo como núcleo de ação a rua. Sim, a rua. Reservada única e exclusivamente para as pessoas se cruzarem, se cumprimentarem com um alô que seja, para trocarem amenidades, abrirem uma amizade, se falarem enfim.

Então circularão apenas veículos de serviços à comunidade: ambulâncias, viaturas policiais, composições do corpo de bombeiros. E só, nada de ônibus, caminhões, trens, metrô, aviões,  monociclos, biciclos, triciclos, assemelhados e demais tocados mecanicamente ou a feijão.

Carros de passeio ou de aluguel, naturalmente, também não circularão. Caso aconteça o transgressor será detido e levado junto com o veículo para um pátio e lá permanecerá até a zero hora de terça-feira. No pátio poderá descer do veículo para interagir com os demais transgressores  detidos, mas não poderá sair dos limites do pátio.

Assim, somente poderão circular veículos de assistência, segurança e resgate sem uso de sirenes.

E pessoas.

Nenhuma casa de comércio abrirá as portas, exceto aquelas destinadas à alimentação e drogarias.

Serão permitidos comerciantes ambulantes, que poderão vender comida e bebida exceto aquelas contendo álcool. Quem for pego vendendo e/ou ingerindo álcool será detido na forma da Lei e levados para o pátio onde se encontrarão com outros transgressores.

Recomenda-se que agremiações de diferentes escopos, associações de classes, guetos, trupes e gangues não se aproveitem para ensaiarem manifestações de qualquer cunho. Quem insistir, pátio neles.

Enfim, a ideia é simples. A rua será exclusivamente para o trânsito de pessoas.

Eu num sei, mas deve vir algo de novo daí. Ainda aposto que um ou outro proponha uma ação legal onde a gente possa se engajar. E, se não resultar em nada, pelo menos fitamos, uns aos outros, com maior interesse.

Pretinha e Claudinho devem ir para rua. Eu ficarei pajeando Liz. Por um tempo, do alto do meu apartamento estaremos, eu e minha netinha, admirando as pessoas se encontrando, trocando palavras e o som do acalorado alarido me fará afinal feliz.

Depois descerei para a rua e passearei empurrando o carrinho onde carrego minha netinha.

Liz fará o maior sucesso entre os transeuntes.

Eu acho.



Até breve.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

TRUCS



Sempre achei final de ano meio brugsthauol.

Não procure, não há tradução, já que é uma palavra escrita aí do jeito que saiu. Pois é, e é assim que vejo final de ano: brugsthauol, estranho, sem sentido.

Claro que tem coisas legais também. Estradas repletas de automóveis, shoppings abarrotados de pessoas e embrulhos, aeroportos repletos de máquinas fotográficas de promoção de xampus focadas no avião ali do pátio.

Tem também comida e bebida, aos borbotões.

Show de Roberto Carlos e jingle de despedida das celebres globais.

Têm fogos, milhões de pedidos à meia-noite e pulinhos sobre sete ondas. Velas e babilaques. Beijos e manifestações de agora vai. Bailes e carnaval.

Retrospectiva. Prêmios e listas dos melhores do ano.

Catástrofes pluviométricas.

Defloramentos.

Mas, espera, por que tanto pessimismo? Final de ano pode ser também: brugsthuaol. Como brugstauol não tem tradução, e é assim, também, que a gente pode ver final de ano: brugstuaol, promissor, alvissareiro, prácimex.

Afinal depende de nós. Que a paz reine sobre os povos, que a economia cresça e seja equânime, que a política seja limpa e orientada ao interesse do cidadão.

Que eu receba promoção ou mude daquele trabalho, que eu comece minha ginástica, meu tratamento de dentes, faça minha lipo. Troque de carro, compre um IPad, um equipamento de cross.

Que afinal eu consiga que ela olhe para mim, ou que ela pare de olhar para mim, ou que ela vá prá o diabo que a carregue, ou que ela volte, ou que ela tenha um filho meu, que ela se case comigo, que ela...

Que um milhão de votos que a gente recebe nos cartõezinhos, email e outros meios sejam atingíveis no próximo ano. Enfim, que...

Viu? É apenas uma questão de brugs.

Se preocupe não, se não der este ano, ano que vem tem mais.


Até breve.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

CURTO



No sábado estive conduzindo um workshop no Hotel Tivoli Monfarrej em São Paulo. Rolaram também debates sobre sustentabilidade e outras modernidades, pós-modernidades, futuroladidades e outras modalidades de enrroladidades.

Tem hora que me dá preguiça de discurso.

Eu não desisto porque sempre tem algo que sobra e, sendo honesto, não é pouco. Encontro pelai gente da melhor qualidade, tentando fazer diferença, que vale a pena apostar, ouvir e ter como referência.

Só que em um ambiente corporativo, apinhado de gente parruda, veio um cara lá e saiu com Fernando Pessoa:

"Há um tempo em que é preciso
abandonar as roupas usadas
Que já tem a forma do nosso corpo
E esquecer os nossos caminhos que
nos levam sempre aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia
E se não ousarmos fazê-la
Teremos ficado para sempre
À margem de nós mesmos".

Bastou.


Até breve.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

TÊNUE




Como aquele ali, dramaticamente fino, tecido nas duas últimas semanas em que eu não estive aqui. Despenca de um dos cantos da parede, preso ao teto, leve, esvoaçante ao vento brando que sopra das janelas, escancaradamente abertas, do meu quarto. A aranha percorre outras linhas ou já se foi, me deixando ainda mais só.

Ou como outro, que vi hoje logo que cheguei em casa. Dele pendia um pêssego maduro. O galho fino suportava, como em toneladas, o momento do desenlace.

Há ainda, o próprio dia que transcorre, violentamente breve, escoando.

As infinitas lembranças, de tanta história percorrida, escoando.

Não posso entender por que uma vez tão sólido, assim pelo tempo, gasto e insustentável.

O que ficará adiante? Palavras, incapazes de contar tudo.

Há quem diga que está relacionado à normalidade. Todos padecemos do mesmo drama.

Ontem assisti a um filme belíssimo: “Um quarto em Roma”(*). Mais do que oportuno. Quão é difícil a cada um de nós construirmos nossa própria identidade e buscar o sentido da existência. Quem sou e o que verdadeiramente quero? O filme, de uma poesia profunda, remete a uma resposta.

Recebi email de uma querida amiga em que aborda, fazendo pilhéria, o fim do mundo previsto para o próximo dia 21. Parte de um trecho: “Vamos combinar que aonde chegarmos, na primeira curva à direita, pararemos e esperaremos os outros chegarem. Não quero correr nenhum risco de não encontrar vocês mais”.

Pois é, querida amiga, é de todo provável que o mundo não se acabe no dia 21 de dezembro de 2012 como previram os Maias, mas não podemos deixar de dar algum crédito às lendas.

Parte do mundo, pelo menos naquilo que nos atinge, acabou. E, com ela, os PLANOS .

Naquela curva à direita, vou estar sozinho.



(*) UM QUARTO EM ROMA > Diretor Julio Medem. Com Elena Anaya, Natasha Yarovenko, Enrico Lo Verso e Najwa Nimri. Espanha, 2012. 

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

AFETO



Não há justificativa e nem reparo.

Por duas vezes considero imperdoável minha atitude e o que resta, de alguma forma, é penitenciar-me. Quero fazê-lo, primeiro, publicamente.

Dona Ismênia recortou um artigo de um jornal, enviou-me através de uma de suas filhas e, por dias, esperou ansiosamente que eu me manifestasse a respeito. Eu não o fiz e lá se vão mais de dois meses.

Dia 30 de novembro, portanto há mais de doze dias, dona Ismênia completou mais um ano de sua vida extraordinária. E eu sequer liguei para Campinas, onde ela mora sozinha em seu apartamento.

IMPERDOÁVEL.

O artigo do Dr. Tadeu Fernando Fernandes, presidente da Sociedade de Pediatria de Campinas dá conta da alegria de ser avô. Foi o jeito de dona Ismênia dar as boas vindas à Liz, minha netinha.

Faço aqui os meus mais calorosos votos de saúde, paz e alegria para dona Ismênia.

Agora vou, imediatamente, ligar para Campinas, falar com ela e já sei como ela irá me receber:

- “Ô Agulhô, tudo bem? E sua netinha, Liz, como vai? Ô Agulhô, vocês são sempre tão atenciosos conosco. Não se preocupe não Agulhô, é que essa vida é tão acelerada mesmo, não é? Aqui também eu não tenho tempo pra quase nada. Um beijo grande prá todos vocês daí, viu? Fica com Deus, Agulhô, muito obrigado por você ter ligado”.

O artigo ela enviou dentro de um envelope. Para fechá-lo dona Ismênia usou pequenos adesivos com o formato de coração.


Até breve.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

BORNAL



"O homem moderno já não está de acordo consigo mesmo, nem com seu corpo nem com seu espírito. Todos voltamos à solidão e o diálogo está roto como rotos e quebrados estão os homens. Movemo-nos sem direção”. Octávio Paz


Fiquei com uma dúvida.

Onde está a Justiça, afinal? Naquele que a estabelece ou naquele que a faz cumprir?

Ou a Justiça é outra para aquele que a estabelece? Ou melhor: aquele que está ungido no lugar supremo de fazê-la cumprir, não é supremo em relação a quem a estabelece? Num sei, ficou meio confuso.

Como eu não sou versado nos meandros dos embrulhamentos prefiro fazer juízo de porco. Ou seja: sete anos se passaram prá se concluir que sim alguns dos trinta e sete cometeram crime, foram julgados por quem faz cumprir a lei, e três deles estão lá no lugar onde fazem leis. Cumé que fica?

Simples, deve acontecer o seguinte: nós fazemos a nossa parte, condenamos e do lado de lá da rua analisam se é constitucional a aplicação da lei suprema. Aí, final de ano, vem as festas, carnaval é uma boa preocupação para isso não ser a prioridade, Copa das Confederações, pré-acordos prá eleições inclusive presidenciais. Enfim, balaio.

O jogo tá empatado lá onde fazem cumprir a lei. O chefe da casa onde fazem as leis disse que o supremo não pode ser supremo, por que nós não estamos em regime de ditadura e, portanto, tem que se aplicar a constituição que é a Bíblia de quem faz cumprir a lei. Amanhã, quarta-feira, vota o último juiz do Supremo. Se der condenação fica  do jeito do parágrafo acima, se der absolvição fica do jeito que tá. Eles foram condenados, vão fazer leis durante o dia e dormir na cadeia por uns dias e segue a vida.

Dois posicionamentos:

Primeiro: será que esta turma não tem mesmo vergonha na cara e faz o que tem que ser feito? Estamos em vias de perder Mandela, que ficou preso durante vinte e sete anos, alguns deles incomunicável, pelo crime de ter lutado pela liberdade de seu povo. Será que essa turma, não aprendeu nada com o Prêmio Nobel da Paz. Será que esta turma ainda continuará pregando a ditadura da indecência, da desfaçatez, da ignomínia.

Segundo: dois inveterados no álcool tomaram a decisão de parar de beber. Belo dia, resolvem pescar. Na saída, um olha o bornal do outro e vê uma garrafa de cachaça.

- Ué, nós num tinha resorvido pará de bebê?

- Foi.

- E essa garrafa de goró aí?

- É o seguinte: e se a gente for picado por uma cobra lá na beira do rio? Aí a gente vai tê que passá nos ferimento e tomá uns trago prá guentá a dor, entendeu?

- E nesse outro bornal aí, o quê que tem?

- Uma cobra.

- Hein!!!

- Vai que prá onde nós vamo num tem cobra.

Ou você se indigna ou torna-se idiota, no sentido grego.

Eu tô com dúvida.


Até breve.