Pedi que me remetessem palavras para que eu pudesse memorar meu centésimo post. A repercussão atingiu visceralmente meu perfil com o qual me apresento no dasletra. Mudei ali, então, minha pró fissão, aquilo que me rompe de um todo. Se observarem, doravante apresento-me como um lavrador de palavras. Doravante meu trabalho é de sapa, vou ao encontro de um novo fazer: quero ser palavrador.
Quero, em respeito àqueles que me provocaram com sua palavra, estar com cada uma delas a cada post. Permitam-me escolhê-las fora da ordem de entrada, já que a porta estava aberta e circunstâncias diversas levaram cada um de vocês a se aplicarem em momentos distintos. Tem um pouco de novela na coisa. Ficarão esperando que o post do dia contemple a sua palavra.
Aviso àqueles que estão chegando agora, que entraram por essa porta avançada, que retornem ao nonagésimo nono post para entenderem melhor essa conversa. E se quiserem fazer parte dela peço que me remetam palavras. Isso me obrigará à lavoura. Aqueles que já me legaram sua palavra entrem e tragam novas. Tenham apenas um pouco de paz ciência, já que lavrar palavra é dor trabalhosa.
É possível, de quando em vez, que eu seja acometido das minhas próprias e eu os deixe por um ou outro post. Prometo voltar em seguida para que nós possamos com versar.
A palavra escolhida para o centésimo post, remetida por um anônimo querido, deve ser tratada com zelo, muito zelo e eu a reduzi a uma criança pura, limpa, selvagem e descivilizada.
Entrou, e por duas vezes, por esta porta uma demanda que nomeia este post. Vou, então agora, ao seu encontro.
Ela faz parte dos inúmeros equívocos pelos quais peço compaixão à criança que em mim habita e ronda-me. Ela está no rol das pessoas do mesmo sangue de quem me afastei. Ela, seguramente, sabe mais de mim do que eu sei dela. Ela me considera muito mais do que eu deveria considerá-la.
Lembro pouco, mas sei que ela era uma jovem bonita. Um corpo de ginasta, alta, com olhos assim sei lá. Ela é coadjuvante de partes importantes do filme. Foi ela que zilhões de vezes foi me buscar na escola e eu dizia a frase suja. Foi ela quem nos levou, a mim e a meu irmão, a uma ópera e que passou pelo constrangimento de ter que sair do teatro no meio do espetáculo por força do acesso de gargalhadas histéricas dos seus dois irmãos. Foi para o casamento dela que nossa mãe arrumou a casa e eu, com um pincel de esmaltes para unhas, pintei os rejuntes dos azulejos do banheiro. Foi ela que, quando eu vivia aos trapos, me deu uma camisa listrada azul em um fundo branco, uma calça azul para que eu me apresentasse a uma namoradinha qualquer. Foi também ela quem sinalizou a pessoa com que eu deveria ficar por toda a minha vida. Foi ela quem me acolheu em sua casa, em um quarto dos fundos, quando por circunstâncias já trazidas aqui eu tive que evadir-me.(http://www.blogdoagulho.com.br/2011/06/carreira.html)
Mas sei que ela era uma jovem bonita com olhos assim sei lá. Apaixonou-se por um galã que só se via semelhante em revistas tipo Capricho. Putas olhos verdes, alto, cheiroso, engenheiro da Rede Ferroviária, partidaço. Tinha lá defeitos de fabricação, o nariz por exemplo. Eu era menino e tinha receios de ficar muito perto do gajo. Pareciam aqueles sorvedores de ar de submarinos. Depois me acostumei. Uma dama o sujeito.
Eu já disse, não sei a história toda. Tenho presente, no entanto, que não foi nada fácil. Ela não se importou com meios e buscou os fins, literalmente. A questão para ela, sobre que circunstâncias fossem era de criar seus filhos, quatro putas machos. Fez de um tudo para que seu intento solitário, transloucado e inconseqüente às vezes, viabilizasse.
Não quero mais falar sobre isso, décadas se passaram. Para mim o que é mesmo importante é que ela era bonita, tinha uns olhos assim sei lá e que, por força de seu extraordinário intento, os netos terão uma vida mais leve e limpa do que seus irmãos.
Até breve.
Verdade! Não foi nada fácil. Foram milhares de quilômetros a procura dos fins, e finalmente os quatro machos estão criados. Esta é sua maior conquista nesta vida.
ResponderExcluirObrigado pela homenagem.
Lozinho,
ResponderExcluiradorei seu post. Tenho muitas lembranças que poderei passar para você. Realmente te conheço mais do que você imagina. Aqueles olhos continuam os mesmos, um pouco mais cansados talvez. Aguardo seu contato com saudades.
abração, Jeanine