Alguém bate à porta. Outro mais, outra ainda, e tantos outros, até simultaneamente, batem à porta. Vindos infovia de diferentes lugares, até dos USA, da Itália, do Reino Unido, da Austrália, da Letônia, da China, da Rússia, do Canadá, da Alemanha. Vários batem à porta e todos os dias, mesmo eu não estando aqui. Sei por que a tecnologia permite vigilância ininterrupta e permanente. Nunca sei exatamente quem, mas sei que vêem, são mais do que eu poderia supor e batem à porta.
Você bate à porta.
Todos em busca de palavras. Das minhas palavras. E eu nem sempre as tenho. Mesmo assim, todos os dias, ainda que eu não estivesse, batem a porta e entram e acessam meus escaninhos onde estão palavras. Alguns deixam bilhetes e comentam...
Eu deveria poder saber como organizar melhor palavras e entregá-las com maior servidão. Palavras é produto para poucos, embora fiquem pululando à procura de quem as use e até abuse fazendo corruptelas, como o Manuel de Barros, o poeta. Pior é que palavra não está pronta e acabada, porque cada um faz uso segundo suas conveniências e sabiências (olha aí uma da hora). Põe procevê no PRONTA um MENTE. Prontamente resulta. Muda o sentido de pronta=acabada, para prontamente com o sentido de tempo. E olha que esse MENTE aí num é do verbo mentir: Ele mente. Elementar, não é. Vai procevê mexer com palavras, é a luta mais vã.
Batem à porta procurando palavras. Assistam “Minhas tardes com Margueritte”, um filme corajoso onde um desletrado é convidado a se interessar por palavras e ganha um dicionário. Maravilhoso! Mais não digo, assistam.
Lembro-me de uma letra (interessante não é da parte da palavra) de uma canção composta pelo Dennis (um dos amigos da FAFICH):
No princípio era o verbo
Na verdade fez em verso
A oração.
E o poema virou verbo
E habitou entre nós.
Então Poeta?
Batem à porta procurando palavras. Estivemos no Café com Letras, quinta à noite, tomando um vinho, degustando um salmão. Palavreando. Fico sempre irritado quando estou em lugares para palavrar e colocam no ambiente um som inadequado para o lugar ou numa altura maior do que o razoável. Gosto mesmo é do alarido das palavras vindo das mesas próximas, em uníssono, um som forte de troca, de interesse, de trama, de sedução, de inteligência, de afeto ou de desafeto. Gosto do som da palavra.
A próxima vez que baterem à porta será a centésima. E eu resolvi hoje abri-la, antes, a todos. Isto quer dizer que eu voltarei aqui pela centésima vez para trabalhar as suas palavras. Quero ter a pretensão de construir algo a partir de suas palavras. Gostaria muito que no espaço reservado aos comentários, mesmo que anônimo (talvez seja melhor mesmo), você colocasse uma palavra, uma única palavra. Quando eu tiver recebido até dez palavras, voltarei e fecharei a porta novamente. Por enquanto, vôo.
Até breve.
Respostas
ResponderExcluirDesejo...
ResponderExcluirMeios
ResponderExcluirFuturo
ResponderExcluirSessentenário
ResponderExcluirCriança
ResponderExcluirVIDA
ResponderExcluirDeus
ResponderExcluirRijane diz
ResponderExcluirDesapego
Mozinho, simplesmente bárbaro este seu texto.
ResponderExcluirCompaixão
ResponderExcluirPerseverança
ResponderExcluirPAI
ResponderExcluirRenascer
ResponderExcluirSacrifício.
ResponderExcluirMeu amigo...
ResponderExcluirQuanto tempo... não o tempo da distância cronológica mas o tempo da intensidade dos encontros espaçados...
Mesmo depois da hora, aceite a minha batida em sua porta!
É sempre uma honra ler seu blog sempre que posso.
Grande abraço.
PS. Recebi seu abraço através do amigo Dilson Jr.
Aloysio
Quero deixar nesta porta, espero que ainda aberta uma palavra: im porta nte (importante)
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