WIRA (visão, energia) COCHA (imensidão) o oitavo rei Inca um belo dia disse que as estrelas pelas quais ele orientava-se não estavam no céu e que era o sinal de que a civilização iria se acabar. PACHA (terra) CUTIK (remover), seu neto, foi governador Inca de 1438 a 1471. PACHACUTIK tratou de realizar a obra para aguardar o final dos tempos profetizado pelo seu avô WIRACOCHA.
Para nós, viemos do pó (terra) e ao pó retornaremos. Para os povos andinos não: viemos das estrelas e a elas retornaremos.
Pachacutik planejou e começou a construir MACHU PICCHU em 1450. Ela foi projetada com o formato de um condor para ser o veículo de seu povo para chegar às estrelas. Na época o nome era WILCA (sagrado) BAMBA (lugar). Wilcabamba, lugar sagrado.
Todo o complexo Machu Picchu ocupa 32.592 hectares e contempla 160 sítios arqueológicos. O local escolhido para a cidadela deveu-se a fatores diversos: mais próxima do ceu (para o condor alçar vôo) e também por força dos abalos sísmicos na região dos vales para onde, até hoje, deslizam imensos blocos de rocha que, por força de terremotos partiam-se e rolavam montanhas abaixo. Machu Picchu foi privilegiada por estes fenômenos geológicos já que as pedras foram alojar-se onde se projetou construir a cidadela.
Além de templos, observatórios e outros edificios foram construídas 163 casas para cerca de 500 pessoas que viveram em Machu Picchu. 749 metros de canais levam água da montanha para a cidadela a 125 litros por minuto,na época de chuvas, e 25 litros por minuto na época da seca.
As terrazas ou bancadas construídas ao longo da subida das montanhas serviam à agricultura e foram construídas pedra sobre pedra sem a utilização de argila no assentamento das mesmas para facilitar a drenagem das águas pluviais (constantes e intensas) e aeração da terra.
Em 1540, noventa anos depois do início da sua construção, Machu Picchu foi abandonada por todos os seus moradores por motivo de segurança. Os espanhóis haviam chegado muito perto do Vale Sagrado e toda a população da cidade evadiu-se para outros lugares. Os espanhóis, no entanto, nunca conseguiram encontrar a cidade sagrada dos Incas.
Em 1911, há exatos 100 anos, Hiran Bingham, um professor norteamericano de antropologia a redescobriu coberta por densa vegetação e a expos ao mundo. Bingham, um jovem de 35 anos, levou todo o acervo de peças, cerâmicas, tecidos, metais inclusive ouro para os Estados Unidos com a promessa ao governo peruano de que retornaria com tudo oito meses depois. Até hoje isto não ocorreu.
Seguramente deve haver alguma inexatidão nessas esparsas informações. Elas foram coletadas ao longo de nossa visita hoje a Machu Picchu trazidas pela nossa simpática guia, Wilma, que a cada conclusão de etapa do passeio exclamava: “ Muito interessante! Muito interessante!
E é essa a parte importante do filme. A quem interessa Machu Picchu? Para quê? No post UROS comentei sobre a minha surpresa ao avistar do avião a região andina considerando-a inóspita e selvagem e que seria impossível ao homem explorá-la.
À mim, Machu Picchu serviu para renovar a esperança na história do homem. Pela sua extraordinária visão e inabalável energia, ainda que motivada por razões discutíveis, sobretudo para os céticos, o homem projetou sua redenção, avançou sobre a natureza desafiando-a e, no caso dos Incas, extraindo dela com respeito e reverência, todos os meios para a sua subsistência.
Estar aquí hoje, confirma a esperança de que vale, historicamente, a pena resistir e lutar pela manutenção de suas crenças e de seus valores. Mesmo que você tenha que construir ilhas flutuantes de tutora, evadir-se para outras montanhas repleta de novos obstáculos, mesmo que lhe arranquem suas posses mais expressivas e fazê-las de trofeu, ainda assim vale a pena resistir.
Estive em templos sagrados em Taipei e Thaithong em Taiwan; diante da Sagrada Família de Gaudi em Barcelona; vi a cidade arrasada de Pompéia, emocionei-me diante da Acrópole em Atenas, nas ruelas de Alhambra e Toledo na Espanha. Estive diante do Muro da Vergonha e visitei o monumento dedicado aos judeus vítimas do holoucasto em Berlim e, em Dresden, a igreja reconstruída após cessarem os bombardeios na Alemanha. Atravessei os lagos Andinos, vi a agonia do povo cubano no ocaso de um propósito, visitei a vila feudal de Monserrat em Portugal, o Coliseu e as diversas cidades em Roma. Deliciei-me com a irônica crítica de Miguelângelo na sua Capela Sistina.
Fui privilegiado por tantas outras exposições, no entanto, o todo dessa visita ao Peru diz respeito às minhas entranhas de cidadão do universo latinoamericano, historicamente violentado, vilipendiado, humilhado pelos conquistadores ainda hoje com seus macabros, sedutores e perversos simulacros. Já era e continuará sendo minha regra de conduta no âmbito da microfísica do meu poder, no cotidiano, na família, no trabalho, na vida. Quero fazer parte daqueles que resistem.
Estávamos encerrando nossa visita e eu disse à Wilma (nossa guia peruana, que fala o idioma Inca, o quecho) que em Minas Gerais minha terra temos algo que nos caracteriza e é uma das essências de nossa cultura: o queijo. Ela entendeu.
- “ Quecho e queijo, não é… Muito interessante! Muito interessante!”
Após duas horas de viagem por via terrestre, chegamos em Cuzco no início da noite.
E EL CONDOR PASA…
Até breve.
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