O passivo trabalhista era uma vergonha. Contratei o escritório trabalhista de um grande amigo de São Paulo que fez uma varredura global sobre todos os processos e parti para debelá-los, via acordos e alternativas. O que de fato existia era uma indústria montada para acionar o Banco em diferentes oportunidades. Fixamos uma meta e escalonamos as ações em função do desembolso. Foi um belo trabalho. Lembro-me que um dia eu estava em minha sala trabalhando e entrou o chefe do departamento da minha equipe que cuidava deste assunto e me trouxe a seguinte questão:
- ‘Você viu o último relatório do escritório trabalhista?’
- ‘Dei uma rápida olhada... ’
- ‘Pois há uma causa da Dra. Ana contra o Banco... ’
- ‘E quem é a Dra. Ana?’
- ‘É a advogada que nos defendeu no acordo de Juiz de Fora... ’
- ‘Como assim?’
Essa senhora há vários anos vinha fazendo ‘jogo duplo’ e compondo interesses com advogados do Banco para lesar a instituição.
- ‘Demita essa mulher agora!’
- ‘Não posso, ela é do Sindicato... ’
- ‘Como do Sindicato se nos representou no acordo de Juiz de Fora?’
- ‘Pois é... ’
Pedi ao chefe do departamento que pegasse o número do telefone dela e à minha secretária que ligasse. Quando a Dra. Ana atendeu eu apresentei-me e lhe perguntei à queima roupa:
- A senhora vai pedir demissão agora ou quer que eu lhe demita por justa causa?
Essa era apenas a ponta de um profundo e amplo iceberg. Terrível tarefa a de desbaratar uma quadrilha face às pesadas conseqüências. Tive que andar com segurança pessoal durante um bom período até que a poeira assentasse.
Nessa linha, pintou uma ação no Espírito Santo, onde o Banco tinha doze agências. A ação trabalhista inviabilizava a continuidade do Banco. Fui ao Dr. Salvador e ele disse que eu tomasse as providências cabíveis. Peguei meu amigo de São Paulo do escritório trabalhista, o Superintendente da Região e debruçamos sobre uma estratégia. Planejamos uma ação e convocamos uma reunião com o Sindicato, em Vitória-ES. Olha eu aí de novo, gente, em Vitória, pegando alguém pelas camisas...
Levei ao Dr. Salvador nossa estratégia para obter dele a aprovação. Ele estava em um hospital, convalescendo de uma cirurgia. Ele disse-me: ‘Vá em frente. ’ Grande Presidente, esse Dr. Salvador.
O Sindicato deu uma de pavão e Pilatos, ou literalmente, dane-se. Estávamos eu e Luiz Carlos, o Superintendente da Região e exigimos que o Sindicato convocasse uma assembléia imediata e encaminhasse nossa proposta de acordo. Depois de muita lengalenga eles aceitaram e convocaram a assembléia. Para nossa sorte ou eventual azar, a assembléia lotou, foi gente pra caramba o que daria legitimidade a decisão ou nós levaríamos o Banco para o espaço sideral.
Como era de se esperar o Sindicato fez a parte dele. Jogou gasolina no fogo da moçada. Lembro-me do olhar de bons amigos dos empregados do Banco para nós no transcorrer da assembléia. Terminada a apresentação pelos diretores do Sindicato da proposta do Banco eles iriam encaminhar a votação e eu pedi para fazer um esclarecimento. A turma caiu de pau, gritando que ‘chega de lorota o que nós queremos é nota’ ou algo semelhante. Peguei o microfone e deitei falação. No pior das hipóteses adiaria o veredicto da assembléia. De repente senti que alguns começaram a pedir aos companheiros que me ouvissem.
Saímos de lá quatro horas depois, eu e Luiz Carlos com o acordo assinado dentro da proposta do Banco. No retorno para casa eu estava sem voz e exausto, mas sentindo um orgulho imenso pelo trabalho que havíamos feito. Foi o que o Banco tinha condições de assumir sem ser injusto com os seus colaboradores. Passado um tempo retornei a Vitória e encontrei-me com algumas pessoas que estavam na assembléia. Vieram agradecer a mim pela minha atuação. Pude, então, com calma fazê-los entender ainda melhor que a decisão tomada por eles era, no momento, a mais adequada.
O Banco ampliava o diálogo com seus colaboradores.
Em que pese o acerto das decisões o Banco exigia ações mais drásticas para poder continuar operando em bases mais sólidas.
Até breve.
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