quarta-feira, 29 de junho de 2011

SMJ

A FIAT representou uma fase de intensa formação, com inúmeras oportunidades de desenvolvimento, cursos patrocinados, viagens a serviço, reuniões de trabalho e convivência com consultorias internacionais, implantação de processos, técnicas, sistemas, padrões e toda sorte de tecnologias de gestão. Ela havia preenchido de forma determinante o fato de eu ainda não ter concluído um curso superior. Foi muito difícil deixar a Fiat, mas algo me dizia quer era chegada a hora de enfrentar novos desafios. As coisas estavam ficando mornas demais e meu espírito inquieto fez atender diversos convites da SMJ para uma conversa.
Cinco dias depois da data da minha demissão da Fiat fui contratado no dia 20 de maio de 1980 para ser Chefe da Divisão de Cargos e Salários da SMJ que à época tinha escritório na Rua dos Tupis, centro da cidade, com um salário de Cr$100.178,40.
Eu tinha reduzido em muito minha empáfia, afinal dois filhos para criar com o terceiro a caminho era bom que eu tomasse juízo. Montei uma equipe legal, grupo reduzido de pessoas, mas muito solidárias e com um nível de competência bastante desenvolvido.
Foi sim um retrocesso de Planejamento Organizacional na Fiat para Chefe de Salários da SMJ, olhando pela lente da objetividade e da racionalidade. Mas não pela da experiência. Vivi momentos extremamente críticos na formação da estrutura organizacional da SMJ e que a musculatura adquirida na Fiat permitiu-me administrar as inúmeras intrigas e briguinhas de corredores corporativos e salas fechadas com pessoas vindas das siderúrgicas concorrentes que queriam por que queriam implantar o mesmo modelo de gestão trazido de suas empresas de origem.
Grande desafio também na medida em que nossa área não tinha um peso considerável na balança do poder organizacional o que nos dava um trabalho a mais na defesa de nossos pontos de vista, agravado pela governança de um CEO instável para não dizer temperamental que vou aqui nomear como ZECÊ.
Foi lento o processo de instalação da usina. Adiada inúmeras vezes, por inúmeras razões, até que um dia de fevereiro de 1981, desceu um ar quente do prédio da Rua dos Tupis, vindo do 15º andar onde ficava a sala de ZECÊ. Nós ficávamos no terceiro andar, depois o pilotis, garagens e térreo, portanto o último andar de escritórios da SMJ. ZECÊ em um de seus surtos de rotina bradara: “EU VOU MUDAR PARA JUIZ DE FORA DIA 15 DE FEVEREIRO DO ANO QUE VEM E PONTO FINAL. QUEM NÃO ESTIVER LÁ NESTE DIA ESTARÁ FORA DA E MPRESA.”
Era bom acreditar. Para muitos não interessava a mudança, preferiam ficar em Belo Horizonte pelo tempo que fosse possível adiar. Fui eu quem persuadiu vários amigos a irmos a Juiz de Fora para localizarmos moradia e colégio para os meninos.
Toda a tensão da empresa ao longo de 1981 era a de viabilizar a construção do prédio da administração e desembaraçar questões aduaneiras da importação de equipamentos da usina, além de botar prá dentro boa parte da estrutura gerencial e de supervisão.
A SMJ fez leilão de salários e eu rebolei para construir um mínimo de consistência. Cada área achava-se mais glamorosa do que a outra e cada profissional identificado para ser trazido era apenas o máximo da função. Gastei todo o meu grego e meu latim adquiridos na FAFICH para fazer as diretorias entenderem que aquilo teria sérias conseqüências no moral da tropa. Não deu outra: o clima ainda na Rua dos Tupis era de arrepiar, tenso, ruim mesmo. Meu gerente, não conseguiu manter-se e foi demitido por ZECÊ ainda em Belo Horizonte.
No dia 15 de fevereiro de 1982, uma segunda-feira, iniciamos o primeiro dia de expediente no escritório da administração da SMJ em Juiz de Fora. Não havia divisórias das salas, caixas e caixas de documentos espalhadas por todo o vão dos dois andares do belíssimo edifício.  Um caos. Por volta das dez horas da manhã ZECÊ passou por todas as áreas, andando sozinho com as mãos para trás. Nos lábios, um sorriso triunfal.
Pobres empresas quando são vitimadas por seus líderes.
Até breve.

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