quarta-feira, 22 de junho de 2011

FIAT I

Logo logo eu havia recebido mais atribuições e gradativamente deixava aquelas de menor complexidade. Da área de Movimentação e Registro transferi-me para a área de Folha de Pagamentos. Deixava para o resto da vida atividades como colar retratos em Fichas de Registro, que eu fiz com todo tipo de cola (a última, a mais sofisticada de todas, a cola Prit, a maior inovação do mercado), além de preencher os dados dos empregados na própria Ficha. Se bem que esta atividade me dava um prazer interessante: eu preenchia a Ficha a partir dos dados da Ficha de Inscrição de Candidato onde constavam várias informações da pessoa. Eu sempre li com interesse tentando extrair dali a história de cada uma delas.
Na área de Folha de Pagamentos recebi como incumbência inicial a apuração e relatório de cartões de ponto, o lançamento de dados variáveis na Ficha Financeira do Empregado e o arquivamento de toda a documentação inerente ao processo de pagamento. Estamos em 1975 e tudo era na ‘munheca’. Não havia ainda o CPD-Centro de Processamento de Dados. Logo logo fiquei do lado do Supervisor Márcio que fazia todo o cálculo da Ficha Financeira com máquinas Facit com uma manivela do lado direito e outra do lado esquerdo. O cara era um ás na máquina. Eu achava que precisaria de uma dez anos para chegar ao nível de performance do Márcio. Só que eu tinha que abreviar. Depois do expediente eu ficava rodando aquela manivela até dar calos nos dedos e fazia conta de tudo quanto é tipo. As primeiras contas eram sempre as minhas a pagar, especialmente agora vésperas do meu casamento.
Foram admitidos por mês, na época, cerca de 150/180 empregados o que aumentava muito o número de Fichas Financeiras razão pela qual Márcio conseguiu um auxiliar. Como eu estava sempre à espreita não precisou nem de ir ao Eliseu. Eu era o cara e recebi, novinha, a minha máquina de calcular FACIT. Claro que rolou mais grana na mão do menino. Eu tenho comigo a satisfação histórica de ter calculado, sozinho, a última folha de pagamento de empregados da Fiat Automóveis processada manualmente. Foram mais de 700 empregados. Minha máquina de calcular urrava. Depois disso a Folha de Pagamentos passaria a ser rodada no CPD. Márcio foi transferido para a área de Obrigações Legais e eu fui ao Eliseu.
Márcio foi outro cara super importante na medida em que me permitiu e me fez saber de tudo das atividades inerentes ao setor além de me dar todas as dicas para operar a Facit. Jamais cheguei ao nível de Márcio. Agora me lembro que ele sempre ficava com uma bolinha de borracha na mão fazendo exercícios, passando de uma mão à outra. O cara tinha um aperto de mão de estraçalhar a do cumprimentado. Acho que de tanto rodar manivela da Facit e mais esses exercícios é que tornaram a sua mão direita uma tenaz. Grande cara o Márcio e, da mesma forma, veio a ser também um dos meus padrinhos.
Outro cara com quem aprendi muito da área de Obrigações Legais (direito trabalhista) para onde Márcio foi transferido foi Simão. Ele era o Supervisor da área e eu tinha lido a Ficha de Registro dele com especial atenção.  Sofrida a vida do cara. Depois do expediente ainda na Rua da Bahia saíamos para tomar uma, Márcio, Simão, eu e outros caras. Minha barriga doía de tanto rir dos casos que Simão contava, de um repertório vastíssimo, trazidos da própria vivência ou outros de outros, mas sempre com uma irreverência a toda prova. Em muitos deles eu me percebia: Simão também havia trabalhado como vendedor em uma loja de tecidos na Rua dos Caetés. No primeiro mês de trabalho não conseguiu vender nada, mas ficou observando os outros vendedores que ficavam na porta seqüestrando para dentro da loja os clientes. No segundo mês Simão decidido foi buscar do outro lado da rua potenciais clientes tendo debaixo dos braços peças de tecidos, as mais atraentes. Contou que havia inaugurado o caos na Rua dos Caetés, na medida em que todos os comerciantes passaram a incluir no rol de competências de seus vendedores tal habilidade. Mas Simão era ímpar. Ele morava numa pensão da Lagoinha bem próxima à zona boêmia. Nos finais de semana ele descia a ladeira da pensão com um monte das ‘meninas’ Simão, ô Simão, vem cá meu bem. Ele se achava o máximo. Baixinho, feio de arruinar, mas de uma simpatia gigante que cativava a todos. Não deu outra: entrou para o rol de padrinhos.
Quando entrei na sala de Eliseu ele foi logo dizendo: tenho um novo desafio para você. Sentei-me na cadeira à sua frente e o ouvi atentamente. ‘A Itália quer saber de todos os dados possíveis e impossíveis sobre a mão de obra alocada até agora e aquela que será aplicada na fábrica. Temos que fazer um trabalho baseado neste relatório’. Ele me passou um conjunto de cinco folhas com planilhas e instruções de preenchimento em italiano. E me disse: ‘se vira e me traga sugestões’.
Em 01 de junho de 1975 eu fui promovido para Auxiliar de Estatística com um salário de Cr$1.890,00, em 01 de setembro de 1975 ainda no cargo acima recebi promoção por mérito com um salário de Cr$2.000,00. Eu havia implantado a Estatística Geral de Investimentos em Mão de Obra, edição bilíngüe Português/ Italiano em pastas de capa dura e seções de plástico onde eram colocadas as planilhas mês a mês.
Em 01 de janeiro de 1976, um ano após a admissão eu fui promovido à Técnico de Estatística com um salário de Cr$3.500,00. Eu havia triplicado o meu salário. Ocupei este cargo até outubro de 1976 quando novamente fui chamado à sala do Eliseu.
Ah, aqui é importante dizer. Eu havia me casado em 05 de dezembro de 1975, portanto um mês de diferença a maior do que minha sogra havia estabelecido. Minha Facit ajudara a fazer os cálculos para a nova vida que se iniciava.
Até breve.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Calculator_facit_hg.jpg

 


 
  

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