Em posts anteriores (de CARREIRA até FIAT V) procurei relatar aquilo que me ocorria naturalmente à memória. Sentei à frente do laptop e sem me esforçar muito me coloquei a escrever. Não revi textos, não fiz anotações antecipadas, tudo que foi trazido foi de um fôlego só. Permito-me agora uma análise do que registrei o que faço da mesma maneira.
Ocupei-me praticamente em todos os meus textos com pessoas que passaram e que me ajudaram a moldar a minha vida. Todas as passagens registradas serviram para que eu pudesse reconhecer a importância de cada uma delas na minha formação objetiva, no meu caráter e, sobretudo, na minha sensibilidade. Minha mãe, Dona Antônia, Jaime (da loja de tecidos), Luiz Carlos, Sr. Elias, Moacir, Dennis, Barreto, Éder, Márcio, Simão, Felipe, Pecore e Eliseu. Estarei sendo injusto se disser que apenas essas pessoas foram importantes. Haverão posts adiante em que tantas outras virão à tona.
Posso, no entanto, quase afirmar que a razão pela qual me encantei pela idéia de Vladimir em eu fazer um blog era a de me obrigar a escrever e escrever para mim é deixar um tributo à vida. E a vida de cada um de nós, penso, resume-se essencialmente em quem cada um de nós debruçou seu coração. Debruçou no sentido de ter sido verdadeiramente afetado, marcado. A vida só se expressa no outro, quanto o outro levou de nós ou quanto dele nos deixou. Disse algumas vezes nos textos anteriores que eu dou graças à vida por ter vivido esta ou aquela experiência, mas de fato, estou dando graças à vida por ter me encontrado com aquelas pessoas sujeitos da ação da qual eu era personagem.
Dos sete aos vinte e oito anos de idade resumi em poucos acontecimentos a primeira metade da história da minha vida. Embora o tema recorrente tenha sido sempre a questão do trabalho como meio de sobrevivência e posicionamento, minha inquietação e interesse não está nesta questão objetiva, prosaica, diria Paulo Roberto Souza Lima. Tá vendo: esse cara tinha que ter entrado em algum relato da FIAT. Sociólogo, aprendiz de feiticeiro, uma cabeça privilegiada de dar inveja, especialista em ciências sociais e políticas com quem fiz durante muito tempo transporte solidário. Paulo fazia do percurso de casa para a fábrica e da fábrica para casa uma seção mais do que privilegiada de análises conjunturais de toda sorte. Um gigante o cara, e eu ampliava os meus ouvidos e deixava meu cérebro aberto à sua imensa sabedoria. Paulo, logo que me apanhava em casa ou que eu o apanhava na casa dele, dizia: ‘Vamos ao prosaico. ’ Prosaico você encontra no Dicionário Priberam (Google) como “corriqueiro, comum, vulgar, chão, material”.
Não me parecem relevantes as estripulias, as traquinagens, as estratégias mirabolantes, nem a ascensão meteórica na carreira profissional. Elas são prosaicas. Relevo agora o que a partir destas vivências foi-me possível guardar e que me servirá aos noventa anos. Como são importantes as nossas relações e quão necessários nos são os outros. O que é nesse momento interessante é que não sinto a menor necessidade de revê-los, de reencontrá-los. Eles foram suficientes enquanto foram sujeitos da minha história e permanecerão presentes em mim enquanto eu estiver vivo.
Quero fazer sessenta anos construindo um tributo à vida. Fazer um tributo à vida é, essencialmente, fazer um tributo ao outro. Quero que isto seja considerado a partir de agora ao lerem os próximos posts.
Obrigado e até breve.
Vá im frenti que tá bão dimais.
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