Hoje vou
relatar uma experiência da qual pude tirar lições distintas. Por um lado posso
julgar como fracasso o investimento de centenas de horas dedicadas ao projeto,
mas em outra perspectiva posso reconhecer que grandes e importantes
transformações decorreram das atividades empreendidas ao longo de mais de dois
anos de trabalho intenso. Daí a razão pela qual nomeei este post de FRACESSO. Misto de fracasso e
sucesso.
SETOR:
Saúde. NÚMERO DE INSTITUIÇÕES: 23 hospitais de Belo Horizonte, 21 do Estado da
Bahia e 19 de Curitiba. FATURAMENTO: R$ 8,0 bi/ano. PROJETO: Aliança
Estratégica para a Excelência. CONTRATAÇÃO: Acionistas. PROPRIEDADE: familiar,
instituições filantrópicas, sociedade por cotas, fundações. GESTÃO: Imensa
disparidade nos processos, sistemas, instalações, controles e procedimentos
operacionais tanto na hotelaria quanto na prestação de serviços de atendimento
à saúde. Grandes somas de prejuízos, setor absolutamente cindido, com alto
nível de rejeição entre parceiros. Concorrência predatória grave com imensos
reflexos na qualidade de propósitos das instituições. Distribuição inadequada
de recursos estratégicos: talentos humanos, equipamentos e tecnologia.
Baixíssimo comprometimento do corpo clínico. Pressão por melhores preços e
qualidade dos serviços por parte dos administradores de planos de saúde.
Abordagens e conceitos diversos entre as instituições com imensa dificuldade na
troca de dados e informações.
Ao longo
da minha vida jamais poderia imaginar que eu pudesse estar exposto ao conjunto
de tantas variáveis simultâneas, de tamanha complexidade e de tão elevado
impacto, pois o que estava em jogo era a vida humana. Agradeço por isto. Penso
que construímos entre os membros da alta cúpula de todas as instituições
envolvidas um pacto histórico. Até então nenhum movimento ou iniciativa havia
sido possível e ações isoladas que foram tentadas redundaram em fracasso,
algumas delas com amargas seqüelas entre as partes.
Impossível
relatar aqui todo o conjunto de planos, métodos, tecnologias, conceitos e
estratégias que foram empreendidas. Seria indispensável que fizéssemos registro
de todo o processo. Quero ficar com isto como uma dívida e quero poder
resgatá-la um dia com o apoio de parte dos profissionais que tiveram o
privilégio de estarem, tanto quanto eu, envolvidos em tão extraordinária
empreitada. Deixo aqui aberto o meu convite.
Todas as
instituições tiveram oportunidade ímpar de fazer profunda, abrangente e intensa
reflexão sobre todos os campos de resultados. Inúmeros esforços foram
despendidos em prol de uma revisão organizacional ampla e várias decisões foram
tomadas em benefício de melhores práticas de gestão. Diversas oportunidades de
discussão da propriedade, dos poderes de decisão, dos métodos de gerenciamento
técnico, administrativo e dos corpos clínicos. Dezenas de reuniões, negociações
e trabalhos compartilhados entre as instituições e os planos de saúde.
Mobilização geral para envolver o corpo clínico nas questões internas da
administração dos serviços. Centenas de horas investidas em construir um
glossário de termos a serem
universalizados dentro da Aliança para que se fizesse possível uma comunicação
mais fluída e transparente. Imensos esforços inenarráveis.
Ainda hoje
me perguntam o que aconteceu que a Aliança pela Qualidade e Excelência perdeu
fôlego antes de concluir o seu grande propósito: fazer um grande acordo de
interesses entre os acionistas dos hospitais, os planos de saúde, fornecedores
de equipamentos, laboratórios, empresas de serviços complementares diversos e
os médicos, que pudesse ter como resultado principal o melhor atendimento aos
seus clientes.
Reside ai
minha visão de fracasso: não fomos capazes o suficiente para atingir esse
grande e transformador acordo. Lembro-me bem de uma das últimas reuniões do
grupo de titulares (assim eram chamados os membros do Comitê estratégico da
Aliança, acionista ou o principal executivo da instituição participante).
Na
chegada ao local da reunião recebi o apoio de vários membros que pediram,
encarecidamente, que eu lutasse para que o projeto não esvaziasse. Eu senti que
minha capacidade havia se esgotado e que profundos interesses minavam a
possibilidade de êxito. Jamais vou me esquecer do que disse num momento crítico
da reunião: alguns de vocês, que são
médicos, sabem melhor do que eu que não há possibilidade de tratamento quando
está instalado no paciente o desejo de morte. Agradeci ao grupo pela oportunidade e me
despedi de todos em seguida.
Por outro
lado, tenho certo, todos saíram muito melhor do que entraram e aqueles que pós-processo
feneceram jamais poderão debitar à Aliança. Daí minha perspectiva de sucesso.
Tenho a
esperança que isto ainda seja possível. Inúmeros ganhos de resultados a todos
os envolvidos advirão daí e um, em especial, o melhor cuidado conosco enquanto
seres humanos que procuramos o serviço de saúde nos momentos de maior
expectativa em sermos bem acolhidos.
Até
breve.
Nome perfeito. Muito bom ! O blog está no meu FAVORITOS.
ResponderExcluirAbraço.
Nome perfeito. Muito bom ! o blog está no meu FAVORITOS.
ResponderExcluirAbraço. Maria Tereza
Após a leitura de hoje é certo que ninguem sai da mesma forma que entrou após o seus "conselhos".
ResponderExcluirTodos estes dirigentes lembraram de seu Fracesso.