sábado, 21 de maio de 2011

FRACESSO



Hoje vou relatar uma experiência da qual pude tirar lições distintas. Por um lado posso julgar como fracasso o investimento de centenas de horas dedicadas ao projeto, mas em outra perspectiva posso reconhecer que grandes e importantes transformações decorreram das atividades empreendidas ao longo de mais de dois anos de trabalho intenso. Daí a razão pela qual nomeei este post de FRACESSO. Misto de fracasso e sucesso.

SETOR: Saúde. NÚMERO DE INSTITUIÇÕES: 23 hospitais de Belo Horizonte, 21 do Estado da Bahia e 19 de Curitiba. FATURAMENTO: R$ 8,0 bi/ano. PROJETO: Aliança Estratégica para a Excelência. CONTRATAÇÃO: Acionistas. PROPRIEDADE: familiar, instituições filantrópicas, sociedade por cotas, fundações. GESTÃO: Imensa disparidade nos processos, sistemas, instalações, controles e procedimentos operacionais tanto na hotelaria quanto na prestação de serviços de atendimento à saúde. Grandes somas de prejuízos, setor absolutamente cindido, com alto nível de rejeição entre parceiros. Concorrência predatória grave com imensos reflexos na qualidade de propósitos das instituições. Distribuição inadequada de recursos estratégicos: talentos humanos, equipamentos e tecnologia. Baixíssimo comprometimento do corpo clínico. Pressão por melhores preços e qualidade dos serviços por parte dos administradores de planos de saúde. Abordagens e conceitos diversos entre as instituições com imensa dificuldade na troca de dados e informações.

Ao longo da minha vida jamais poderia imaginar que eu pudesse estar exposto ao conjunto de tantas variáveis simultâneas, de tamanha complexidade e de tão elevado impacto, pois o que estava em jogo era a vida humana. Agradeço por isto. Penso que construímos entre os membros da alta cúpula de todas as instituições envolvidas um pacto histórico. Até então nenhum movimento ou iniciativa havia sido possível e ações isoladas que foram tentadas redundaram em fracasso, algumas delas com amargas seqüelas entre as partes. 

Impossível relatar aqui todo o conjunto de planos, métodos, tecnologias, conceitos e estratégias que foram empreendidas. Seria indispensável que fizéssemos registro de todo o processo. Quero ficar com isto como uma dívida e quero poder resgatá-la um dia com o apoio de parte dos profissionais que tiveram o privilégio de estarem, tanto quanto eu, envolvidos em tão extraordinária empreitada. Deixo aqui aberto o meu convite.

Todas as instituições tiveram oportunidade ímpar de fazer profunda, abrangente e intensa reflexão sobre todos os campos de resultados. Inúmeros esforços foram despendidos em prol de uma revisão organizacional ampla e várias decisões foram tomadas em benefício de melhores práticas de gestão. Diversas oportunidades de discussão da propriedade, dos poderes de decisão, dos métodos de gerenciamento técnico, administrativo e dos corpos clínicos. Dezenas de reuniões, negociações e trabalhos compartilhados entre as instituições e os planos de saúde. Mobilização geral para envolver o corpo clínico nas questões internas da administração dos serviços. Centenas de horas investidas em construir um glossário de termos  a serem universalizados dentro da Aliança para que se fizesse possível uma comunicação mais fluída e transparente. Imensos esforços inenarráveis.

Ainda hoje me perguntam o que aconteceu que a Aliança pela Qualidade e Excelência perdeu fôlego antes de concluir o seu grande propósito: fazer um grande acordo de interesses entre os acionistas dos hospitais, os planos de saúde, fornecedores de equipamentos, laboratórios, empresas de serviços complementares diversos e os médicos, que pudesse ter como resultado principal o melhor atendimento aos seus clientes.

Reside ai minha visão de fracasso: não fomos capazes o suficiente para atingir esse grande e transformador acordo. Lembro-me bem de uma das últimas reuniões do grupo de titulares (assim eram chamados os membros do Comitê estratégico da Aliança, acionista ou o principal executivo da instituição participante). 

Na chegada ao local da reunião recebi o apoio de vários membros que pediram, encarecidamente, que eu lutasse para que o projeto não esvaziasse. Eu senti que minha capacidade havia se esgotado e que profundos interesses minavam a possibilidade de êxito. Jamais vou me esquecer do que disse num momento crítico da reunião: alguns de vocês, que são médicos, sabem melhor do que eu que não há possibilidade de tratamento quando está instalado no paciente o desejo de morte.  Agradeci ao grupo pela oportunidade e me despedi de todos em seguida.
   
Por outro lado, tenho certo, todos saíram muito melhor do que entraram e aqueles que pós-processo feneceram jamais poderão debitar à Aliança. Daí minha perspectiva de sucesso.

Tenho a esperança que isto ainda seja possível. Inúmeros ganhos de resultados a todos os envolvidos advirão daí e um, em especial, o melhor cuidado conosco enquanto seres humanos que procuramos o serviço de saúde nos momentos de maior expectativa em sermos bem acolhidos.


Até breve.

3 comentários:

  1. Nome perfeito. Muito bom ! O blog está no meu FAVORITOS.
    Abraço.

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  2. Nome perfeito. Muito bom ! o blog está no meu FAVORITOS.
    Abraço. Maria Tereza

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  3. Após a leitura de hoje é certo que ninguem sai da mesma forma que entrou após o seus "conselhos".
    Todos estes dirigentes lembraram de seu Fracesso.

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