Estive de
sexta-feira a domingo no Meeting Brasil,
promovido pela Consulting House de quem sou parceiro, no Hotel Jequitimar,
Guarujá-SP. O evento contemplou duas
palestras magnas, uma no início e outra no encerramento, e painéis dos quais
participaram cerca de duzentos e cinqüenta executivos presidentes, diretores e
dirigentes de empresas de grande porte de diferentes setores da economia. Os
temas nos painéis foram estruturados em Governança e Gestão, Finanças, Recursos
Humanos, Suply Chain, Vendas e Jurídico. Mediei os painéis de Governança e
Gestão e de Suply Chain.
No painel
de Governança e Gestão foram apontadas três questões centrais: a quem compete o
desenvolvimento de líderes (a academia, a consultorias ou a própria organização
através de universidades corporativas)? A alegação de vários presidentes é de
que há um grande distanciamento tanto da academia quanto
da consultoria do mundo real das organizações. E na medida em que cada
organização deve buscar sua identidade, cabe a ela promover o desenvolvimento
de seus líderes. (Eu disse, o evento contemplou organizações de porte). Outra
questão levantada é de como exercer Controle, aqui no sentido amplo e uma das
atribuições da governança, num ambiente absolutamente aberto em que podemos
considerar a realidade como caórdica, um
misto permanente de caos e ordem, ordem e caos. Uma terceira e última questão
foi apontada a relação de poder entre os acionistas e/ou seus representantes
legais, via Conselhos, Comitês, etc., e os diretores executivos da organização.
Nessa questão foi muito comentada a manchete dos jornais americanos quando da
crise de 2008: onde estavam os Conselhos?
No painel
de Suply Chain, participaram os executivos de três organizações: uma do setor
automobilístico, uma do setor de alimentação e a terceira do setor de higiene,
cosméticos. As três faturam juntas, por ano, perto de R$35 bilhões e importam e
exportam entre 4.000 e 6000 itens cada. Suply Chain é a gestão da cadeia de
fornecimento. A competição global não acontece entre empresas, mas entre
cadeias de fornecimento. A gestão da logística e do fluxo de informações em
toda a cadeia permite aos executivos avaliar pontos fortes e pontos fracos na
sua cadeia de fornecimento, auxiliando a tomada de decisões que resultam na
otimização de recursos alocados, aumento da qualidade, gerando competitividade
ou criando valor e diferenciais em relação à concorrência. Como resultado do
painel, mais uma vez pela expressão dos que dele participaram, foi constituído
um grupo para articular as diferentes iniciativas, associações e congêneres que
se ocupam da estratégia envolvendo o Suply Chain para um melhor equacionamento
a nível Brasil das questões relacionadas à infra-estrutura (portos, aeroportos,
ferrovias e estradas); aos marcos regulatórios e a sistemas de TI disponíveis
do mercado global. Apenas como destaque: um dos participantes, Vice-Presidente
de Suply Chain de uma companhia vinícola chilena, discorreu sobre quão é
difícil operar no Brasil, queixando do processo que envolve a colocação manual
em todas as garrafas de um selinho da fiscalização, um por um (lembro que são
milhões de garrafas importadas e exportadas por ano). Ao que o VP da empresa de
alimentação rebateu: mato oito milhões de frango por dia e exporto para o mundo
muçulmano. Um dos participantes disse que para ser Suply Chain em organizações
do porte como a deles somente dentro de duas categorias: sendo louco ou
portador de uma inabalável fé. Bacanas, os caras.
Para mim
as duas palestras magnas foram o ponto alto do nosso encontro. A primeira de
Mário Sérgio Cortela, educador e filósofo da USP. Duas questões de fundo
permearam a sua fala conclamando a todos para uma reflexão: o que
posso fazer para não ter uma vida fútil, superficial, banal e indecente? E
a outra: sei que é legítimo, mas me convém? Para exemplificar essa
questão lembrou o jogador da seleção de futebol da França, que marcou o
gol de classificação do seu time para a Copa do Mundo de 2008. O gol foi
considerado legal pelo árbitro da partida, mas valeu? A França foi humilhada no
torneio e coube até processos envolvendo os que participaram da delegação. Nem
tudo que é legítimo me convém.
O
encerramento coube a Clovis de Barros Filho, também filósofo, da USP e que vem
sendo disputado pelo mundo corporativo para dar palestras, também sobre ética.
Brilhante o Clóvis. Clóvis nos trouxe a questão: BEM ESTAR ou ESTAR BEM?
QUALIDADE DE VIDA ou VIDA DE QUALIDADE?
Para tratar do tema disse que a botânica sabe hoje mais sobre samambaias
do que há 30 anos, mas sobre a vida sabemos o mesmo que em 400 a. C. Trouxe o
amor e o classificou em três grandes pensadores: o primeiro Platão, para quem o
amor é EROS, o desejo do que me falta. Amo o que não tenho, o que tenho a
conquistar. O segundo Aristóteles, o amor é FILIA, a alegria. Amo o que me traz
alegria. Nos dois primeiros o sujeito é aquele que ama e que nestes dois tipos
de amor há convergência, complementação. Amo o que desejo e o que me dá
alegria. Há, ainda, um terceiro tipo de amor, ÁGAPE: o que foi pensado e
praticado por Jesus Cristo. Sem revestir o personagem da questão religiosa, o
pensador nos trouxe o amor ao outro, e aqui o sujeito não é aquele que ama, mas
aquele que é amado.
Mais do que uma jogo de palavras Clóvis nos convida a
refletir sobre o que desejamos, o que nos traz alegria e quanto consideramos o
outro, pois poderá estar ai o nosso estar bem e nossa vida de qualidade.
Embora a
filosofia seja considerada um bem inútil tanto Cortela quanto
Clóvis têm dado uma inestimável contribuição ao ambiente de negócios. Vale à
pena pensar.
Até breve.
Tenho dificuldade ainda de entender como ser um profissional apto para grandes organizações, pois entendo que ter "Ética" corporativa é ser um pouco louco com uma fé inabalável com uma busca incessante de um imaginário bem estar e vida de qualidade.
ResponderExcluirTenho me abidicado desta "etica" nos ultimos dias.
Agulhô enquanto você trascende nesse blog, eu Aristotelicamente o abro e de forma platônica estou aprendendo muito com seus textos.
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